28.1.11

Professor universitário não acredita que reduzir indemnizações ajude a criar emprego

in Jornal de Notícias

O professor da Universidade de Évora Soumodip Sarkar disse hoje, sexta-feira, não acreditar que a proposta do Governo para reduzir as indemnizações por despedimento ajude a criar emprego, contrapondo que falta maior agressividade das empresas portuguesas.

Questionado pela Agência Lusa sobre se a medida, a avançar, vai ajudar a relançar a economia e a criar emprego, Soumodip Sarkar, especialista internacional em empreendedorismo e inovação, foi peremptório: "Não, não acho".

"O Estado está a fazer isso [a propor diminuir valor das indemnizações] porque não tem dinheiro. É uma forma de passar a responsabilidade social para as empresas", frisou.

O professor universitário, que integra o Departamento de Gestão e dirige o Instituto de Investigação e Formação Avançada (IIFA) da academia alentejana, admitiu, contudo, compreender a intenção do Governo.

"Também percebo porque é o Estado o faz, porque realmente estamos na pior altura para continuar com o sistema de segurança que nós temos, de uma forma geral", argumentou o docente, natural da Índia.

E, questionado sobre o facto de a proposta governamental visar apenas a aplicação aos novos contratos, o especialista explicou que, em Portugal, a tendência é para agravar as dificuldades a quem entra no mercado laboral.

"Portugal tem, no mínimo, duas classes. Os que já têm emprego e os que não têm. E esta fronteira está a ficar mais rígida e os que entram mais tarde [no mercado de trabalho] vão ficar com muitas desvantagens, face aos que entraram há cinco ou 10 anos atrás", afirmou.

Autor de vários livros, um deles intitulado "Empreendedorismo e Inovação", Soumodip Sarkar defende que "não há uma solução simples" que favoreça a criação de emprego em Portugal, mas "há algumas coisas que faltam", nomeadamente por parte das empresas nacionais.

"Em muitas empresas grandes que conheço, há falta de 'fome', de uma certa agressividade, no bom sentido", para "irem a outros países e conquistarem mercados", assegurou.

Uma tarefa que "não é fácil", reconheceu. Mas é preciso olhar para os empresários que correram esse risco: "Os que têm maior sucesso são os que tiveram sucesso em conquistar novos mercados".

Essa ausência de "fome", acrescentou, também afecta as empresas familiares, às quais, além disso, falta "boa gestão", pois, "muitos funcionários e empresários não têm muitas qualificações".

Os problemas económicos de Portugal, defendeu, não são muito diferentes dos de outros países europeus, mas são agravados pela reduzida dimensão das empresas nacionais e por não existir uma "cultura de empreendedorismo", ou seja de "querer e tentar fazer".