Denisa Sousa, in Jornal de Notícias
A pobreza pode minar os sonhos. Sobretudo as ambições profissionais. Mas há quem não se detenha por isso. Todos os anos, um sem número de estudantes ingressa no ensino superior, sem meios para suportar as despesas mensais. As bolsas não chegam para arredar as carências do caminho. A Cáritas de Braga tem-se juntado a esta cruzada, ajudando os alunos como pode, em géneros alimentares e até alojamento. Desde portugueses a estudantes dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), os pedidos de apoio são muitos e não param de aumentar.
Actualmente, segundo o vice- presidente da instituição bracarense, João Nogueira, estão a ser apoiados, continuamente, 14 estudantes, de universidades, públicas e privadas, e escolas profissionais. "Não temos capacidade para mais", assevera. Por contabilizar ficam os apoios esporádicos, que surgem, tantas vezes, encaminhados pelos próprios Serviços Sociais da Universidade do Minho (UM), com a qual se firmou um protocolo.
A lista de espera avoluma-se. "O número de pedidos aumenta a cada ano. E muito. O ensino superior e o custo de vida estão cada vez mais caros", sublinha. O grupo "fixo" divide-se entre os apoios possíveis. Mensalmente, os estudantes vão buscar massa, arroz, leite, enlatados e bolachas. "Podem querer cozinhar, mesmo que estejam nas residências universitárias e comam na cantina", esclarece-se.
Alguns, que tiveram a sorte de arranjar lugar entre as 1457 camas das residências universitárias da UM, não conseguem sequer fazer face ao valor mensal da estadia, cujo preço para os não bolseiros, dependendo do pólo e do edifício, varia entre os 57 e os 95 euros (acrescido de 30% nos quartos individuais). Quando se trata de um quarto num apartamento, tudo piora. Há também situações de alunos que estudam na Universidade Católica.
"Quando podemos, também pagamos uma ou outra mensalidade de alojamento ou uma ou outra propina", acrescenta João Nogueira, relembrando que as propinas de 920 euros, mesmo faseadamente, custam a pagar para quem não tem viabilidade económica para tal.
Dependendo dos casos, a Cáritas também paga as senhas das cantinas universitárias. Em média, contabilizando 22 dias úteis de almoços e jantares, o estudante da UM desembolsa cerca de 86 euros mensais, fora outras despesas alimentares quotidianas.
Os refeitórios da instituição têm, por isso, aberto portas para acabar com a fome de alguns. Ali misturam-se sonhos desfeitos com esperanças. Passado e futuro. A Cáritas acredita que, ajudando na caminhada, pode, indirectamente, ajudar a família dos estudantes. "Pode ser a via para tirar o pai, a mãe, o irmão de um estado de pobreza permanente".