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Em Portugal, há idosos que dão uma queda em casa e ficam 50 dias abandonados num hospital ou então são deixados nas unidades de saúde porque a família vai ver um jogo de futebol.
Esta é uma realidade que não tem estatísticas, apenas relatos de casos, que acontecem sobretudo na faixa Litoral e nos grandes centros urbanos do país.
O Padre Lino Maia, presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade, revela que cada vez mais estão a receber pedidos de ajuda para lidar com esta realidade. “Há famílias que colocam os seus idosos nos hospitais já quase no sentido de os despachar, depois os hospitais que se desenrasquem quanto ao futuro deles. Nesses casos têm havido contactos da parte dos hospitais com instituições com lares para acolherem os idosos”.
“Isto revela algum alheamento e egoísmo da parte das famílias e mostra, de facto, que os idosos são uma população que precisa de maior atendimento e cuidado”, sublinha.
Segundo o mesmo responsável, estes casos acontecem sobretudo em famílias com menores dificuldades financeiras.
Pedro Nunes, bastonário da Ordem dos Médicos, diz que os clínicos estão a ser pressionados pelas administrações dos hospitais para gastar menos e para libertar as camas que os idosos estão a ocupar.
Por seu lado, Edmundo Martinho, presidente do Instituto de Segurança Social, diz que é sempre tentada uma resposta rápida, recusando uma realidade de dimensões alarmantes. “Aquilo que acontece normalmente é que quando há um caso desses sinalizado (…) nós procuramos com toda a rapidez encontrar uma solução. É preciso compreender que os nossos lares, de uma forma geral têm a lotação completa, e nem sempre é possível acorrer de imediato a uma situação que não é programável, o que nos obriga a fazer pesquisa e a tentar encontrar na Rede Solidária uma solução”.
Para a deputada socialista Maria de Belém Roseira, devem ser “aperfeiçoadas as políticas fiscais” no sentido de apoiar os agregados que decidem cuidar, em casa, dos seus familiares mais idosos.
O problema - explica a antiga ministra da saúde - é a falta de capacidade financeira do Estado para aumentar este tipo de incentivos.
Contudo, a socialista lembra que o abandono de idosos nos hospitais não decorre apenas das condições económicas difíceis das famílias, mas de uma deterioração na solidariedade entre gerações.