28.1.15

A Europa no Mundo

por Adriano Moreira, in Diário de Notícias

As notícias sobre a série de eleições europeias que vão realizar-se, e que deram um aviso na Grécia, não anunciam qualquer sinal positivo de que o projeto de unidade seja fortalecido pela definição e sustentação de um conceito estratégico que finalmente assegure o projeto secular de unidade, institucionalmente garantida, e não apenas fugazmente anunciada pelo método das alianças ocasionais para enfrentar guerras planeadas e frequentes. A unidade possível que, recorrendo a vários modelos conhecidos, pudesse articular em paz os membros da União com os seus vizinhos europeus, como é a Rússia ortodoxa, não tem alento, concretamente não mereceu sequer atenção sólida a declaração de fronteira de interesses, que a Rússia proclamou e que a NATO antecedera. Simultaneamente, a erupção do movimento das pequenas pátrias ameaça não apenas a unidade dos Estados aderentes à União, mas também a consistência desta. A organizada governança global que pertence à ONU, e regional que a União Europeia assumiu, parecem em pousio e à espera de saber se a primeira é mais do que um templo de preces a Deuses desconhecidos, e se a segunda evoluirá para uma Alemanha europeia ou para uma Europa alemã. Infelizmente, a divisão entre Europa rica e Europa pobre, que fez reaparecer o Limes do Império Romano, abala seriamente o projeto já tão seriamente comprometido, porque até agora a única coisa politicamente sacramentada era o credo do mercado, a sacralidade dos juros esmagadores, a intocabilidade do projeto de governo chamado Orçamento que aponta para o Estado mínimo ao preço de tornar máximas as perdas da dimensão efetivamente nacional, quando passo a passo é de origem frequentemente indeterminada, excluindo a nacional, o poder financeiro que domina a crise mundial. O resultado das eleições na Grécia, com a vitória espetacular do Syrisa, tanto pode ser lida como um tema isolável que apenas diria respeito à relação da Grécia com a União, como, diversa e talvez mais acertadamente, um facto que alarga o conjunto de desafios que o projeto europeu enfrenta, quanto à forma e à substância, nesta data de crise mundial. De facto, como já foi dito, o próprio planeta foi tornado minúsculo pelos homens para enfrentar as questões que se multiplicaram, enfrentando, ao mesmo tempo, a como que contração do tempo, e a urgência de reinventar um direito mundial, instituições que funcionem abrangentes do planeta, o que foi chamado uma época do "homem" (Nicolas), na qual o volume e exigência da regulação económica e financeira planetária faz diminuir a atenção que não dispensam os outros problemas que se acumulam. A eleição de domingo fez recordar que aquilo que os analistas apontam como desafios planetários se reproduz com agudeza nesta pequena parcela chamada Europa, onde se acumulam os factos que exigem uma reinvenção dos métodos de ação para que a "circunstância" não torne definitivamente inviável o projeto, em relação ao qual tem de reconhecer-se que a Europa já não pode considerar-se "a luz do mundo". Não se trata apenas de dívida, juros, mercado, austeridade, miséria, desemprego, confiança entre sociedade e governos. Trata-se de, ao mesmo tempo, partidos contrários à União, ou partidos defensores da manutenção ou da mudança das políticas da União, que estão desafiados pelos movimentos das pequenas pátrias (Espanha, Bélgica, Itália, Inglaterra, por exemplo), mas por razões contraditórias festejam a eleição, enquanto as fugas de capitais começaram, as bolsas dão sinal, e a segurança e defesa mostra dificuldades quer quanto aos recursos disponíveis quer quanto à identificação das ameaças. Em suma, separatismos europeus, indefinição das fronteiras amigas da Europa, terrorismo, comércio mundial, regulamentação financeira e reforma bancária, paraísos fiscais, tudo na pergunta (Torreblanca) que se traduz em "saber quem manda na Europa". Aquilo que parece mais claro, numa Europa sem conceito estratégico, é que o fenómeno Syrisa marca a data do revisionismo necessário para que o sonho da unidade europeia não seja atingido.