7.9.23
Descida de inflação é improvável sem aumento do desemprego
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) considera que a descida da taxa de inflação é improvável sem algum aumento do desemprego, segundo o relatório de análise económica à zona euro e União Europeia (UE), divulgado esta quarta-feira.
Segundo a OCDE, a redução da inflação é "mais complicada pelo forte mercado de trabalho e a baixa taxa de desemprego", historicamente baixa, tanto na UE como na zona euro. A organização considera mesmo, citando estudos, que a "descida da inflação é improvável sem o correspondente aumento da taxa de desemprego a curto prazo".
O mercado de trabalho continuou a recuperar em 2022, sendo que o emprego superou os níveis pré-pandémicos e os salários têm vindo a aumentar.
A OCDE prevê que o aumento dos salários nominais continue, já que a inflação põe pressão sobre as negociações entre trabalhadores e patrões.
Apesar da expectativa sobre aumentos salariais, a OCDE diz que, como a decomposição do deflator do Produto Interno Bruto (PIB) sugere um aumento dos lucros unitários, há "alguma margem para aumentos salariais não inflacionistas".
A OCDE espera que a taxa de desemprego se mantenha em 6,7% este ano, e baixe para 6,6% em 2024.
11.8.23
Mercado de trabalho resiste ao abrandamento da economia: desemprego recuou para 6,1% no segundo trimestre
Os dados publicados esta quarta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística indicam que a taxa de desemprego recuou para o valor mais baixo desde o verão do ano passado, embora tenha ficado acima do registado na mesma altura de 2022. Descida do desemprego foi acompanhada por um aumento do emprego
O mercado de trabalho nacional resistiu ao abrandamento da economia no segundo trimestre deste ano e registou mesmo uma evolução positiva entre abril e junho. Os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), publicados esta quarta-feira, apontam para uma descida da taxa de desemprego e um aumento do emprego.
No segundo trimestre - época do ano onde a sazonalidade joga tradicionalmente a favor do mercado de trabalho em Portugal, nomeadamente por causa das contratações para a época alta no turismo e na agricultura -, a taxa de desemprego recuou para 6,1%, o que compara com 7,2% nos primeiros três meses deste ano.
É o valor mais baixo desde o verão do ano passado, quando estava nos 5,8%, mas ficou acima dos 5,7% registados no segundo trimestre de 2022.
O INE estima que no segundo trimestre deste ano estavam 324,5 mil pessoas desempregadas em Portugal, o que traduz uma diminuição de 14,7% (menos 55,8 mil pessoas) em relação aos primeiros três meses do ano. Já na comparação com o segundo trimestre de 2022, há um aumento de 8,6% (mais 25,7 mil desempregados).
Olhando em particular para os jovens (16 anos aos 24 anos), a taxa de desemprego no segundo trimestre foi estimada em 17,2%, valor inferior em 2,4 pontos percentuais (p.p.) ao do trimestre anterior e superior em 0,5 p.p. ao do trimestre homólogo.
EMPREGO EM ALTA
Ao mesmo tempo, o INE dá conta de um aumento do emprego no país. Segundo a autoridade estatística nacional, a população empregada atingiu 4,9794 milhões de pessoas no segundo trimestre deste ano, ficando muito perto da fasquia dos cinco milhões.
Este número significa um aumento de 1,1% (mais 54,7 mil pessoas) em relação aos primeiros três meses de 2023 e uma subida de 1,6% (mais 77,6 mil pessoas) relativamente ao trimestre homólogo, ou seja, na comparação com o segundo trimestre de 2022.
Destaque ainda para o indicador da subutilização do trabalho, a que os especialistas dão muita atenção, já que nos dá uma medida do desemprego em sentido lato. Isto porque para além de incluir as pessoas classificadas como desempregadas, abrange ainda os inativos disponíveis para trabalhar mas que não procuraram ativamente um posto de trabalho - os chamados ‘desencorajados’ -, os inativos que procuraram emprego mas não estavam disponíveis no imediato para aceitar uma vaga, e os trabalhadores a tempo parcial que gostariam de trabalhar mais horas.
Ora, segundo o INE, a subutilização do trabalho abrangeu 625,3 mil pessoas no segundo trimestre deste ano, o que corresponde a um decréscimo de 8,1% (menos 55,4 mil pessoas) em relação ao trimestre anterior. Já na comparação homóloga, verifica-se um acréscimo de 4,1% (mais 24,6 mil pessoas).
Como resultado, a taxa de subutilização do trabalho, estimada em 11,5%, diminuiu face aos primeiros três meses do ano (menos 1 p.p.), mas aumentou em termos homólogos (mais 0,3 p.p.).
10.8.23
Ao fim de nove meses de queda, número de trabalhadores licenciados voltou a subir
O recuo no número de trabalhadores em Portugal com o ensino superior completo que se verificava desde o início do ano passado foi interrompido no segundo trimestre deste ano. Ainda assim, o balanço dos últimos 12 meses continua a este nível a ser muito negativo.
Nos dados resultantes do inquérito ao emprego publicados esta quarta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), que revelaram, com a ajuda do regresso das actividades do Verão, uma redução da taxa de desemprego dos 7,2% do primeiro trimestre para 6,1% no segundo, verifica-se também a interrupção de uma tendência preocupante a que se vinha assistindo no mercado de trabalho em Portugal nos três trimestres anteriores.
Pela primeira vez desde o segundo trimestre de 2022, o momento em que se atingiu um máximo histórico neste indicador, o número de trabalhadores em Portugal com o ensino superior concluído subiu face ao trimestre imediatamente anterior. Dos quase cinco milhões de trabalhadores em Portugal, 1635,7 milhares têm agora um curso superior concluído, um valor que representa um aumento de 34,4 mil face ao primeiro trimestre deste ano.
Esta subida quebra a sequência negativa dos últimos três trimestres, mas fica no entanto longe de compensar as perdas registadas durante aquele período. De facto, quando se comparam os números registados no segundo trimestre deste ano com os do período homólogo do ano anterior, aquilo que se observa é ainda assim uma descida significativa do número de trabalhadores com o ensino superior.
Há um ano havia mais 128 mil trabalhadores com o ensino superior do que agora, tendo a percentagem de licenciados no mercado de trabalho português baixado do máximo histórico de 36%, atingido no segundo trimestre de 2022 para 32,8% agora.
Num mercado de trabalho em que o emprego continuou a crescer (mais 54,7 mil empregos face ao trimestre imediatamente anterior e mais 77,6 mil empregos face ao período homólogo do ano anterior), esta quebra em termos homólogos no número de trabalhadores licenciados tem como contraponto um aumento do número de trabalhadores com níveis de ensino mais baixos. Passou a haver, nos últimos 12 meses, mais 171,3 mil trabalhadores que não foram além do terceiro ciclo do ensino básico.
As últimas décadas têm sido, como seria de esperar, de aumentos progressivos da percentagem de licenciados no mercado de trabalho português. Há dez anos, no segundo trimestre de 2013, 22,1% dos trabalhadores portugueses tinham concluído o ensino superior. Agora, depois do máximo de 36% há um ano, este indicador está mais de dez pontos percentuais acima.
O que é que terá acontecido nos três trimestres anteriores para se assistir a um retrocesso? A explicação poderá estar na forma como a economia portuguesa tem crescido mais recentemente. De facto, a maior parte dos empregos criados em Portugal nos últimos 12 meses veio, mostram os dados publicados esta quarta-feira pelo INE, do sector do alojamento e restauração (mais 74,3 mil empregos) e do sector da construção (mais 40,7 mil empregos). Estes são sectores que, em média, têm trabalhadores com níveis de ensino mais baixos do que, por exemplo, na educação ou na administração pública, sectores onde se assistiu a uma redução do nível de emprego.
A redução do número de licenciados ao longo do último ano não se fez sentir apenas entre quem tem emprego. Os dados do INE mostram uma diminuição de valor idêntico do total da população licenciada, o que pode apontar para que esta evolução esteja a acontecer em simultâneo com fluxos migratórios que conduzem à saída de mais licenciados e à entrada de mais pessoas com níveis de ensino inferior.
Resta saber se a tendência para o futuro irá ser a registada ao longo da maior parte do último ano ou se Portugal volta, como aconteceu no segundo trimestre deste ano, à tendência de longo prazo de reforço das qualificações do seu mercado de trabalho.
Em termos gerais, os dados trimestrais do emprego apresentados pelo INE foram influenciados, como é habitual nesta altura do ano, pelo reforço da actividade económica relacionada com o Verão. Os números divulgados não levam em consideração (como acontece com o PIB) os efeitos sazonais e, por isso, o segundo trimestre de cada ano costuma apresentar uma evolução mais positiva dos indicadores do mercado de trabalho.
Isso terá ajudado à redução da taxa de desemprego de 7,2% no primeiro trimestre do ano para 6,1% no segundo, o que constituiu uma inversão da tendência de subida que se estava a verificar nos trimestres anteriores, mas mesmo assim não chegou para colocar a taxa de desemprego ao nível mais baixo (5,7%) que se verificava no trimestre homólogo do ano passado.
Quando se olha para os empregos criados no decorrer do segundo trimestre deste ano (face ao trimestre imediatamente anterior), verifica-se que a maior parte dos ganhos se verifica nos serviços, especialmente em áreas relacionadas com o turismo. Dos 54 mil empregos criados, um pouco mais de 30 mil foram nos serviços, com as actividades dos transportes e do alojamento e restauração a contribuírem com quase 10 mil cada.
A taxa de desemprego entre os jovens, que continua acima da média da UE, desceu de 19,6% no primeiro trimestre deste ano para 17,2% no segundo trimestre. Este indicador, no entanto, subiu 0,5 pontos percentuais face ao período homólogo do ano anterior.
A taxa de subutilização do trabalho – uma medida mais alargada de desemprego que inclui, por exemplo, aqueles que já desistiram de procurar emprego – desceu de 12,5% no primeiro trimestre para 11,5% no segundo, registando mesmo assim uma subida de 0,3 pontos percentuais face ao mesmo período do ano passado.
[artigo disponível na íntegra só para assinantes]
1.8.23
Desemprego na zona euro mantém-se nos 6,4% em Junho
Na região da moeda única há 10,8 milhões de desempregados. Taxa está no mesmo valor há três meses consecutivos.
A taxa de desemprego no conjunto dos 19 países que partilham a moeda única manteve-se inalterada em Junho, correspondendo a 6,4% da população activa da região da zona euro. É o terceiro mês consecutivo em que a taxa se encontra neste patamar, ficando abaixo do nível de desemprego registado um ano antes (6,7% em Junho do ano passado).
Na maior economia da zona euro, a percentagem de cidadãos que se encontram fora do mercado de trabalho corresponde a apenas 3% da população activa. Desde Dezembro que o nível de desemprego se mantém inalterado na Alemanha.
Em França, segunda maior potência económica da área do euro, a taxa de Junho também não sofreu alterações face a Maio — continuou nos 7,1%, acima da média europeia — e nos meses anteriores, desde Agosto do ano passado, foi variando entre os 7,2%, os 7,1% e os 7%, patamar no qual chegou a estar em Março e Abril.
Em Itália, terceira maior economia, registou-se uma ligeira redução de Maio para Junho, com o desemprego a passar de 7,5% para 7,4%. Há um ano a taxa estava nos 8,1% e, desde aí, foi baixando, oscilando entre os 7,9% e os 7,8% até atingir 7,7% em Abril e se confirmar nos dois meses seguintes a trajectória de recuo.
Na quarta maior economia, Espanha, o desemprego também recuou em Junho face ao mês anterior, ao passar de 11,9% para 11,7%. Espanha é o país da área do euro (e da União) com o maior nível de desemprego. Em Junho de 2022, a taxa estava nos 12,7% e, mais tarde, no final do ano e início de 2023, chegou a estar mais alta, nos 13% (em Novembro Dezembro e Janeiro últimos), tendo começado a partir daí uma tendência de diminuição que coloca a taxa num valor já inferior ao de Junho do ano passado.
Em Portugal, a taxa de desemprego está nos 6,4%. Já se encontrava neste patamar em Maio e o valor não se alterou em Junho, registando-se uma estabilização mensal. Apesar de estar abaixo do nível registado no início do ano – em Janeiro a taxa chegou a estar nos 7% e foi baixando nos meses seguintes para 6,9% em Fevereiro, 6,8% em Março, 6,5% em Abril e, agora, para os 6,4% em Maio e Junho — a taxa continua num patamar superior àquele em que se encontra há um ano, em Junho, Julho e Agosto de 2022, altura em que o desemprego estava nos 6%.
Na União Europeia há 12,8 milhões de pessoas desempregadas, 10,8 milhões das quais são residentes em países da moeda única (19 dos 27 Estados-membros, onde se encontram as maiores economias e algumas das mais populosas).
Em Portugal há 336,5 mil desempregados, aos quais se somam, segundo estimativas do Instituto Nacional de Estatística (INE) conhecidas na segunda-feira, 295,2 mil outros cidadãos que se encontram numa situação de subemprego por serem trabalhadores a tempo parcial ou porque são estatisticamente considerados inactivos (à procura de emprego mas não disponíveis para trabalhar imediatamente nas semanas seguintes, ou disponíveis mas que não procuram emprego).
Excedente de Medina mais perto do fim, emprego resiste, desemprego já espreita
As contas públicas portuguesas estão a aproximar-se de um ponto de viragem, depois do forte impulso que a inflação deu à receita durante o ano passado e boa parte deste.
Segundo a nova execução orçamental relativa ao primeiro semestre de 2023, as Finanças do ministro Fernando Medina ainda conseguiram entregar um excedente orçamental muito elevado (mais de 1,8 mil milhões de euros), também este apoiado na expansão do emprego (cresceu 1,5% em junho, segundo indicou ontem o INE - Instituto Nacional de Estatística).
No entanto, há sinais de que a situação económica e financeira do País está a virar para uma fase mais complicada, na qual a subida dos juros terá cada vez mais impacto na procura e em que algumas medidas anunciadas pelo governo começam a ter efeitos orçamentais relevantes no lado da despesa.
É o caso do aumento intercalar das pensões, que aparece nas contas públicas na execução até julho (a divulgar no final de agosto), devendo fazer subir a despesa em 500 milhões de euros, segundo estimativas do governo.
Além disso, o número de pessoas desempregadas aumentou mais de 8% no primeiro semestre, mas como a população ativa também subiu muito devido ao emprego, a taxa de desemprego ficou estável nos 6,4%, mostrou o INE.
Seja como for, é um sinal de que, depois de uma primeira fase em que a inflação até ajudou a fazer subir a receita de impostos e a faturação de muitas empresas, pode estar a chegar a fase das maiores dificuldades, em que a forte subida das taxas de juro do Banco Central Europeu (BCE) já está a afetar a concessão de crédito, a agravar os juros a pagar ao banco pela compra de casa, a restringir o consumo e o investimento empresarial.
O INE também mostrou que a inflação aliviou mais em julho (3,1%). Bom para o poder de compra das famílias, mas menos bom para a receita fiscal, que tanto beneficiou do empolamento de preços desde março de 2022.
Economia estagna face ao primeiro trimestre
Embora, atualmente, não se projete uma recessão em 2023, o INE mostrou também ontem que a economia (o PIB - Produto Interno Bruto) terá estagnado (0%) no segundo trimestre face ao anterior. Em termos homólogos (que compara com o segundo trimestre do ano passado, quando começou o choque da guerra contra a Ucrânia), a economia portuguesa ainda cresceu 2,3%.
Mas ambos os registos para o PIB do segundo trimestre (variação em cadeia e homóloga) são os mais fracos desde o primeiro trimestre de 2021, o período que coincide com a fase mais agreste em infeções e letal da pandemia.
Como referido, o INE revelou que o emprego continua a subir, puxado essencialmente pela camada dos muito jovens (15 a 24 anos), onde o número de postos de trabalho subiu mais de 23%, o que acabou por compensar a quase estagnação no grupo de pessoas com 25 anos ou mais.
No entanto, o número de desempregados continuou a subir bastante nestes primeiros seis meses do ano. Em junho, aumentou mais de 8% para 336 mil casos de pessoas que queriam trabalhar e procuraram um emprego, não tendo conseguido. Este avanço do desemprego afetou tanto os muito jovens quanto os mais adultos.
Num futuro próximo, se continuar a subir, será mais uma pressão sobre a despesa por causa do aumento do número de subsídios de desemprego.
Para já, o saldo positivo das contas públicas mantém-se, mas as Finanças e o próprio ministro Medina já ressalvaram que vai "começar a refletir-se de forma mais evidente o impacto na despesa das medidas de reforço de rendimentos anunciadas em final de março e abril", como o aumento nos salários (intercalar) e do subsídio de refeição dos funcionários públicos. "A aceleração da despesa tenderá a continuar nos próximos meses", diz o ministério.
Do lado da receita, há medidas com peso que estão e vão continuar a pressionar o saldo em baixa (ou o défice em alta, quando este reaparecer). É o caso do IVA zero, que terá um custo superior a 400 milhões de euros, segundo o governo.
O objetivo do governo é chegar ao fim do ano com um défice de apenas 0,4% do PIB, igual ao de 2022.
Execução do primeiro semestre
Seja como for, neste primeiro semestre, mesmo com a economia a abrandar, o excedente orçamental público português ainda registou um aumento de 600 milhões de euros, revelou ontem o Ministério das Finanças.
"O saldo orçamental ajustado foi de 1.810 milhões de euros no primeiro semestre". "Ajustado" porque a receita pública foi "ajustada dos 3.018 milhões de euros da transferência do Fundo de Pensões da Caixa Geral de Depósitos (FPCGD) para a Caixa Geral de Aposentações (CGA)". Foi um encaixe de grande dimensão, extraordinário e irrepetível.
O reforço do excedente acontece porque a receita ainda continua a crescer mais do que a despesa.
"No desempenho da receita, que cresce 7,7%, em termos ajustados, mantêm-se as dinâmicas positivas observadas no mercado de trabalho, que justificam cerca de dois terços do aumento", refere o gabinete do ministro Medina.
A coleta de IRS aumentou 14,8% no primeiro semestre face a igual período do ano passado, e as contribuições sociais avançaram 11,3%.
'Do lado da despesa, registou-se um aumento de 6,5%", acrescenta o ministério.
Segundo as Finanças, o aumento da despesa neste primeiro semestre é, sobretudo, explicado pelas "medidas de reforço de rendimentos anunciadas no início do ano", designadamente o pacote da Função Pública. "As despesas com pessoal crescem 7,7%)".
A estas acrescem as medidas de apoio a famílias, bem como um deslize que fez aumentar o valor dos contratos públicos além do esperado, "reflexo da inflação", dizem as Finanças.
Ainda do lado da despesa, a tutela de Fernando Medina refere que "o impacto do pacote anunciado ainda não reflete o aumento intercalar das pensões, que se repercutirá apenas a partir de julho". São os tais 500 milhões de euros a mais.
Luís Reis Ribeiro é jornalista do Dinheiro Vivo
31.7.23
Jovens portugueses são dos mais qualificados mas em maior risco de pobreza e exclusão social
Um estudo da Pordata destapa a realidade dos jovens portugueses, no momento em que começa a JMJ. Os números são preocupantes: 95% vivem com os pais, e isso acontece por causa do desemprego e da precariedade no mercado de trabalho.
Um total de 95% dos jovens portugueses (que em 2022 eram 10% da população) vivem com os pais, o quarto valor mais alto na União Europeia. Essa é uma das conclusões do estudo da Pordata que hoje é tornado público. No documento percebe-se também que são cada vez mais qualificados - 9 em cada 10 jovens entre os 20 e os 24 anos têm, no mínimo, o ensino secundário, e Portugal é o 7.º país da UE com maior proporção de jovens com ensino superior.
Apesar disso, as preocupações com o acesso à habitação e ao emprego continuam a afetá-los: 6 em cada 10 têm vínculos de trabalho precários, e Portugal é o 7º país da UE com maior taxa de desemprego jovem, afetando 1 em cada 5 jovens no mercado de trabalho. Há outro dado positivo neste retrato agora traçado pela Pordata: os jovens portugueses têm competências digitais acima da média europeia, e estão em 5.º lugar entre os que mais utilizam as redes sociais e leem notícias online. No campo das boas notícias, o documento revela que os hábitos de saúde deste grupo etário parecem estar a melhorar - diminuiu a percentagem de jovens que afirma nunca praticar desporto (um em cada 3) ou que fuma diariamente (9%).

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Em 2022 contabilizavam-se em Portugal 1.086.544 jovens entre os 15 e os 24 anos (51% eram do sexo masculino e 49% do sexo feminino) o que representa uma diminuição de 6 pontos percentuais desde 1961, refletindo a redução das taxas de natalidade e o aumento da esperança média de vida. Para Gonçalo Saraiva Matias, presidente do conselho de administração da Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS), este estudo revela "um indicador muito positivo, e outro bastante negativo". Refere-se, respetivamente, à educação e competências digitais, onde os jovens portugueses estão num patamar superior à média europeia; por outro lado, "não estamos bem no desemprego (Portugal é o sétimo país da União Europeia com maior desemprego jovem), e seis em cada dez jovens têm vínculos laborais precários. Isto tem necessariamente um reflexo na inclusão social, já que 25% dos jovens estão em risco de pobreza ou exclusão social. Gonçalo Matias acredita mesmo que "temos aqui uma situação explosiva, porque uma faixa considerável dos jovens, entre os 15 e os 24 anos, tem muita qualificação, mas depois tem trabalhos precários e pouca capacidade de entrar no mercado".

"Na minha opinião, até baseada noutros estudos que a Fundação tem feito, isto revela que há um incentivo grande a que os jovens saiam do país", conclui o presidente da FFMS.
O saldo migratório revela que, desde 2019, entram no país mais jovens do que aqueles que saem para viver no estrangeiro. Mas nem sempre foi assim: de 2010 a 2018 o saldo foi negativo.

De acordo com o estudo, no ano passado a esmagadora maioria dos jovens (95%) vivia com os pais, "valor que traduz uma mais difícil independência, sobretudo considerando que este valor era de 86% em 2004". Na verdade, Portugal é o 4.º país da UE, a seguir à Itália (97%), Croácia (96%) e Espanha (96%), em que mais jovens vivem com os pais, acima da média europeia (83%). Na Suécia e na Dinamarca, os jovens que vivem com os pais são menos de metade do total de jovens.
Em Portugal, de acordo com dados de 2022 do Eurostat, a idade média de saída de casa dos pais era aos 30 anos, mais 3 anos do que a média europeia.

Mais educação e competências digitais
Um dos dados mais animadores do estudo da Pordata diz respeito à Educação e Competências Digitais. Em Portugal, 6 em cada 10 jovens concluíram o ensino secundário e quase 3 em cada 10 têm o ensino superior. Somando o ensino superior com o secundário, 9 em cada 10 jovens têm, no mínimo, o ensino secundário, quando a média europeia é de 84%. Foi em 2020 que Portugal ultrapassou a média europeia relativa aos jovens que têm, pelo menos, o ensino secundário completo. Os dados comparativos permitem perceber que, há 20 anos, a proporção de jovens entre os 18 e os 24 anos que deixavam de estudar sem terminar o ensino secundário era de 45%, valor que ficou nos 6% em 2022. "Éramos o 2.º país, a seguir a Malta, com maior abandono escolar. Atualmente, somos o 8.º país com menor taxa de abandono escolar, com menos 4 p.p. face à média europeia (9,6%).
Os rapazes abandonam os estudos duas vezes mais do que as raparigas (8% vs. 4%).
A democratização do acesso ao ensino permitiu trajetórias escolares mais longas. Em 2022, Portugal era já o 7.º país da UE com maior proporção de jovens entre os 20 e os 24 anos com ensino superior, acima da média europeia (19%).
Portugal destaca-se também no que toca ao peso de alunos estrangeiros no ensino superior. 8% dos alunos em licenciaturas e 14% em mestrados são estrangeiros, valores acima da média europeia (6% e 12%).
De acordo com a avaliação das competências digitais, Portugal encontrava-se em 5.º lugar entre os países da UE em que os jovens, entre os 16 e os 24 anos, apresentam competências digitais básicas ou acima do básico. Quase todos os jovens portugueses utilizam diariamente a internet (99,5%), ocupando o 5.º lugar dos países onde os jovens mais usam a internet para participar nas redes sociais, e para ler notícias online. Já para participar em atividades cívicas ou políticas, ocupa a 10.ª posição. O aumento dos anos de escolaridade obrigatória e o acesso mais generalizado ao ensino superior traduziu-se num recuo da taxa de emprego dos jovens. Foram 17 pontos percentuais em 20 anos.

Mas a instabilidade laboral é frequentemente associada aos jovens. Os contratos temporários são uma realidade para cerca de 6 em cada 10 jovens (57%) empregados, bastante acima dos 14% que correspondem aos trabalhadores entre os 25-64 anos. Na UE, os contratos temporários abrangem 5 em cada 10 jovens (e 11% dos trabalhadores de 25-64 anos).
Em comparação com a população em geral. Em 2021, o salário médio dos jovens entre os 18 e os 24 anos era de 948,8€ euros mensais brutos, menos 345,3€ euros do que a média nacional.

No que respeita à religião - que afinal dá o mote a este retrato, à conta da JMJ - a maioria dos jovens diz-se católico.
Desemprego estabiliza nos 6,4% em junho
A taxa de desemprego em Portugal foi de 6,4% em junho, valor que se mantém inalterado face ao apurado em maio deste ano, mas que continua a representar um aumento de 0,4 pontos percentuais (p.p.) comparativamente ao mês homólogo de 2022, ou seja, junho do ano passado.
Os dados provisórios do Instituto Nacional de Estatística (INE), divulgados esta segunda-feira, indicam que o mês de junho fechou com um total de 336,5 mil desempregados contabilizados. O número traduz uma diminuição de 0,7% em relação ao mês anterior, mas um aumento homólogo, ou seja, face ao mês mo mês do ano passado, de 85%. Contas feitas, em junho deste ano, Portugal registava mais 26,3 mil desempregados do que há um ano.
Na nota que acompanha os indicadores mensais de emprego e desemprego, ainda provisórios para o mês de junho, o INE explica que durante o mês em análise a população ativa terá aumentado em 1,0 mil pessoas, o que corresponde a uma variação relativa quase nula. Já a população inativa manteve-se praticamente inalterada em relação ao mês de maio.
“O ligeiro aumento da população ativa resultou do acréscimo da população empregada (3,4 mil; 0,1%) ser pouco superior ao decréscimo da população desempregada (2,4 mil; 0,7%)”, lê-se na nota que acrescente ainda que “a manutenção da população inativa foi explicada pelas variações nos grupos que a compõem, de onde se destaca o acréscimo do número de inativos à procura, mas não disponíveis para trabalhar (1,3 mil; 4,0%) e o decréscimo do número de inativos disponíveis, mas que não procuraram emprego (1,1 mil; 1,0%)”.
Ainda segundo o INE, o aumento da população ativa (99,7 mil; 1,9%) registado em junho face ao mês homólogo resultou do acréscimo tanto da população empregada (73,4 mil; 1,5%) como da população desempregada (26,3 mil; 8,5%). Já a apopulação inativa diminuiu em 71,6 mil pessoas (2,9%) devido, principalmente, à diminuição do número de outros inativos (54,2 mil; 2,3%). Em conjunto, estes resultados determinaram a manutenção da taxa de desemprego no valor apurado em maio deste ano, 6,4%.
13.7.23
Restaurante de Lisboa fechou de um dia para o outro e funcionários ficaram sem nada
in SIC
O Sindicato da Hotelaria Turismo e Restaurantes do Sul diz que são recorrentes situações de trabalhadores que são enganados na área da restauração.
O Sindicato da Hotelaria Turismo e Restaurantes do Sul avisa que há cada vez mais trabalhadores enganados e deixa o alerta para que tenham cuidado com os contratos de trabalho e atenção na hora de aceitar um emprego.
A SIC foi conhecer um exemplo, na Avenida da Liberdade, em Lisboa, um restaurante que esteve aberto um mês e, de um dia para o outro, o dono
fechou sem avisar os funcionários, que ficaram sem nada.
O espaço foi totalmente remodelado por um investidor francês que resolveu encerrá-lo, deixando os trabalhadores sem nada. Só após o encerramento, é que a equipa de 11 funcionários ficou a saber que os contratos de trabalho nem sequer estavam legais.
O restaurante, um espaço com cerca de 600 metros quadrados em plena Avenida da Liberdade, está para trespasse em várias imobiliárias.
A SIC tentou contactar o investidor francês, mas sem sucesso.
O sindicato aconselha todos os trabalhadores do setor a verificarem sempre a legalidade dos contratos de trabalho e, se tiverem dúvidas, o melhor é pedir esclarecimentos às autoridades competentes.
4.7.23
Do salário ao vínculo laboral. Cinco indicadores que explicam os desafios do emprego jovem
Atingir 25 mil jovens com contrato de trabalho sem termo e salários de, no mínimo, 1.330 euros, é o objetivo do programa de apoio à contratação jovem “Avançar” que acaba de arrancar. Entre os parceiros sociais, o programa “Avançar” foi bem recebido, mas deixam alertas para a “rigidez das leis laborais” e para a necessidade de acompanhar os montantes mobilizados e a empregabilidade gerada pela medida. Em maio, havia em Portugal mais de 70 mil jovens desempregados.
Apoio à contratação jovem. Saiba como funciona
Ler Mais
Desemprego, vínculo laboral e salários são alguns dos indicadores analisados no estudo “Retrato do Emprego Jovem em Portugal”, de Paulo Marques, professor do ISCTE-IUL, que ajudam a explicar a urgência de medidas concretas à integração dos jovens no mercado de trabalho, mas também emprego menos precários e com salários que acompanhem as qualificações.
Há quase 30% de pessoas com ensino superior com contratos a termo e a registar na última década perdas de rendimentos líquidos especialmente entre os jovens mais qualificados.
Taxa de desemprego
O desemprego jovem não tem dado tréguas, tendo registado um crescimento muito acelerado durante as crises financeiras e da dívida soberana (2010-2014), uma redução acelerada nos anos da recuperação económica (2015-2019), tendo voltado durante a pandemia da Covid-19 a registar um crescimento, que, só no caso dos jovens que completaram o Ensino Superior, é que inverteu totalmente, aponta o estudo “Retrato do Emprego Jovem em Portugal”.
Assim, o desemprego jovem é mais elevado entre os pouco qualificados: 25% dos desempregados entre os 25 e os 29 anos concluíram apenas o ensino básico.
Olhando apenas para a taxa de desemprego de jovens qualificados, com o ensino superior, a trajetória é mais animadora. Se, durante as crises financeira e da dívida soberana, se registava uma divergência com a União Europeia muito significativa, desde 2017 que Portugal tem vindo a convergir com a média dos Estados-membros da UE, embora continue com uma taxa superior.
Os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE) dão disso conta. Em maio, 338.600 pessoas estavam desempregadas no país, dos quais 70.500 jovens. A taxa de desemprego jovem era de 18,6%, mais do triplo da registada para os adultos (5,5%) e uma subida de 0,5 pontos percentuais face a abril e de 0,1 pontos percentuais relativamente ao período homólogo.
No mesmo mês, havia 2,696 milhões de jovens (com menos de 25 anos) desempregados na UE, dos quais 2,226 milhões na Zona Euro. A taxa de desemprego dos jovens era, contudo, inferior à nacional: 13,9% tanto na UE como na Zona, dão conta os dados do Eurostat.
Contratos temporários
Também a percentagem de jovens com contratos temporários tem vindo a diminuir, mas, neste caso, os valores nacionais continuam ainda longe da UE, onde a percentagem de jovens com contratos com termo é bem mais reduzida. E exatamente o mesmo acontece se analisarmos a representação desde tipo de contrato laboral entre os jovens com o ensino superior.
A percentagem de pessoas com ensino superior com contratos a termo reduziu 11% (40% em 2010 e 29% em 2022), embora ainda estejamos distantes da média da União Europeia, de 17%, elenca o estudo levado a cabo pelo ISCTE.
Um dos objetivos do programa “Avançar” é precisamente reduzir a precariedade, já que o apoio às empresas no âmbito deste programa pressupõe que o jovem tenha um contrato de trabalho sem termo. A ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho, foi ainda mais longe e anunciou que o principal objetivo é atingir 25 mil jovens com este tipo de vínculo laboral.
Salários líquidos reais
Já no que toca aos ordenados, “entre 2021 e 2022, os qualificados perdem bastante em termos salariais“, conclui o professor Paulo Marques. “Quanto aos restantes, a situação não se alterou significativamente.”
De 2021 para 2022, apenas os jovens mais qualificados registaram uma perda nos seus rendimentos líquidos, passando dos 1.128 euros para os 1.061 euros (uma diminuição de 67 euros). Já os jovens com ensino secundário e os jovens com o ensino básico registaram aumentos salariais líquidos de 13 e dez euros, respetivamente.
O estudo “Estado da Nação: Educação, Emprego e Competências em Portugal”, realizado anualmente pela Fundação José Neves (FJN) mostrou há pouco mais de duas semanas que o ganho salarial associado a uma formação de ensino superior está em “mínimos históricos”. Apesar do aumento do salário nominal em 3,6%, a subida da inflação acabou por resultar numa quebra do poder de compra dos portugueses.
O salário real caiu 4% entre 2021 e 2022 tendo esse impacto sido sentido de forma muito pronunciada entre os jovens qualificados: tiveram uma queda de 6% no seu salário real. O diferencial entre os ordenados dos jovens portugueses com ensino superior e dos jovens com ensino secundário atingiu, assim, mínimos históricos, diminuindo de cerca de 50%, em 2011, para 27%, em 2022, revelou a edição de 2023 deste relatório.
Carlos Oliveira, presidente da FJN, considera que “é muito positivo que o país reconheça e o Governo tome medidas para colmatar o problema de precariedade no emprego dos jovens, e que é determinante tomar medidas para reverter esta situação”.
Além do Governo, o papel das empresas é fundamental para dar um novo impulso à valorização do emprego dos jovens, que lhes permita encontrar em Portugal as condições para poderem progredir profissionalmente, com remunerações adequadas e competitivas, e condições de trabalho atrativas.
Carlos Oliveira
Fundação José Neves
“O programa ‘Avançar’ é uma medida importante, e que está em linha com dois eixos do ‘Pacto para Mais e Melhores Empregos para os Jovens’: atrair e reter os jovens, e garantir emprego de qualidade aos jovens. É uma obrigação nacional fazer o que for necessário para mudar o estado das coisas”. “Além do Governo, o papel das empresas é fundamental para dar um novo impulso à valorização do emprego dos jovens, que lhes permita encontrar em Portugal as condições para poderem progredir profissionalmente, com remunerações adequadas e competitivas, e condições de trabalho atrativas”, conclui.
Na próxima segunda-feira, as empresas signatárias e parceiras do Pacto –– na primeira fase houve 50 empresas a aderir a este compromisso — vão reunir e dar novos passos para contribuir para a melhoria do emprego jovem no nosso país, adianta ainda o líder da FJN ao Trabalho by ECO.
Saída de emigrantes portugueses
Outro dos temas analisados no estudo realizado pelo ISCTE incide sobre a emigração e a saída do talento do mercado nacional. Entre 2010 e 2013 verificou-se um aumento muito rápido da emigração, em linha com a subida do desemprego. Posteriormente, a trajetória tem vindo a ser decrescente, especialmente durante a pandemia — em que, devido às restrições de mobilidade, as saídas de emigrantes portugueses registaram o valor mais baixo desde, pelo menos, 2010 (45.000 saídas). Corrigindo essa diminuição “forçada”, em 2021, 60.000 portugueses emigraram.
“Prevê-se que, nos próximos anos, a emigração estabilize em torno das 70 mil saídas anuais, próximo do valor verificado em 2010″, lê-se no documento a que o Trabalho by ECO teve acesso.
Saída de talento que agrava o problema de escassez que país está a atravessar — há falta de pessoas para setores fundamentais da economia como turismo ou construção — e que há que contrariar com medidas de fixação.
O país está “numa competição muito feroz entre organizações e entre países pelo talento”, lembrou Ana Mendes Godinho, no início do ano, durante a apresentação do “Pacto Mais e Melhores Empregos para os Jovens”.
“Os jovens são o nosso bem mais valioso para o nosso destino coletivo”, afirmou, considerando “crítico fixar o talento em Portugal”, tanto o nacional como atraindo para o mercado nacional talento internacional como os nómadas digitais, lembrou a ministra do Trabalho.
Emprego no setor dos serviços
“Em 2010 Portugal tinha uma percentagem muito reduzida de emprego nos serviços intensivos em conhecimento. No entanto, verificou-se uma tendência positiva nos últimos anos, em linha com o aumento do nível de escolaridade da população portuguesa”, analisa o docente do ISCTE.
E, recordando que a Suécia é um dos destinos da emigração portuguesa qualificada, Paulo Marques destaca este país nórdico como “exemplo em matéria de emprego qualificado”. “A percentagem de emprego nos serviços intensivos em conhecimento é muito elevada, sendo que tal já sucedia em 2010.”
Como reter os jovens qualificados em Portugal?
Em jeito de síntese, o responsável pelo estudo menciona a “redução acelerada do desemprego jovem, especialmente entre os qualificados”, a “melhoria muito acelerada das qualificações dos jovens” e os “ganhos salariais verificados no período pré-crise inflacionista” como os aspetos mais positivos.
Já a “elevada emigração (ainda que inferior ao verificado durante as crises financeira e da dívida soberana)”, a “evolução negativa dos salários no período 2021-2022, nomeadamente para os jovens qualificados” e os “salários baixos, especialmente quando comparados com os observados nos principais destinos da emigração portuguesa” são os indicadores mais negativos, e onde constam os maiores desafios do emprego jovem em Portugal.
Agora que a taxa de desemprego entre os muito qualificadas é reduzida, podemos ser mais ambiciosos na estratégia de retenção dos muito qualificados.
Paulo Marques
Professor no ISCTE e coordenador do Observatório do Emprego Jovem
Olhando especificamente para a percentagem de jovens com contratos temporários e para o peso do emprego nos serviços intensivos em conhecimento, Paulo Marques considera que se “verificam melhorias, mas persistem problemas”.
Para reter os jovens qualificados em Portugal, o docente e coordenador do Observatório do Emprego Jovem deixa ainda seis linhas de ação:“Expansão dos setores intensivos em conhecimento (articulação de políticas públicas é decisivo)”;
“Alinhamento entre oferta formativa e procura no mercado de trabalho (ensino superior politécnico e universitário)”;
“Promover o aumento dos salários (políticas de emprego e negociação coletiva)”;
“Quebrar a armadilha do emprego precário (implementar as alterações feitas à legislação de proteção no emprego)”;
“Outras dimensões da qualidade do emprego (conciliação entre trabalho e vida familiar; direito a teletrabalho; oportunidades de formação, entre outras)”;
“Políticas de habitação (os jovens são os mais atingidos pelos elevados preços da habitação)”.
“Agora que a taxa de desemprego entre os muito qualificadas é reduzida, podemos ser mais ambiciosos na estratégia de retenção dos muito qualificados”, conclui.
Parceiros sociais aplaudem medida
Entre os parceiros sociais, o programa “Avançar” foi bem recebido. “A Confederação Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP) considera que este tipo de medidas é positivo para a integração de jovens no mercado de trabalho”, começa por comentar o presidente da CCP, João Vieira Lopes, em declarações ao Trabalho by ECO.
Mas, ao mesmo tempo, deixa um alerta: “As questões da precariedade são mais complexas e prendem-se, nomeadamente, com a rigidez das leis laborais, mas num contexto de falta generalizada de trabalhadores e uma significativa mobilidade dos mesmos, nomeadamente dos jovens, faz menos sentido colocar as questões em termos de precariedade.”
As questões da precariedade são mais complexas e prendem-se, nomeadamente, com a rigidez das leis laborais, mas num contexto de falta generalizada de trabalhadores e uma significativa mobilidade dos mesmos, nomeadamente dos jovens, faz menos sentido colocar as questões em termos de precariedade.
João Viera Lopes
Presidente da CCP
A UGT, num parecer enviado ao Ministério do Trabalho sobre a portaria publicada esta segunda-feira em Diário da República sobre o programa “Avançar”, considera que o objetivo estratégico a que se propõem estas medidas é de “extrema importância”, uma vez que vem ao encontro de “uma das lacunas nacionais, que é o potencial na retenção de jovens e talento no nosso mercado de trabalho, lacuna essa muito resultante do nosso modelo económico de baixos salários”. Assim, “se bem monitorizada e divulgada”, a medida tem “um elevado potencial de sucesso”.
“Será também importante para a UGT que haja um acompanhamento dos montantes mobilizados e da empregabilidade que advier da implementação do presente programa, de modo a não frustrar as elevadas expectativas junto dos jovens trabalhadores”, acrescenta a organização sindical.
O Trabalho by ECO contactou igualmente a CGTP, mas até ao momento da publicação não obteve qualquer comentário.
27.6.23
Vagas de trabalho caem para 48 mil e pressionam desemprego a subir
Havia menos 6830 ofertas entre janeiro e março em comparação com o trimestre anterior. Vendedores e investigadores concentram maior número de lugares por preencher.
número de vagas de trabalho em Portugal continua a cair, pressionando o desemprego a subir. Entre janeiro e março, havia 48 103 postos por preencher, menos 6830 face ao trimestre anterior, quando existiam 54 933 lugares vazios, o que corresponde a uma quebra de 12,4%, segundo a mais recente síntese estatística publicada pelo Gabinete de Estratégia e Planeamento do Ministério do Trabalho. Note-se que também nos primeiros três meses do ano, a taxa de desemprego subiu para 7,2%, atingindo o nível mais alto desde 2020, ainda que, em abril, tenha voltado a cair para 6,8%, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE).
É o segundo trimestre consecutivo em que as vagas de emprego têm vindo a recuar, desde outubro a dezembro de 2022, interrompendo as subidas anteriores, revelam os vários relatórios consultados pelo DN / Dinheiro Vivo. Aliás, os lugares por preencher estiveram sempre em crescendo até ao terceiro trimestre de 2022, de julho a setembro, altura em que havia 61 625 ofertas de trabalho. Agora são 48103, menos 13 555, o que corresponde a um corte de 21,9%. Os dados estatísticos do gabinete do Ministério do Trabalho não explicam, contudo, o motivo desta redução, isto é, se as ofertas foram sendo preenchidas ou se as empresas estão a cortar na contratação de pessoal.
Praticamente todos os setores registaram uma diminuição de vagas de trabalho. As atividades artísticas e de espetáculo e desportivas assim como as relacionadas com informação e comunicação foram as que demonstraram a maior redução de ofertas de emprego, na comparação homóloga, com uma queda de 22,6% e de 21,4%, respetivamente. Em sentido contrário, as empresas da área financeira e dos seguros registaram um crescimento exponencial de vagas, tendo mais do que duplicado as ofertas. Os dados do gabinete de estatística mostram que, no primeiro trimestre, houve um aumento de 111,6% de lugares disponíveis naquele setor. Também as vagas na indústria da construção registaram uma subida, mas menos expressiva, de 28%.
Por grupos profissionais, a área que junta vendedores, trabalhadores de serviços pessoais, de proteção e segurança é a que concentra mais vagas por preencher: quase um quarto (24,3%) ou 11 680 do total de 48 103 lugares vazios. Em segundo lugar, com 16,2% das vagas de emprego, estão os especialistas das atividades intelectuais e científicas e, em terceiro, os trabalhadores não qualificados, com 14,5%.
Os dados mostram um país a duas velocidades. Por um lado, as empresas continuam a precisar de mão-de-obra barata com poucas qualificações, como é caso dos vendedores, que possuem o nível de competências 2, com ensino secundário completo mas sem licenciatura, ou mesmo de trabalhadores não qualificados, que só têm o ensino básico completo. Mas, por outro lado, há ainda muitas ofertas por preencher para profissionais com um elevado nível de competências, com ensino superior, e, por regra, com salários elevados, onde se encontram os especialistas intelectuais e científicos.
Observando a distribuição dos grupos profissionais por regiões, verificou-se que as empresas procuram sobretudo vendedores, trabalhadores de serviços pessoais, de proteção e segurança, mas também trabalhadores qualificados da indústria, construção e artífices e trabalhadores não qualificados. A Área Metropolitana de Lisboa e a região do Alentejo precisam de mais vendedores e de serviços de limpeza e segurança. O Centro e o Norte estão sobretudo a contratar na área da construção e indústria. Algarve, Açores e Madeira têm mais ofertas para trabalhadores não qualificados, muito por força do dinamismo da atividade do turismo, que exige mais empregados de mesa e de limpeza, por exemplo.
Se analisarmos a proporção de ofertas sem candidatos disponíveis sobre o número de empregos preenchidos e os que ainda permanecem por ocupar, Portugal registou, no primeiro trimestre do ano, uma taxa de empregos vagos de 1,3%, uma queda de 0,1 pontos percentuais face ao período homólogo e um recuo de 0,2 pontos percentuais relativamente ao trimestre anterior, entre outubro e dezembro de 2022, segundo as estatísticas do Gabinete de Estratégia e Planeamento do Ministério do Trabalho.
"As taxas de empregos vagos em maior destaque foram registadas nas atividades de Informação e de Comunicação, com 2,8 %, nos estabelecimentos do setor privado com 250 ou mais trabalhadores, com 1,9%, e na região do Algarve, com 2,9 %", de acordo com o mesmo boletim.
Comparativamente com os 25 países da União Europeia (UE) analisados, Portugal situou-se na 20. ª posição, com menos 1,5 pontos percentuais face à taxa da UE, que ficou nos 2,8%, no primeiro trimestre. A média da zona euro foi de 3%.
31.5.23
INE anuncia que inflação e desemprego baixaram em Portugal
Por Antena 1, in RTP
De acordo com o Instituto Nacional de Estatística, quer a inflação quer a taxa de desemprego baixaram em Portugal. Dois dados que melhoram a posição portuguesa e que coloca a economia nacional numa rota mais positiva.
E é no que diz respeito ao desemprego que surge a primeira reação, por parte da ministra do Trabalho, Ana Mendes Godinho, que refere o valor de 6,8 por cento, como o caminho certo.
A ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, presente na Comissão do Trabalho Segurança Social e Inclusão, na Assembleia da República, revelou também que que se está a verificar um aumento do valor dos salários em Portugal, com os ordenados declarados à Segurança Social a aumentaram em média, 13%.Quanto á inflação a subida dos preços em maio, em Portugal, foi de quatro por cento. O que significa, diz a instituição, um abrandamento.
Este é já o sétimo mês consecutivo de queda da inflação, que em abril tinha atingido os 5,7 por cento.
Quanto à economia, cresceu dois e meio por cento, nos primeiros três meses deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado.
24.5.23
Quase metade dos desempregados excluídos do subsídio
Quase metade dos inscritos (40,6%) nos centros de emprego continuava, em abril, sem beneficiar de uma qualquer prestação por desemprego, segundo os cálculos do Dinheiro Vivo com base no cruzamento dos dados do IEFP e da Segurança Social, divulgados esta segunda-feira.
Ainda assim, a taxa de cobertura tem vindo a aumentar, abrangendo 59,4% dos desempregados. Trata-se de um crescimento ligeiro, de nove décimas, face ao mês anterior, quando a percentagem de beneficiários se situava nos 58,5%, tendo superado, inclusivamente, os níveis de há um ano (59,1%).
Em abril, existiam 295 422 desempregados registados no IEFP, dos quais 175 492 tinham direito a um apoio social (59,4%). Enquanto 119 930, isto é, 40,6% do total, estavam excluídos da prestação.
Esta recuperação da cobertura do subsídio de desemprego nos últimos meses é explicada também pela redução do número de inscritos no IEFP, o que faz com que a proporção dos que recebem uma prestação suba face ao universo de desempregados.
Analisando a evolução da atribuição de prestações de desemprego ao longo de 2022 e até abril deste ano, verifica-se que outubro foi o mês com a taxa de cobertura mais baixa, abrangendo apenas 50% da população registada no IEFP.
Valor médio do subsídio sobe 1,28 euros
valor médio da prestação mensal do subsídio de desemprego subiu, em abril, 1,28 euros para 572,81 euros euros comparativamente com o montante apurado em março, de 571,53 euros.
Em termos homólogos, verificou-se, um crescimento superior, de 45,41 euros face ao valor médio do subsídio registado em abril de 2022: 527,4 euros.
Quanto às várias medidas de apoio aos desempregados, 133 301 beneficiários, o que representa cerca de 75,9% do total, estavam a receber o normal subsídio de desemprego. É importante ter em conta os requisitos que devem ser preenchidos para ter acesso a esta prestação. O trabalhador tem de residir em território nacional, estar em situação de desemprego involuntário, ter capacidade e disponibilidade para o trabalho. Para além disso, tem de ter o prazo de garantia exigido, isto é, 360 dias de trabalho por conta de outrem com registo de remunerações nos 24 meses anteriores à data do desemprego, e não pode acumular o subsídio com pensões ou outros apoios da Segurança Social.
A duração deste subsídio varia consoante a idade e o número de descontos e pode ir de cinco meses até um máximo de dois anos e meio. Quanto ao valor a receber, o montante diário é igual a 65% da remuneração de referência, que é calculada através da soma das remunerações dos primeiros 12 meses civis dos últimos 14, a contar do mês anterior ao da data do desemprego, incluindo os subsídios de férias e de natal, a dividir por 360 dias. O valor máximo é de 1201,08 euros, o equivalente a duas vezes e meia o valor do Indexante dos Apoios Sociais (IAS), que é de 480,43 euros.
Quando este apoio chega ao fim, há sempre a possibilidade de recorrer ao subsídio social inicial e subsequente. Contudo, é necessário cumprir a condição de recursos, o que muitas vezes dificulta a candidatura a estes apoios. O candidato tem de provar que não tem património mobiliário (contas bancárias, ações ou fundos de investimento) acima de 115 303,2 euros à data do requerimento e deve demonstrar que cada elemento do agregado não tem um rendimento mensal superior a 384,34 euros (80% do IAS).
Em abril, estavam a receber o subsídio inicial e subsequente 33 426 desempregados, o que corresponde a apenas 4,6% do universo de inscritos no IEFP.
Beneficiários do apoio a desempregados de longa duração dispara
O apoio, atualmente em vigor e criado em 2016, destinado aos desempregados de longa duração, ou seja, que estão inscritos nos centros de emprego há mais de 12 meses, é das medidas com menor adesão. Mas, em abril, tal como desde janeiro, tem-se verificado uma subida no número deste tipo de beneficiários que passou para 1 367: são mais 387, o que corresponde a um aumento de 39,5% comparativamente com o mês anterior, quando havia 980 pessoas a receber este subsídio. Em relação há um ano, o incremento é bem superior: são mais 1329 beneficiários face aos 38 que, em abril de 2022, eram elegíveis para este apoio. Trata-se de um aumento de quase 4000%.
O fim da prorrogação da concessão do subsídio de desemprego, no âmbito das medidas para minimizar os impactos provocada pela pandemia da covid-19, explicam esta subida abrupta do número dos beneficiários do apoio do desemprego de longa duração.
A medida extraordinária de apoio aos desempregados de longa duração corresponde a uma prestação mensal, de valor igual a 80% do montante do último subsídio social de desemprego recebido, a atribuir durante seis meses a partir da data da apresentação do requerimento. As condições de acesso são idênticas às do subsídio social inicial e subsequente, o que acaba por inviabilizar muitos pedidos.
23.5.23
Desemprego registado? Ministra destaca "valor mais baixo de sempre"
A ministra do Trabalho, Ana Mendes Godinho, sublinhou que o valor do desemprego registado nos centros de emprego é o "mais baixo de sempre", destacando a importância de "não desfocar" na missão, numa altura em que o Governo atravessa alguma turbulência política.
"Não desfocar nunca da nossa missão. Hoje [foi] divulgado o valor mais baixo de sempre desemprego IEFP no mês de abril", escreveu a ministra do Trabalho, numa publicação partilhada na rede social Instagram.
O número de desempregados inscritos nos centros de emprego caiu, em abril, 6% em termos homólogos, tendo-se reduzido 3,5% face ao mês anterior, anunciou o Executivo na segunda-feira.
Em comunicado, o Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social adiantou que o desemprego registado em abril (295.422 pessoas) diminuiu, "com uma redução de -3,5% (-10.735 pessoas) relativamente ao mês anterior e -6,0% abaixo do nível observado em abril de 2022 (-19.013 pessoas)".
Paralelamente, o número de jovens desempregados inscritos no IEFP - Instituto do Emprego e Formação Profissional voltou também a baixar, "sendo o mais reduzido de sempre (31.872 pessoas), nos meses de abril, com uma diminuição em cadeia de 6,9% (-2.360 jovens), e uma diminuição de 1,7% (-561 jovens) face ao mês homólogo", referiu a tutela.
Quanto ao desemprego de longa duração, registou "uma diminuição em cadeia de 0,7% (-798 pessoas), situando-se 24,4% abaixo do nível registado em abril de 2022 (-37.764 pessoas)", disse o Governo.
22.5.23
Desemprego: 23,3% das pessoas ficaram empregadas no primeiro trimestre
in Idealista
Do total de pessoas desempregadas no 4T de 2022, 57% continuaram sem emprego no 1T de 2023, e 23,3% transitaram para o emprego.
Do total de pessoas que estavam desempregadas no quarto trimestre de 2022, 57% (195,3 mil) continuaram sem emprego no primeiro trimestre de 2023, sendo que 23,3% (79,7 mil) transitaram para o emprego e 19,8% (67,7 mil) para a inatividade, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE). “No mesmo período, 24,5% (39,2 mil) dos homens desempregados e 22,1% (40,6 mil) das mulheres desempregadas transitaram para o emprego”, conclui o instituto.
“Do quarto trimestre de 2022 para o primeiro trimestre de 2023, 31,3% (62,2 mil) dos desempregados de curta duração e 15,5% (23,1 mil) das pessoas pertencentes à ‘força de trabalho potencial’ transitaram para o emprego”, lê-se no boletim do INE.
“Ao mesmo tempo, transitaram para um trabalho por conta de outrem 10,5% (72,9 mil) das pessoas que tinham um trabalho por conta própria e 21,0% (71,8 mil) das pessoas que se encontravam desempregadas”, acrescenta o gabinete nacional de estatísticas.
De acordo com a mesma fonte, considerando a origem no desemprego por sexo, 24,5% (39,2 mil) dos homens desempregados e 22,1% (40,6 mil) das mulheres desempregadas no quarto trimestre de 2022 transitaram para o emprego nos três meses seguintes.
“No mesmo período, 16,9% (26,9 mil) dos homens e 22,3% (40,8 mil) das mulheres no desemprego transitaram para a inatividade”, conclui o INE.
Número de desempregados inscritos nos centros de emprego cai 6% em abril
número de desempregados inscritos nos centros de emprego caiu, em abril, 6% em termos homólogos, tendo-se reduzido 3,5% face ao mês anterior, anunciou esta segunda-feira o Governo.
Em comunicado, o Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social adiantou que o desemprego registado em abril (295.422 pessoas) diminuiu, "com uma redução de -3,5% (-10.735 pessoas) relativamente ao mês anterior e -6,0% abaixo do nível observado em abril de 2022 (-19.013 pessoas)".
Paralelamente, o número de jovens desempregados inscritos no IEFP - Instituto do Emprego e Formação Profissional voltou também a baixar, "sendo o mais reduzido de sempre (31.872 pessoas), nos meses de abril, com uma diminuição em cadeia de 6,9% (-2.360 jovens), e uma diminuição de 1,7% (-561 jovens) face ao mês homólogo", referiu a tutela.
Quanto ao desemprego de longa duração, registou "uma diminuição em cadeia de 0,7% (-798 pessoas), situando-se 24,4% abaixo do nível registado em abril de 2022 (-37.764 pessoas)", disse o Governo.
Assim, entre março e abril deste ano, "o desemprego registado diminuiu em cadeia em todas as regiões, com destaque para a redução de 21,8% na região do Algarve".
Por fim, indicou a tutela, "a nível setorial, registaram-se descidas em cadeia em todos os setores de atividade económica", nomeadamente no agrícola (-9,0%), secundário (-1,6%) e terciário (-3,5%)".
Em termos homólogos, registaram-se descidas também em todos os setores, com o agrícola a cair 1,7%, o secundário 3,9% e o terciário 5,0%, concluiu.
Segundo os dados hoje divulgados pelo IEFP, no final de abril, as ofertas de emprego por satisfazer, "totalizavam 15.468, nos serviços de emprego de todo o país", sendo que este número corresponde a uma diminuição anual de 23,4% e uma redução, face ao mês anterior, de 6,9% das ofertas.
De acordo com o instituto, ao longo do mês de abril, inscreveram-se nos serviços de emprego 37.135 desempregados, um número que "é inferior ao observado no mesmo mês de 2022 (-512; -1,4%) e também em relação ao mês anterior (-10.990; -22,8%)".
A entidade revelou ainda que as "ofertas de emprego recebidas ao longo deste mês totalizaram 8.782 em todo o país", um valor inferior ao do mês homólogo, em 25,9% e menor face ao mês anterior em 40,4%.
"As atividades económicas com maior expressão nas ofertas de emprego recebidas ao longo deste mês (dados do continente), por ordem decrescente, foram as seguintes: as 'atividades imobiliárias, administrativas e dos serviços de apoio' (23,1%), o 'alojamento, restauração e similares' (16,0%) e o 'comércio por grosso e a retalho' (14,7%)", referiu o IEFP.
Por sua vez, as colocações realizadas durante o mês de abril totalizaram 7.647 em todo o país, segundo o IEFP, que concluiu que este número "é inferior ao verificado em igual período de 2022" em 15,4% e também menor em relação ao mês anterior em 15,3%.
Segundo o instituto, a análise das colocações efetuadas por grupos de profissões, no continente, "mostra uma maior concentração nos 'trabalhadores não qualificados' (34,8%), nos 'trabalhadores dos serviços pessoais, de proteção e segurança e vendedores' (22,0%), e no 'pessoal administrativo" (9,9%)".
18.5.23
Associação Cais. Aumentam pedidos de jovens licenciados e de trabalhadores "pobres"
Ficou conhecida no apoio aos sem abrigo que ainda hoje vendem a revista Cais, mas nesta altura junta-se uma outra valência que ganha cada vez mais peso: a ajuda que a Associação dá a pessoas desempregadas com dificuldades em se enquadrar no mercado de trabalho.
Só no ano passado mais de meio milhão de pessoas beneficiaram dos serviços da Cais incluindo os seus agregados familiares.
Nesta altura há cada vez mais licenciados e pessoas mais novas a pedir ajuda que se juntam a quem antes já pedia apoio por ser mais vulnerável.
A Cais é uma Associação de Solidariedade Social sem fins lucrativos, tem vários projetos para apoiar cidadãos em risco de exclusão social, e conta com mais de uma centena de voluntários.
Nesta altura, a Associação aposta no apoio a pessoas desempregadas com dificuldades em se enquadrar no mercado de trabalho.
Reportagem de Arlinda Brandão.
57% dos desempregados no fim de 2022 continuavam sem emprego no 1.º trimestre de 2023
No mesmo período, 24,5% dos homens desempregados e 22,1% das mulheres desempregadas encontraram emprego
Mais de metade (57,0%) dos desempregados no final de 2022 continuavam sem emprego no primeiro trimestre de 2023, tendo menos de um quarto (23,3%) encontrado trabalho e 19,8% transitado para a inatividade, segundo dados divulgados esta quarta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).
“Do total de pessoas que estavam desempregadas no quarto trimestre de 2022, 57,0% (195,3 mil) permaneceram nesse estado no primeiro trimestre de 2023, 23,3% (79,7 mil) transitaram para o emprego e 19,8% (67,7 mil) transitaram para a inatividade”, apontam as “Estatísticas de Fluxos entre Estados do Mercado de Trabalho” do Instituto Nacional de Estatística (INE).
Os dados divulgados esta quarta-feira pelo instituto apontam que, do total de pessoas que estavam empregadas no quarto trimestre de 2022, 96,3% (4.723,2 mil) permaneceram nesse estado no primeiro trimestre de 2023, enquanto 1,6% (80,6 mil) transitaram para o desemprego e 2,0% (99,2 mil) passaram para a inatividade.
“Em consequência, o fluxo líquido do emprego (total de entradas menos total de saídas) foi de sinal positivo e estimado em 21,8 mil pessoas”, enquanto “o fluxo líquido do desemprego foi de sinal positivo e estimado em 37,6 mil pessoas, o que resulta do total de pessoas que transitaram para o desemprego (185,0 mil) ter sido superior ao total das que saíram desse estado (147,4 mil).”.
Considerando os fluxos com origem no desemprego por sexo, o INE estima que 24,5% (39,2 mil) dos homens desempregados e 22,1% (40,6 mil) das mulheres desempregadas no quarto trimestre de 2022 transitaram para o emprego no primeiro trimestre de 2023.
No mesmo período, 16,9% (26,9 mil) dos homens e 22,3% (40,8 mil) das mulheres no desemprego transitaram para a inatividade.
Analisando os fluxos líquidos trimestrais do desemprego desde o início da série de 2011, “pelo terceiro trimestre consecutivo, verifica-se que o fluxo líquido entre a inatividade e o desemprego é aquele que mais contribui para a variação positiva do desemprego”.
De acordo com o INE, do quarto trimestre de 2022 para o primeiro trimestre de 2023, 31,3% (62,2 mil) dos desempregados de curta duração e 15,5% (23,1 mil) das pessoas pertencentes à “força de trabalho potencial” transitaram para o emprego.
“Ao mesmo tempo, transitaram para um trabalho por conta de outrem 10,5% (72,9 mil) das pessoas que tinham um trabalho por conta própria e 21,0% (71,8 mil) das pessoas que se encontravam desempregadas”, refere.
Do total de trabalhadores por conta de outrem que, no quarto trimestre de 2022, tinham um contrato de trabalho com termo ou outro tipo de contrato, 21,0% (151,4 mil) passaram a ter um contrato sem termo no primeiro trimestre de 2023.
Quanto às pessoas que, no quarto trimestre de 2022, tinham um emprego a tempo parcial, verifica-se que 17,1% (66,1 mil) passaram a trabalhar a tempo completo no primeiro trimestre de 2023.
Relativamente à percentagem de pessoas que permaneceram empregadas entre o final de 2022 e os primeiros três meses de 2023, mas que mudaram de emprego, aumentou 0,2 pontos percentuais em relação ao último trimestre, fixando-se nos 3,8% (177,7 mil).
Os resultados do quarto trimestre de 2022, divulgados pelo Eurostat em 17 de março de 2023 e relativos aos fluxos entre estados do mercado de trabalho da população com idade dos 15 aos 74 anos, indicam que transitaram para o emprego 25,3% das pessoas que em Portugal estavam desempregadas no terceiro trimestre de 2022, sendo este valor igual ao da União Europeia.
No mesmo período, 21,4% das pessoas desempregadas em Portugal transitaram para a inatividade, ao passo que na União Europeia este fluxo fixou-se em 24,2%.
16.5.23
Mercado de trabalho "começou a arrefecer" em Portugal. O aviso de Bruxelas
No final do ano passado, o desemprego aumentou e o emprego contraiu em Portugal, o que para a Comissão Europeia pode apontar para um arrefecimento do mercado de trabalho, segundo apontam nas previsões económicas de primavera divulgadas esta segunda-feira.
Ao contrário do que se verificou na média europeia, “a República Checa, a Letónia, a Lituânia, a Hungria e Portugal comunicaram uma contração do emprego” no quarto trimestre de 2022, sinaliza a Comissão. “Além disso, enquanto na maioria dos países a taxa de desemprego continuou a diminuir ou permanecer razoavelmente estável ao longo de 2022, as taxas aumentaram na Hungria, Portugal, Luxemburgo, Lituânia e Chipre”, acrescentam.
Este cenário “sugere que os mercados de trabalho começaram a arrefecer nestas economias”, notam, ainda que ressalvem que “até agora não há indícios de uma reviravolta radical no agregado”.
Já no primeiro trimestre deste ano, a taxa de desemprego subiu para 7,2%. “Os números aumentaram no final de 2022 e no início de 2023, impulsionados por um forte aumento na atividade de procura de emprego, enquanto o emprego cresceu apenas marginalmente”, destaca Bruxelas.
A Comissão Europeia antevê que no conjunto do ano, o desemprego se vá fixar nos 6,5%, caindo para 6,3% em 2024. Estas previsões são, ainda assim, mais otimistas que as do Governo, que estima uma taxa de desemprego de 6,7% e 6,4% neste ano e no próximo, respetivamente, no Programa de Estabilidade.
Bruxelas nota ainda que os rendimentos reais por empregado estagnaram em Portugal no ano passado, numa altura em que a inflação determinou a perda do poder de compra. Já neste ano e no próximo, deverá verificar-se um “aumento moderado do emprego e dos salários reais, compensando os funcionários pela perda de poder de compra em 2022″.
15.5.23
José Caldas de Almeida: “A ameaça de pobreza, o receio do desemprego e as dívidas são um fator fortíssimo na base de doenças mentais”
Mais de um quinto dos portugueses sofre de algum tipo de perturbação psiquiátrica, o segundo valor mais alto da Europa. Neste primeiro episódio do podcast ‘Que voz é esta?’, o psiquiatra e ex-coordenador nacional para a saúde mental José Miguel Caldas de Almeida traça um retrato da saúde mental da população e explica os fatores culturais, económicos e sociais que contribuem para a elevada prevalência de perturbações da ansiedade em Portugal.
“É mau para a saúde mental das pessoas ser pobre, é ainda pior tornar-se pobre e é muitíssimo pior ser pobre ao lado dos muito ricos”, diz o professor catedrático jubilado de Psiquiatria. Com os preços a subir, as rendas e prestações a disparar e as dificuldades económicas a fazerem-se sentir cada vez mais, é normal que problemas como a ansiedade e a depressão aumentem ainda mais nesta conjuntura.
Nesta entrevista, José Miguel Caldas de Almeida critica o excesso de medicação, sobretudo dos ansiolíticos, e elenca as melhores estratégias de prevenção, tanto a nível das políticas públicas como para cada um de nós, individualmente.
“35% das pessoas com depressão não procuram cuidados de saúde. Sabem porquê? Porque acham que andam cansadas. Não têm a perceção de que têm um problema que precisa de ser tratado”
Caldas de Almeida será o consultor científico do “Que Voz é Esta?”, o podcast do Expresso dedicado à saúde mental. Todas as semanas, as jornalistas Joana Pereira Bastos e Helena Bento vão dar voz a quem vive com ansiedade, depressão, fobia ou outros problemas de saúde mental, e ouvir os mais reputados especialistas nesta área.
Sem estigma nem rodeios, vão falar de doenças e sintomas, tratamentos e terapias, mas também de prevenção e das melhores estratégias para promover o bem-estar psicológico.
Oiça o podcast todas as segundas-feiras em exclusivo em Expresso.pt. ‘Que voz é esta? Vamos tratar da nossa saúde mental’ tem o apoio da Médis.
Falta mão-de-obra e sobe o desemprego
A subida do desemprego e, sobretudo, a diminuição de empregos qualificados agravam o perfil de especialização do nosso aparelho produtivo. Importa que este problema seja encarado de frente, não o mantendo na sombra.
Recentemente, tivemos algumas notícias positivas sobre o comportamento da economia portuguesa. Todavia, há uma má notícia que merece ser aprofundada, tal é a sua importância para o futuro económico do país. Refiro-me à subida do desemprego para 7,2% da população ativa, contra 5,8% um ano antes; também, e sobretudo, impressiona a diminuição de empregos qualificados, nomeadamente de pessoas com licenciatura universitária.
É bem sabido que falta gente para trabalhar. No turismo, na construção civil e na agricultura, por exemplo, a escassez de mão-de-obra só é em parte ultrapassada pelo recurso a imigrantes. Estes aceitam trabalhar recebendo salários muito baixos - quando os recebem.
A carência de trabalhadores nas atividades que, entre nós, criam algum emprego tende a subir um pouco os salários. Pelo contrário, muitos dos mais qualificados não encontram no país quem os empregue, pagando um salário digno. Por isso numerosos jovens licenciados emigram; ou seja, Portugal está a subsidiar empregos no estrangeiro, com o que gastou na formação desses licenciados.
Entretanto, não só não muda o perfil de especialização do nosso aparelho produtivo, assente em setores de baixa produtividade e de baixos salários, como esse perfil se vai agravando. É o pior de dois mundos: faltam trabalhadores nos setores de baixos salários e escasseiam ofertas de empregos qualificados. Como se sai disto?
Não há soluções mágicas. Mas uma coisa é certa: não se ultrapassa este círculo vicioso com retórica propagandística, nem com exortações aos empresários, para que empreguem mais jovens licenciados.
Também é evidente que uma mudança estrutural como esta não é compatível com a conhecida alergia a reformas estruturais do primeiro-ministro A. Costa. Importa, sim, que este problema seja encarado de frente, não o ignorando nem o mantendo na sombra. É imperativo que a torrente de “casos e casinhos” governamentais permita que os governantes, os partidos e a sociedade civil tenham tempo e espaço para debater a sério a questão.
Francisco Sarsfield Cabral