1.7.15

Crianças que trabalham para sobreviver

autoria Md Shahnewaz Khan, in Público online (P3)

O fotógrafo bangladeshiano MD Shahnewaz Khan desenvolve, há quatro anos, o projecto "Fallen Stars", que se debruça sobre o tema do trabalho infantil no Bangladesh. O tópico é, para si, tudo menos uma novidade. "Tive contacto com o trabalho infantil desde muito cedo, em casa. As crianças da minha família trabalhavam. Brincava com crianças-trabalhadoras que eram da minha idade, familiares e amigos. Isso foi determinante para dar início ao projecto", admitiu Shahnewaz em entrevista ao P3, via email. O título "Fallen Stars" ("Estrelas Cadentes", tradução livre) é uma referência ao que considera "crianças desafortunadas". "Estão impedidas de usufruir dos seus direitos fundamentais. Se tivessem acesso à educação, seriam verdadeiras estrelas, como outras crianças, e não estrelas cadentes. Poderiam mostrar verdadeiro talento." O fotógrafo dedica-se, em exclusivo, a temas relacionados com os Direitos Humanos. Diz-se um apaixonado pelas pessoas, pelas suas histórias de vida, pela sua cultura e pela forma como cada um luta pela sobrevivência. "O trabalho infantil é muito comum no Bangladesh devido à pobreza e às dinâmicas familiares. Existem organizações não governamentais que tentam intervir, mas são muito poucas. São milhões as crianças que trabalham, demasiadas para tão poucas ONG. O Governo considera esta práctica ilegal, mas nada faz além disso. Do meu ponto de vista, não consigo ser contra o trabalho infantil, neste contexto, por um motivo simples: as crianças têm de comer e a família não consegue alimentá-las. Elas têm de sobreviver." No Bangladesh, não existe outra opção. MD Shahnewaz Kahn acompanhou diversas crianças em três contextos de trabalho distintos: uma aterro de resíduos domésticos, uma fábrica de tijolos e uma de alumínio. Segundo dados da UNICEF de Janeiro de 2014, 5,6 milhões de um total de 26 milhões de crianças do Bangladesh não frequentam a escola. Trabalham sem condições de segurança, estão vulneráveis a maus tratos, violência e malnutrição. "O Popy trabalha numa lixeira e ganha 25 dólares por mês, menos de um dólar por dia. O Shafik trabalha numa fábrica de tijolos. O seu pai aceitou receber 80 dólares por seis meses do seu trabalho, menos de meio dólar por dia. O Shakil, que está coberto de pó perigoso na fábrica de alumínio, ganha seis dólares por semana. Quase um dólar por dia. Poli trabalha numa casa como empregada doméstica e ganha 15 dólares, meio dólar por dia." O objectivo do fotógrafo é realizar trabalho fotográfico sobre o tema do trabalho infantil em zonas de guerra, nomeadamente no Afeganistão, no Iraque e na Palestina, em zonas onde vigoram sistemas totalitários e outros onde o fenómeno é especialmente predominante. "Quero reunir todo o trabalho infantil num único livro, retratando crianças trabalhadoras que vivem em diferentes partes do mundo. Quero trabalhar por todo o mundo, este é o meu objectivo a longo-prazo." Em paralelo, Shahnewaz desenvolve o projecto "Yeah I'm alive", que retrata as dificuldades por que passam as pessoas idosas que vivem sem qualquer apoio familiar. O autor viu o seu trabalho publicado recentemente na CNN. Ana Maia