16.4.07

Esperar por casa nova entre ratos e cobras

Teresa Salvado, Jornalista da Agência Lusa, in Jornal de Notícias

No meio das barracas, onde as ruas de lama, o mau cheiro, o lixo e as ratazanas fazem parte do dia-a-dia, vivem milhares de pessoas que desesperam há anos por uma casa. É assim a vida no Bairro da Torre, Quinta da Serra e Quinta da Vitória, Loures.

Nestes três bairros de barracas, as pessoas sobrevivem há décadas em condições de grande degradação e desesperam pela casa prometida no âmbito do Plano Especial de Realojamento (PER), que entretanto atraiu para aquelas zonas indivíduos que não estão abrangidas pelo programa. Nos três bairros, a maioria das pessoas espera, desde 1993, por uma casa em troca da barraca onde vivem, muitas desde o fim da década de 70.

Neste bairro, onde vivem cerca de 1.500 pessoas, a Câmara de Loures prevê que o PER chegue às 80 famílias que estão inscritas. Na Torre estão famílias vindas há algumas décadas da zona do aeroporto de Lisboa, que acusam os vizinhos ciganos, que se instalaram mais recentemente, de estragar o bom ambiente .

Na zona mais alta do bairro instalaram-se as famílias de etnia cigana, que reclamam pela falta de água e pelo excesso de cobras e ratos com os quais coabitam e que já chegaram a morder algumas crianças. Nesta zona do bairro as etnias e as culturas são diferentes, mas os problemas são muito parecidos.

Depois de uma manhã no Bairro da Torre, a Lusa foi até à Quinta da Serra, no Prior Velho. A diferença destes dois bairros está na origem das pessoas que lá habitam, na sua maioria cabo-verdianas. As condições são idênticas muito lixo, muita miséria... Antes do final dos anos 70 este espaço pertencia a uma quinta onde as crianças do Prior Velho jogavam à bola.

O PER deverá realojar aqui 231 famílias - ao todo vivem na Serra cerca de 1.300 pessoas.

Daqui para a Quinta da Vitória, Portela, onde o PER já realojou 100 famílias em 2005 e 68 em 2006. Estão ainda por realojar 177, depois o bairro será demolido e surgirão mais alguns prédios. Neste momento vivem no bairro perto de três mil pessoas. Neste caso a convivência entre indianos, africanos e portugueses não é pacífica. Prova disso são as marcas de balas nos estores dos prédios circundantes e nas portas das casas do bairro.