Hugo Silva, in Jornal de Notícias
Afileira de vivendas numa das ruas da Urbanização do Lidador, bem na fronteira das freguesias de Moreira e de Vila Nova da Telha, na Maia, é subitamente interrompida de um lado, as ruínas de uma construção inacabada; do outro, as barracas que acolhem uma comunidade cigana, que "há mais de 40 anos" espera por realojamento. "Não temos luz, não temos quarto-de-banho, enfim, não temos condições nenhumas. Não temos direito a casa por sermos ciganos?", desabafa Adelino Rossio, 19 anos, porta-voz do desalento da comunidade. Diz que a Câmara prometeu o realojamento, mas nunca cumpriu. Já fizeram uma manifestação, já escreveram ao presidente da República, mas a situação continua por resolver.
O problema pode agudizar-se, uma vez que as barracas estão a ocupar três terrenos privados e os donos das parcelas também querem ver a situação desbloqueada. Luciano Moreira, um dos proprietários, garante que há vários anos recebeu uma garantia de resolução por parte do anterior presidente da autarquia, Vieira de Carvalho, e lamenta que o processo não avance. Luciano Moreira garante que quer ver o problema resolvido, mas refere, também, que não pretende ver a comunidade despejada e sem alternativa.
Mas o facto, segundo o Gabinete de Imprensa da Câmara da Maia, é que os proprietários também estarão a contribuir para o arrastar da situação. "Oferecemos 200 mil euros pelos terrenos, para ali construirmos habitações de raiz para a comunidade. Mas os proprietários exigiram mais dinheiro, uma soma que a autarquia considerou demasiado elevada", explicou, ao JN, fonte do Gabinete de Imprensa.
Entretanto, as famílias continuam à espera da solução. "Tenho um filho de quatro meses que está doente por causa da humidade", lamentou Rui Rossio, apontando o pequeno Adriano.
As queixas multiplicam-se no Inverno, os telhados improvisados não aguentam a chuva; os ratos abundam, mesmo dentro das barracas; sem instalações sanitárias, os escombros em frente ao acampamento transformam-se em quarto-de-banho. "Mudaram do comboio para o metro. Mudaram o escudo para o euro. Só nós não mudamos porquê?Estamos recenseados aqui. Também somos maiatos. Só queremos uma casa em condições", afirmou Adelino Rossio.