19.4.07

Comunidade cigana espera casa há mais de 40 anos

Hugo Silva, in Jornal de Notícias

Afileira de vivendas numa das ruas da Urbanização do Lidador, bem na fronteira das freguesias de Moreira e de Vila Nova da Telha, na Maia, é subitamente interrompida de um lado, as ruínas de uma construção inacabada; do outro, as barracas que acolhem uma comunidade cigana, que "há mais de 40 anos" espera por realojamento. "Não temos luz, não temos quarto-de-banho, enfim, não temos condições nenhumas. Não temos direito a casa por sermos ciganos?", desabafa Adelino Rossio, 19 anos, porta-voz do desalento da comunidade. Diz que a Câmara prometeu o realojamento, mas nunca cumpriu. Já fizeram uma manifestação, já escreveram ao presidente da República, mas a situação continua por resolver.

O problema pode agudizar-se, uma vez que as barracas estão a ocupar três terrenos privados e os donos das parcelas também querem ver a situação desbloqueada. Luciano Moreira, um dos proprietários, garante que há vários anos recebeu uma garantia de resolução por parte do anterior presidente da autarquia, Vieira de Carvalho, e lamenta que o processo não avance. Luciano Moreira garante que quer ver o problema resolvido, mas refere, também, que não pretende ver a comunidade despejada e sem alternativa.

Mas o facto, segundo o Gabinete de Imprensa da Câmara da Maia, é que os proprietários também estarão a contribuir para o arrastar da situação. "Oferecemos 200 mil euros pelos terrenos, para ali construirmos habitações de raiz para a comunidade. Mas os proprietários exigiram mais dinheiro, uma soma que a autarquia considerou demasiado elevada", explicou, ao JN, fonte do Gabinete de Imprensa.

Entretanto, as famílias continuam à espera da solução. "Tenho um filho de quatro meses que está doente por causa da humidade", lamentou Rui Rossio, apontando o pequeno Adriano.

As queixas multiplicam-se no Inverno, os telhados improvisados não aguentam a chuva; os ratos abundam, mesmo dentro das barracas; sem instalações sanitárias, os escombros em frente ao acampamento transformam-se em quarto-de-banho. "Mudaram do comboio para o metro. Mudaram o escudo para o euro. Só nós não mudamos porquê?Estamos recenseados aqui. Também somos maiatos. Só queremos uma casa em condições", afirmou Adelino Rossio.