Helena Norte, in Jornal de Notícias
"As pessoas falam sem falar. O rosto grita", diz Armindo Freitas-Magalhães, director do Laboratório de Expressão Facial da Emoção (FEELab) da Universidade Fernando Pessoa. E grita sempre a verdade. Mesmo quando se pretende esconder, simular ou distorcer.
Porque os músculos desenham no rosto (o palco) as emoções geradas no cérebro (camarins) de forma espontânea e involuntária, explica o psicólogo. E sentencia: "A expressão facial nunca mente".
Paul Ekman, famoso psicólogo norte-americano que inspirou a série televisiva "Lie to me", cartografou a expressão das emoções no rosto humano com base nos movimentos musculares da face, olhos, nariz, boca, pálpebras, sobrancelhas, testa e pescoço. O resultado é o Facial Action Coding System (FACS), um instrumento cientificamente validado - ao contrário do polígrafo - usado para muitos fins, incluindo de investigação criminal.
O Paul Ekman Group colabora com o FBI, a CIA, a Scotland Yard e outros órgãos de investigação, tal como acontece na série, ficcionada e exagerada nalguns aspectos, mas com fundamentos científicos, garante Freitas-Magalhães, que também integra a instituição.
Cá em Portugal, o estudo das expressões faciais nunca foi aplicado em investigações policiais e o facto de os inquéritos policiais não serem filmados dificulta a sua aplicação. O director do FEELab confirma a existência de "abordagens não oficiais", aquando do desaparecimento de Madeleine MacCann, tendo chegado a analisar as expressões dos pais em declarações públicas.
Concluiu que, quando afirmaram nunca ter dado sedativos aos filhos, não havia congruência entre a linguagem verbal (palavras) e não verbal (expressões faciais). O que indica que mentiram. "Como se diz é mais importante do que o que diz. Até o pestanejar dá indicações sobre o que se está a sentir", sublinha o psicólogo.
Cada expressão, cada movimento tem significado. Mais: são universais. Um português revela, no rosto, emoções como alegria, desprezo ou surpresa da mesma forma do que um chinês. Ou dito por outras palavras, com os mesmos marcadores faciais. O que difere são as regras de exibição social, explica Freitas-Magalhães, que cita os estudos de Ekman, na Nova Guiné, que demonstraram a universalidade da expressão facial das emoções.
A simulação é possível, claro, e há quem o faça bem, principalmente em situações de vazio emocional, mas as expressões produzidas não cumprem os critérios de genuinidade e quem dominar o FACS consegue detectar as mentiras. Sempre, garante o investigador. Uma das formas de encontrar a falsidade da expressão é analisar a simetria da face: em caso de simulação, os movimentos do lado esquerdo não são iguais aos do lado direito.