Helena Norte, in Jornal de Notícias
A primeira campanha do Banco Alimentar de Lisboa decorreu em Junho de 1992. Ana Clara de Bragança foi desafiada por uma amiga a participar e lá foi para a porta de um supermercado tentar recolher produtos alimentares. Apanhou com grandes doses de desconfiança, mas não desmoralizou. E hoje, aos 75 anos, continua voluntária.
"As pessoas não sabiam o que era. Pensavam que era uma aldrabice. Tínhamos de dar muitas explicações", recorda. Se a desconfiança era grande, a persistência dos voluntários era maior. Nesse ano, foram angariados 220 quilogramas de alimentos distribuídos por 45 instituições sociais, que apoiaram 15 mil pessoas.
"Éramos poucos, tínhamos de fazer tudo, desde o trabalho de escritório ao de armazém. Era preciso fazer muitos contactos, recolher os alimentos, guardá-los, fazer as caixas para as instituições, participar nas campanhas. Na altura, nunca pensei que fosse ganhar esta dimensão", conta Ana Clara Bragança.
Quando se reformou do emprego de secretária, resolveu doar mais tempo ao Banco Alimentar. Passou a colaborar todas as manhãs no trabalho de armazém. A sua função é fazer as boxes (caixas) que as instituições vão buscar, duas vezes por semana às instalações de Alcântara.
É preciso compor as caixas com os bens a que cada instituição tem direito, calculados em função da actividade assistencial, e pesar no fim, para que tudo bata certo. "Com a minha idade, ainda consigo pegar em produtos pesados. Aliás, são os mais velhos quem trabalha mais. Os novos estão sempre com dores nas costas", graceja.
Dos 20 anos de trabalho voluntário, Ana Clara faz um balanço muito simples: "Recebi muito mais do que dei. Ajudar os outros faz-nos muito bem, tanto moral como fisicamente".