10.7.15

Passos aponta demografia, desemprego e segurança social como desafios

in Jornal de Notícias

O primeiro-ministro apontou a inversão da atual situação demográfica, a redução do desemprego estrutural e a correção do "profundo desequilíbrio" da segurança social como desafios dos próximos anos.

Numa intervenção em que não apontou soluções concretas para esses desafios, no encerramento do 6.º Congresso dos Economistas, na Gulbenkian, em Lisboa, Passos Coelho considerou também que vai ser preciso reduzir mais a despesa pública primária e que isso "ainda exigirá uma boa discussão" em Portugal.

Segundo o chefe do executivo PSD/CDS-PP, é preciso igualmente resolver o "problema das carteiras dos bancos", fazendo uma "inflexão" do financiamento do setor imobiliário para a economia produtiva, para evitar "um desastre económico lá mais para a frente", mas no seu entender "isso tem vindo a ser resolvido".

Referindo-se à pirâmide etária portuguesa, Passos Coelho afirmou que "o país não será sustentável se a atual demografia se mantiver" e que são necessárias políticas "mais consistentes" para "inverter a atual situação", aumentando a proporção de população jovem.

"Isso tem um reflexo também nos sistemas previdenciais. Claro que nós sabemos que hoje o profundo desequilíbrio dos sistemas previdenciais não resulta apenas do aspeto demográfico. Está também relacionado com a evolução dos salários e, portanto, também do emprego", considerou.

Portugal tem "um problema de desemprego estrutural muito elevado, situado acima de 10% há vários anos", prosseguiu, concluindo: "Ora, se este pressuposto se mantiver, nenhuma reforma das que foi realizada em Portugal na última década e meia terá pressupostos realistas para se poder manter".

De acordo com Passos Coelho, a situação da segurança social é a seguinte: "A dívida implícita dos sistemas previdenciais, quando tomamos o horizonte de 2060 ou de 2075, é já hoje significativa, não inferior a 80% do Produto Interno Bruto (PIB), e provavelmente muito próxima de 180% do PIB - depende de outros pressupostos que possam ser tidos em conta".

"Estes dados estão publicados através do Gabinete de Estudos e Planeamento do Ministério Solidariedade e representam uma visão do profundo desequilíbrio previdencial que temos, e que merece uma correção tão rápida quanto possível, e que só pode ser feita, evidentemente, respondendo ao problema estrutural: uma parte dele do lado da demografia, outra parte do lado económico", acrescentou.

Passos Coelho insistiu que esse "é um desafio muito relevante" e que, "quanto mais depressa e de uma forma mais alargada puder ser respondido, melhor para todos".

No final do seu discurso, o primeiro-ministro defendeu que "a despesa primária estrutural ainda vai ter de baixar", porque "são esses os desígnios do próprio Pacto Orçamental" e é essa "a exigência dos bolsos dos contribuintes".

Quanto à situação da banca, Passos Coelho alegou que atualmente Portugal tem um "setor financeiro oxigenado", mas não foi possível ainda reverter a dimensão que o financiamento ao setor da habitação e do imobiliário tem, desde "1997, ou 96, ou 95", face ao investimento na economia produtiva.

"Está bem de ver que, se não formos capazes de inverter esta situação, não teremos economia produtiva e teremos um desastre económico lá mais para a frente, mas creio que há condições para ir fazendo essa inflexão. O problema das carteiras dos bancos era demasiado grande para poder ser resolvido de uma assentada, mas creio que tem vindo a ser resolvido a um ritmo que é consistente com a preservação da estabilidade financeira, e sem o recurso a financiamento externo mais avultado", acrescentou.