Gonçalo Amaral,in Correio da Manhã
Na actual crise houve já quem viesse apontar os seus efeitos nocivos como potenciadores de criminalidade. Não serão os ricos a contribuir para as estatísticas criminais mas sim os pobres, porque, segundo essas teorias, quanto mais pobre, mais gatuno.
Esquecem-se de que esta crise provém de atitudes de banqueiros e maus investidores, homens ricos. Não foram os pobres os responsáveis mas são estes que sofrem e que se tornarão criminosos. Em vez de se entrar nesta lógica de cordel, devíamos pensar na razão da pobreza, por que somos pobres e o que fazer para terminá-la. Não é com os milhões dados aos bancos que se termina com a pobreza. Também não o será com uma política popular de subsídios. Recordo-me daqueles fornecidos aos pescadores para abate de embarcações, aquando da adesão à CEE. Ficámos sem barcos e sem pescado.
E o que aconteceu a esses pescadores? Tornaram-se pobres mas não engrossaram as estatísticas criminais. Só que a crise das pescas se tornou eterna e alguns dos mais novos, sem saídas profissionais e esperança, engrossaram redes de tráfico de drogas.
Daqui pode concluir-se que a crise não nos torna, automaticamente, criminosos mas perdurando no tempo nos pode tornar prestadores de serviços.