Marta Neves, in Jornal de Notícias
Um casal e quatro filhos, entre os dois e os 12 anos, vivem numa casa do bairro do Cerco, no Porto, impregnada de bolor. Situação da família é "desesperante", uma vez que o pai sofre de um tumor num pulmão. As crianças e a mãe estão a domir na sala.
Vivem no bairro do Cerco desde Agosto, mas nunca pensaram que em apenas cinco meses tivessem de lidar com problemas de humidade. As paredes da casa, onde vivem Maria Helena, o marido, Mário Augusto, e os quatro filhos, estão cheias de bolor. Bolhas pretas que vão ganhando dimensão nos exíguos espaços da habitação social , transformando o ar irrespirável.
Desde que no Verão passado a DomusSocial arranjou um T4 para esta família (pagando 33 euros de renda), Mário Augusto, 45 anos, que há um ano lhe foi detectado um tumor no pulmão, já foi internado duas vezes. No final da semana passada, depois de um tratamento de quimioteria, ainda ajudou a mulher a limpar as paredes do quarto com lixívia. Ontem, combalido, e embrulhado em cobertores, o doente oncológico passou o dia a tossir num quarto onde nas paredes escorre água.
"O meu irmão morreu nem há um mês com o mesmo problema de saúde. Tenho medo que aconteça o mesmo ao meu marido", desabafou, ao JN, Maria Helena, de olhos postos nos quatros filhos, todos com problemas respiratórios e que precisam frequentemente de fazerem nebulizações.
De acordo com a moradora, na DomusSocial disseram-lhe "que existem problemas mais urgentes a necessitarem de casas" e que, por isso, "teria de esperar". Maria Helena chegou a dizer que estava disposta a trocar o T4 onde vive por uma casa mais pequena, mas "em boas condições". Até agora, não obteve nenhuma resposta.
Com o marido doente, a precisar de cuidados, e com os quatros filhos pequenos, Maria Helena não consegue arranjar trabalho e vive do Rendimento Mínimo de Inserção.
Grande parte do escasso orçamento familiar é gasto "na farmácia e na conta da luz, por causa dos aquecedores acessos". A família tenta combater os "problemas de condensações", sinalizados por técnicos da DomusSocial, "ventilando a casa sempre que possível" e com cuidados devido ao estado de saúde de Mário.
O JN não conseguiu ontem, em tempo útil, obter esclarecimentos da Câmara sobre o assunto.