25.1.11

Câmbio não justifica alta do preço dos combustíveis

por Ilídia Pinto, in Diário de Notícias

Crude representa apenas um terço do custo final, garante especialista, que dá o exemplo da libra que desvalorizou 24% e do mercado inglês em que os preços "não aumentaram tanto".

Um cêntimo por litro. A 24 de Janeiro, quatro semanas depois do início do ano, surgiu a primeira descida de preços, no valor de um cêntimo, quer no gasóleo quer na gasolina. A gasolina 95 nos postos Galp, que actualiza os seus preços semanalmente às zero horas de segunda-feira, passou, assim, a custar, em média, 1,523 euros por litro, e o gasóleo 1,338 euros. Também a Cepsa ajustou os preços, que desceram 1,4 cêntimos na gasolina e 0,9 cêntimos no gasóleo, passando, agora, a cobrar 1,519 euros e 1,339 euros, respectivamente.

A BP, adiantou ao Económico que baixa hoje ambos os combustíveis em um cêntimo. A gasolina passará a custar, em média, 1,529 euros e o gasóleo 1,339 euros por litro. A Repsol não deu indicações, mas segundo o site da Direcção- -Geral de Energia e Geologia, a actualização foi feita ontem e os preços médios da gasolina são de 1,533 euros e do gasóleo de 1,348 euros.

Tendo por base os preços médios disponibilizados pela Direcção-Geral de Energia e Geologia, o gasóleo já encareceu mais de 4% desde o início do ano e a gasolina cerca de 2%. No entanto, comparativamente aos preços a 1 de Janeiro de 2010, o agravamento é já superior a 25% no gasóleo e a 16% na gasolina.

O que já levou as transportadoras a pressionar o Governo no sentido de serem tomadas medidas para minimizar os efeitos nos custos das empresas. O Executivo já aceitou algumas medidas de menor impacto no OE, mas no que ao gasóleo profissional diz respeito - uma isenção fiscal parcial para as empresas de transportes -, anunciou que ia fazer um estudo comparativo com a Europa.

O presidente da Associação Nacional dos Transportadores Rodoviários de Pesados de Passageiros, Luís Cabaço Martins sublinhou ao DN que o "estudo está feito". Foi realizado em 2008 pela então Direcção-Geral de Transportes Terrestres, quando o processo legislativo para a implementação do gasóleo profissional foi preparado. "Faltou assinar os diplomas, estamos a aguardar um desenvolvimento relativamente rápido da situação", diz. Até porque, reconhece, as empresas "não estão em condições de poder esperar muito mais tempo", pelo que a solução, para chegar em tempo útil, tem de chegar "nas próximas semanas".

Já o especialista em combustíveis Agostinho Pereira de Miranda, considera que o problema de Portugal é de "falta de transparência, de concorrência e de regulação", questões levantadas pelo relatório da Autoridade da Concorrência, de Março de 2010, salienta o jurista. Este responsável recusa as explicações avançadas pelas petrolíferas para explicar a formação de preços. "Estamos com preços-recorde tanto na gasolina e no gasóleo quando o crude não o justificaria, pois está 52% mais barato do que no Verão de 2008", diz. E sublinha: "As petrolíferas invocam o efeito do câmbio do euro, que desvalorizou 16% face ao dólar, mas o petróleo só significa cerca de um terço do custo final do combustível. Os outros dois terços são impostos e custos de transporte e armazenamento, nos quais a desvalorização do euro não tem qual- quer impacto". Logo, acrescenta, esta justificação é "um terço verdade e dois terços mentira".

Agostinho Pereira de Miranda faz o paralelo entre Portugal e o mercado do Reino Unido. "A libra desvalorizou 24% e, no entanto, os preços dos combustíveis em Inglaterra não aumentaram tanto como aumentaram em Portugal."