in Jornal Público
O relatório do IPCC analisa os efeitos do aquecimento global nas várias regiões, o que permite calcular quais as zonas que podem ganhar, pelo menos numa primeira fase, e as que ficarão a perder. África e Ásia podem ser os continentes que mais vão sofrer, em especial as suas crianças: na próxima década, 175 milhões de crianças podem sofrer o impacte da seca, da fome, das doenças e dos fenómenos meteorológicos extremos relacionados com as alterações climáticas, diz a organização Save the Children.
As zonas habitáveis podem reduzir-se bastante, disse Stephen Schneider, da Universidade de Stanford (EUA), um dos cientistas que contribuiu para o relatório. "É mau ser pobre num país quente, viver num corredor de furacões no Árctico ou numa zona costeira, e também é má ideia viver na montanha, ou onde houver glaciares a derreter", disse ao San Francisco Chronicle.
Há algumas vantagens no aquecimento, sobretudo nas nações mais ricas, que são as maiores emissoras de gases com efeito de estufa, mas ficam nas regiões temperadas do planeta: as colheitas na Europa do Norte podem tornar-se mais produtivas, desde que a temperatura média não suba mais que três graus. Mas no Sul, a seca e as ondas de calor vão intensificar-se. Na América do Norte, os impactes também divergem consoante a região.
Nos países mais quentes, ao longo da linha do Equador, a seca será cada vez mais um problema. Em alguns países africanos, as colheitas podem reduzir-se em 2020 para metade dos valores actuais, agravando a subnutrição. Os lagos e rios também vão secar, e os corais morrer, o que afectará as pescas. Por tudo isto, "África é um dos continentes mais vulneráveis", diz o relatório.
A floresta tropical da Amazónia pode transformar-se numa savana, enquanto os gelos do Árctico serão conquistados pela tundra e pela floresta. Na Ásia, com as suas cidades gigantes, há imensas hipóteses de catástrofe: inundações devido ao derreter dos glaciares e à subida do nível do mar são muito prováveis, com as consequentes diminuições nas colheitas, que trarão a fome, e doenças como a malária. C.B.
175 milhões de crianças podem sofrer com as alterações climáticas na próxima década, diz a Save the Children