24.1.11

Nasceu há 20 anos o banco que alimenta 285 mil pessoas

Helena Norte, in Jornal de Notícias

No princípio, era uma visão. E da visão nasceu uma obra que movimenta, durante as campanhas, mais de 33 mil voluntários em todo o país. Distribui todos os dias 92 toneladas de alimentos. O maior movimento da sociedade civil portuguesa nasceu há 20 anos.

José Vaz Pinto lembra-se bem do dia em o Banco Alimentar germinou na sua mente. Viu um anúncio numa revista francesa e soube que tinha de criar em Portugal algo semelhante. Há anos, tinha vendido as empresas para se dedicar a ajudar o próximo e, por isso, não perdeu tempo. Contactou os responsáveis pelo banco de Paris, foi lá aprender sobre um conceito inovador à época e tratou de arranjar, em Lisboa, um grupo de amigos para criar cá uma instituição destinada a fazer chegar alimentos a quem precisa. Faz hoje 20 anos, foi formalmente constituído o Banco Alimentar contra a Fome de Lisboa, o primeiro dos 18 que agora existem.

O grupo de voluntários começou a reunir-se numa sala cedida pelo Centro Universitário Padre António Vieira. Foi lá que se começou a montar a estrutura, a contactar instituições e voluntários, a organizar a primeira campanha de recolha de alimentos, que decorreu no Verão de 1992, recorda Helena André, uma das pioneiras deste movimento, agora está ligada a outra instituição criada no seio do Banco Alimentar, a Entrajuda. O espaço rapidamente se tornou exíguo e foi necessário arranjar um armazém, em Alcântara, para guardar os bens alimentares.

"Tinha a visão de que poderia ser algo grandioso. Tivemos muito cuidado na expansão. Andei por todo o país a fazer palestras e foram surgindo outros bancos. A seguir ao de Lisboa, foi criado o do Porto", conta Vaz Pinto.

Aquela que se tornou a cara do Banco Alimentar, Isabel Jonet, juntou-se em 1993. Era preciso sangue novo, diz Vaz Pinto, que não poupa elogios ao empreendorismo da sucessora. O cunho de Jonet foi dotar uma organização do terceiro sector de gestão de modelo empresarial. O que significa grande rigor nas contas, que são auditadas por uma entidade externa, e elevado nível de comprometimento por parte dos voluntários, explica a presidente da Federação Portuguesa dos Bancos Alimentares Contra a Fome.

Embora autónomos, os diversos bancos partilham um modelo de gestão e de funcionamento, assente numa rede capilar de voluntários e em regras de apoio bem definidas. As duas campanhas anuais de recolha de alimentos são a face mais conhecida da organização, mas todos os dias há recolha e distribuição de produtos. O combate ao desperdício é, na opinião do presidente da Rede Europeia Anti-Pobreza, uma das vertentes mais positivas do trabalho dos bancos alimentares. Para o padre Jardim Moreira, trata-se de uma "obra ímpar" que criou uma nova cultura de voluntariado e de partilha em Portugal.