Rosa Soares, in Jornal Público
Organização defende que há espaço para corte de taxas de juro na zona euro. Crescimento das economias da moeda única só depois da segunda metade de 2010
Angel Gurria, secretário-geral da OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico, afirmou ontem que "o pior está para vir", referindo-se a uma "desaceleração mais forte" no crescimento económico do conjunto de países da moeda única. Gurria falava numa conferência de imprensa de apresentação do relatório sobre a zona euro, onde se refere que o crescimento destas economias vai continuar negativo na primeira metade de 2009.
Segundo a OCDE, a zona euro, que deve ter crescido um por cento em 2008, vai contrair-se em 0,6 por cento em 2009. As boas notícias devem chegar apenas em meados de 2010, defendendo Gurria que só nessa altura os países da moeda única conseguirão crescer acima do seu potencial, atingindo um incremento anualizado de 1,2 por cento.
O relatório refere que um cenário de deflação na zona euro é pouco provável, defendendo que as previsões de evolução dos preços "estão bem ancoradas", o que abre espaço para novos cortes nas taxas de juro centrais. O documento sustenta, também, que as condições de acesso ao crédito se agravaram para o sector privado, considerando, no entanto, que ainda não se verifica na Europa a forte contracção de crédito que acontece nos Estados Unidos.
Apesar de considerar que os riscos inflacionários não desapareceram totalmente, a instituição defende que poderá haver necessidade de "novos alívios" na política monetária. Mas salvaguarda que "existe uma dose invulgar de incerteza em torno do cenário económico", devendo o responsável da política monetária, ou seja, o Banco Central Europeu, estar pronto para reagir "caso as expectativas de inflação de longo prazo deixem de estar ancoradas".
O relatório da OCDE foi divulgado um dia antes da reunião do Banco Central Europeu, que deverá aprovar hoje mais um corte de taxas - muitos analistas apontam para 50 pontos base, colocando a taxa directora nos dois por cento.
De acordo com o relatório da OCDE, a inflação na eurolândia atingiu os 4,0 por cento no Verão de 2008, caiu para 1,6 por cento no final do ano, e a organização prevê agora 1,4 por cento para 2009 e 1,3 por cento para 2010.
Segundo o relatório ontem apresentado, a descida dos preços ao longo de 2009, a melhoria dos mercados financeiros e os efeitos dos pacotes de estímulo adoptados pelos Governos deverão ajudar a impulsionar uma "eventual expansão" da economia.
A OCDE admite que a dimensão e a duração da recessão podem ser limitadas se as medidas de alívio fiscal discutidas pela Comissão Europeia forem concretizadas pelos países. Mas alerta que as autoridades, nas medidas de emergência de curto prazo, devem evitar comprometer os objectivos de longo prazo, nomeadamente de sustentabilidade das finanças públicas.