10.8.23

Ao fim de nove meses de queda, número de trabalhadores licenciados voltou a subir

Sérgio Aníbal, in Público

Depois de atingir um máximo histórico no segundo trimestre de 2022 e de uma queda acentuada nos três trimestres seguintes, o número de licenciados a trabalhar em Portugal deu agora sinais de retoma.

O recuo no número de trabalhadores em Portugal com o ensino superior completo que se verificava desde o início do ano passado foi interrompido no segundo trimestre deste ano. Ainda assim, o balanço dos últimos 12 meses continua a este nível a ser muito negativo.

Nos dados resultantes do inquérito ao emprego publicados esta quarta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), que revelaram, com a ajuda do regresso das actividades do Verão, uma redução da taxa de desemprego dos 7,2% do primeiro trimestre para 6,1% no segundo, verifica-se também a interrupção de uma tendência preocupante a que se vinha assistindo no mercado de trabalho em Portugal nos três trimestres anteriores.

Pela primeira vez desde o segundo trimestre de 2022, o momento em que se atingiu um máximo histórico neste indicador, o número de trabalhadores em Portugal com o ensino superior concluído subiu face ao trimestre imediatamente anterior. Dos quase cinco milhões de trabalhadores em Portugal, 1635,7 milhares têm agora um curso superior concluído, um valor que representa um aumento de 34,4 mil face ao primeiro trimestre deste ano.

Esta subida quebra a sequência negativa dos últimos três trimestres, mas fica no entanto longe de compensar as perdas registadas durante aquele período. De facto, quando se comparam os números registados no segundo trimestre deste ano com os do período homólogo do ano anterior, aquilo que se observa é ainda assim uma descida significativa do número de trabalhadores com o ensino superior.


Há um ano havia mais 128 mil trabalhadores com o ensino superior do que agora, tendo a percentagem de licenciados no mercado de trabalho português baixado do máximo histórico de 36%, atingido no segundo trimestre de 2022 para 32,8% agora.

Num mercado de trabalho em que o emprego continuou a crescer (mais 54,7 mil empregos face ao trimestre imediatamente anterior e mais 77,6 mil empregos face ao período homólogo do ano anterior), esta quebra em termos homólogos no número de trabalhadores licenciados tem como contraponto um aumento do número de trabalhadores com níveis de ensino mais baixos. Passou a haver, nos últimos 12 meses, mais 171,3 mil trabalhadores que não foram além do terceiro ciclo do ensino básico.


As últimas décadas têm sido, como seria de esperar, de aumentos progressivos da percentagem de licenciados no mercado de trabalho português. Há dez anos, no segundo trimestre de 2013, 22,1% dos trabalhadores portugueses tinham concluído o ensino superior. Agora, depois do máximo de 36% há um ano, este indicador está mais de dez pontos percentuais acima.


O que é que terá acontecido nos três trimestres anteriores para se assistir a um retrocesso? A explicação poderá estar na forma como a economia portuguesa tem crescido mais recentemente. De facto, a maior parte dos empregos criados em Portugal nos últimos 12 meses veio, mostram os dados publicados esta quarta-feira pelo INE, do sector do alojamento e restauração (mais 74,3 mil empregos) e do sector da construção (mais 40,7 mil empregos). Estes são sectores que, em média, têm trabalhadores com níveis de ensino mais baixos do que, por exemplo, na educação ou na administração pública, sectores onde se assistiu a uma redução do nível de emprego.

A redução do número de licenciados ao longo do último ano não se fez sentir apenas entre quem tem emprego. Os dados do INE mostram uma diminuição de valor idêntico do total da população licenciada, o que pode apontar para que esta evolução esteja a acontecer em simultâneo com fluxos migratórios que conduzem à saída de mais licenciados e à entrada de mais pessoas com níveis de ensino inferior.


Resta saber se a tendência para o futuro irá ser a registada ao longo da maior parte do último ano ou se Portugal volta, como aconteceu no segundo trimestre deste ano, à tendência de longo prazo de reforço das qualificações do seu mercado de trabalho.


Em termos gerais, os dados trimestrais do emprego apresentados pelo INE foram influenciados, como é habitual nesta altura do ano, pelo reforço da actividade económica relacionada com o Verão. Os números divulgados não levam em consideração (como acontece com o PIB) os efeitos sazonais e, por isso, o segundo trimestre de cada ano costuma apresentar uma evolução mais positiva dos indicadores do mercado de trabalho.

Isso terá ajudado à redução da taxa de desemprego de 7,2% no primeiro trimestre do ano para 6,1% no segundo, o que constituiu uma inversão da tendência de subida que se estava a verificar nos trimestres anteriores, mas mesmo assim não chegou para colocar a taxa de desemprego ao nível mais baixo (5,7%) que se verificava no trimestre homólogo do ano passado.


Quando se olha para os empregos criados no decorrer do segundo trimestre deste ano (face ao trimestre imediatamente anterior), verifica-se que a maior parte dos ganhos se verifica nos serviços, especialmente em áreas relacionadas com o turismo. Dos 54 mil empregos criados, um pouco mais de 30 mil foram nos serviços, com as actividades dos transportes e do alojamento e restauração a contribuírem com quase 10 mil cada.

A taxa de desemprego entre os jovens, que continua acima da média da UE, desceu de 19,6% no primeiro trimestre deste ano para 17,2% no segundo trimestre. Este indicador, no entanto, subiu 0,5 pontos percentuais face ao período homólogo do ano anterior.


A taxa de subutilização do trabalho – uma medida mais alargada de desemprego que inclui, por exemplo, aqueles que já desistiram de procurar emprego – desceu de 12,5% no primeiro trimestre para 11,5% no segundo, registando mesmo assim uma subida de 0,3 pontos percentuais face ao mesmo período do ano passado.

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