21.4.16

O envelhecimento pode ser tratado como se fosse uma doença?

Alexandra Campos, in Público on-line

Conseguir atrasar o envelhecimento é a última fronteira, diz Sobrinho Simões


Por que motivo é que destaca os ensaios clínicos naquilo que designa como a era da medicina de precisão?
O futuro passa pelos ensaios clínicos unipessoais. A imunoterapia já é em alguns casos claramente personalizada. [O ensaio clínico] passa a ser adaptativo, vai mudando consoante a resposta [do doente]. Mas, agora, a grande discussão é sobre se se pode fazer ensaios clínicos sobre o envelhecimento, saber se o envelhecimento é uma doença. O envelhecimento é um processo natural que se pode retardar. Mas quais são as consequências? Só para ter uma ideia, há uma molécula que damos aos diabéticos – metformina - que muita gente quer testar para o anti-envelhecimento. Conseguir atrasar o envelhecimento é a última fronteira.

Mas o que é que isso significa, na prática?
Quem é diabético ou obeso, se as patologias estiverem descontroladas, perde qualidade de vida. Estas pessoas têm maior incidência de cancros e cancros mais agressivos. Ao fazerem [terapêutica] com metformina, também estão a fazer uma espécie de terapêutica anti-cancro. Mas é preciso ver se, ao longo do tempo, não virão a desenvolver outras doenças.

Os países têm capacidade financeira para absorver toda esta inovação?
Temos a experiência do tratamento da hepatite C, o medicamento é caro mas o doente fica curado. Com o cancro avançado, os [tratamentos] inovadores prolongam e dão qualidade de vida mas não diminuem a sobrecarga sobre o sistema de saúde. Por isso, há uma tarefa muito importante nos cancros com agregação familiar (não os hereditários, que representam cerca de 5% do total). Estes cancros serão entre 10 a 15% do total e não têm genes conhecidos. É necessário criar rastreios especializados de forma a conseguirmos diminuir o número de cancros avançados. O problema é que as instituições que fazem os rastreios ficam sobrecarregadas, têm que ser protegidas, ser financiadas por isso. Quanto aos gastos, vamos ter que fazer o julgamento do custo-benefício.