Ricardo Garcia, in Jornal Público
Os cenários do IPCC para a Europa revelam grandes diferenças nos impactos das alterações climáticas, conforme as regiões do continente. As maiores divisões estão entre o que se antecipa para o Norte e para o Sul.
Por exemplo, a temperatura média na Europa vai certamente aumentar: entre 1,0ºC e 4,0ºC, numa projecção mais optimista; ou entre 2,5ºC e 5,5ºC, num cenário pessimista. No Norte da Europa, esta subida do ocorrerá sobretudo no Inverno, com uma consequência energética positiva: haverá menos necessidade de aquecimento nos edifícios. Já no Sul, é no Verão que se espera maior aumento das temperaturas, com a consequência inversa: mais recurso aos aparelhos de ar condicionado.
Uma série de impactos positivos estão reservados para o Norte. Entre eles, o aumento na produção agrícola e a expansão das áreas florestais. No Sul, prevê-se o contrário.
A capacidade produção eléctrica a partir de barragens também tem uma clara divisão Norte-Sul. A razão é simples. Os cenários climáticos para a Europa apontam para mais precipitação anual no Norte e menos no Sul.
No continente como um todo, antecipa-se um possível declínio de seis por cento no potencial hidroeléctrico até 2070. Mas é o Sul que sofrerá mais, com uma quebra de 20 a 50 por cento. No Norte, o que se espera é um aumento do potencial, entre 15 a 30 por cento.
A disparidade dos efeitos sobre as chuvas vai acentuar as diferenças nos rios. Os caudais poderão subir entre nove a 22 por cento, até 2070, no Norte, aumentando o risco de cheias. Mas, no Sul, cairão seis a 36 por cento, acumulando efeitos com o incremento das secas, que serão mais frequentes, ocorrerão mais cedo e durarão mais tempo.
Na avaliação regional, as regiões montanhosas surgem como especialmente sensíveis, em particular no campo da biodiversidade. Animais e plantas que precisam de muito frio simplesmente não terão para onde migrar. Nos cenários climáticos mais desfavoráveis, estima-se que possa haver perdas de 60 por centos nas espécies alpinas.