17.12.14

Microcrédito deu a mão aos novos empreendedores e está a arrebitar o comércio local

Texto de Marisa Soares e Ana Tulha, in Público on-line (P3)

Associação Nacional de Direito ao Crédito já ajudou cerca de 200 empresários a abrir negócio este ano, com recurso a pequenos empréstimos. O PÚBLICO foi conhecer alguns casos de sucesso em Lisboa e no Porto.

Ocupam lojas esvaziadas pela crise, à medida que encolhem os números do desemprego. São jovens licenciados com uma ideia, desempregados menos jovens mas ainda longe da reforma ou, simplesmente, pequenos empresários aos quais a banca fechou a porta. A Associação Nacional de Direito ao Crédito (ANDC) deu-lhes a mão e ajudou-os a subir os degraus do negócio, num caminho onde muitas vezes se fica para trás.

Os micro-empresários estão a trazer uma lufada de ar fresco ao comércio local, dentro e fora dos grandes centros urbanos. Só este ano, nasceram cerca de 200 micro-empresas com o apoio da ANDC, associação sem fins lucrativos pioneira no microcrédito em Portugal. São sobretudo restaurantes, cafés, cabeleireiros e centros de estética, mas também surgem cada vez mais projectos “fora da caixa”: hostels, aluguer de bicicletas, agricultura, serviços audiovisuais, lojas de artesanato e até lojas eróticas.

Em 16 anos, completados este domingo, a ANDC ajudou – gratuitamente – quase 2000 empresários a conseguirem empréstimos de 1000 a 12.500 euros, com juros mais baixos do que os praticados normalmente pela banca. No total, foram concedidos mais de 11 milhões de euros até ao final de 2013. Cerca de 30% desses negócios continuam de pé após quatro anos de existência. É uma taxa de sobrevivência superior à média nacional, que segundo o Instituto Nacional de Estatística ronda os 23,2%.

Para divulgar os casos de sucesso a associação criou o Dia do Micro-empresário, celebrado a 13 de Dezembro. Este ano a organização convidou a população a "olhar para o bairro onde mora, para a rua em que habita", sugerindo percursos que passam por negócios lançados através do microcrédito, em várias cidades. O PÚBLICO aceitou o desafio e foi conhecer alguns.

Contornar obstáculos

Não há uma receita para fazer vingar um negócio, mas Edgar Costa, gestor operacional de microcrédito da ANDC, aponta alguns ingredientes: iniciativa e cautela para não dar passos maiores do que a perna. “É preciso ter paciência para esperar pelo crescimento.”

Helena Faria, de 51 anos, encaixa no perfil. Depois de 15 anos a trabalhar em marketing e publicidade, ficou desempregada aos 45, com "experiência a mais". Tinha um bacharelato em Direito, um master em Gestão Comercial e muita vontade de trabalhar. "Mas já não me apetecia nada que fosse por conta de outros", admite. Apostou na estética, mesmo sem formação na área, e investiu 40 mil euros para criar a Depilplus. Arrendou “um buraco antigo e velho” no número 16A da Rua de Santa Marta, em Lisboa, a dois passos da Avenida da Liberdade, remodelou-o e equipou-o. Mas o primeiro obstáculo surgiu antes de abrir: a casa de banho não estava conforme a planta disponível na câmara. Passou dois anos à espera da legalização.

Sem garantias para mais endividamentos na banca e com os prejuízos a crescer, Helena Faria esteve quase a desistir. Foi então que recorreu à ANDC. Pediu 8000 euros para arrancar com o negócio em Março de 2013. Além do seu posto de trabalho criou mais três. Hoje a Depilplus já não é apenas um centro de depilação definitiva: tem manicure e pedicure, massagens e tratamentos de pele.

O projecto de Helena Faria foi seguido por um dos sete técnicos da associação espalhados pelo país, que acompanham os projectos até os empréstimos estarem totalmente pagos. Após uma triagem inicial para confirmar a situação bancária do promotor, os técnicos analisam também a sua história de vida e contexto familiar, além do projecto em si. Depois, o processo é avaliado por uma comissão de voluntários e, caso seja aprovado, segue para os bancos.

“Já tendo a chancela da associaçao, é mais fácil para o banco aprovar. Temos mais de 90% dos projectos aceites”, diz Edgar Costa. A entidade bancária assume 75% do crédito, o promotor tem que apresentar um fiador para 20% e a associação (que é financiada pelo Instituto de Emprego e Formação Profissional) empresta os restantes 5%. “Se o projecto estiver bem estruturado conseguimos aprová-lo em 15 dias e em 60 dias o dinheiro está na conta do empresário”, afirma o gestor. Mas cada caso é único.

Lê o artigo completo no Público