9.1.15

Em 4620 empresários, a maioria quer cortar no emprego até abril

por Luís Reis Ribeiro, in Dinheiro Digital

Governo "muito confiante" na criação de emprego. Empresários ouvidos pelo INE despejam balde de água fria. Procura não justifica.

A intensidade do desemprego nacional está a piorar há dois meses consecutivos (até novembro), mas novos inquéritos do Instituto Nacional de Estatística (INE) e do Eurostat indicam que o pior pode estar para vir.

Em dezembro, a maioria dos 4620 decisores consultados pelo INE, por exemplo, disse que vai reduzir postos de trabalho "nos próximos três meses" e são cada vez mais os que partilham essa opinião. Os consumidores também já pressentem as dificuldades: cada vez mais acham que o desemprego vai piorar.

Os inquéritos de confiança divulgados (na segunda-feira pelo INE e ontem pelo Eurostat) mostram, de forma inequívoca, que a criação de emprego é cada vez menos uma prioridade nos próximos três meses.

Isto é: a amostra de 4620 empresários (1202 da indústria transformadora, 835 do sector da construção, 1125 do comércio e 1458 dos serviços) revela serem cada vez mais e uma maioria os que assumem não ver condições no seu negócio e no futuro de curto prazo da economia para manter o nível atual de empregos. Uma maioria crescente acredita que terá de reduzir força de trabalho.

O Eurostat mostra esse mesmo problema generalizado de falta de confiança no emprego futuro, menos na indústria transformadora, onde a melhoria foi ligeira.

Todos os sectores mais pessimistas em simultâneo

Mas o INE mostra uma situação nova: pela primeira vez desde finais de 2012 -- estava Portugal mergulhado numa crise aguda e a meio do programa de austeridade do Governo PSD/CDS e da troika -- que os quatro sectores não pioravam em simultâneo as suas perspetivas face ao emprego.

O INE confirma que na indústria "as expectativas de emprego agravaram-se pelo segundo mês consecutivo após ligeira recuperação registada em outubro, retomando a trajetória negativa iniciada em abril".

Na construção, um dos sectores mais fustigados pela crise dos bancos, as perspetivas "agravaram-se ligeiramente no último mês, suspendendo a trajetória ascendente registada desde dezembro de 2012".

No comércio, "agravaram-se no último mês, interrompendo o perfil crescente observado desde final de 2012".

E nos serviços, o maior sector da economia, "as expectativas sobre a evolução do emprego agravaram-se no mês de referência [dezembro], contrariando o movimento crescente iniciado em fevereiro de 2013".

Todos os saldos de respostas dos quatro sectores dão um valor negativo e pior do que em novembro. Ou seja, há cada vez mais gente a dizer que tem de cortar emprego e menos os que assumem poder manter ou reforçar quadros.

Anteontem, o Eurostat indicou que Portugal e Chipre são os países da Europa com maior agravamento no desemprego. Este está a subir há dois meses seguidos, tendo ficado em 13,9% em novembro, em Portugal. Em termos absolutos, o país ganhou 18 mil desempregados em apenas um mês, valor que representa mais de metade da subida verificada na antiga zona euro a 18 países. Total de pessoas sem trabalho: 713,7 mil.

Já o ministro da Economia, António Pires de Lima, diz estar "muito confiante" na retoma do mercado de trabalho.

INE ouve 4620 empresários

A amostra é composta por 4620 empresários: 1202 da indústria transformadora, 835 do sector da construção, 1125 do comércio e 1458 dos serviços. Os sectores queixam-se de uma degradação nas perspetivas da economia ou das vendas.

Onde é pior? Construção e serviços

Todos os quatro sectores estão mais pessimistas quanto à criação de emprego nos próximos três meses. Mas nota-se mais na construção e nos serviços.