21.4.16

Maria Arena: Pobreza feminina, o resultado de uma vida de discriminação

Maria Arena, in Parlamento Europeu

A pobreza na Europa, que afeta mais mulheres do que homens, tem vindo a aumentar desde o inicio da crise económica. A comissão parlamentar dos Direitos da Mulher e Igualdade dos Géneros votou no dia 19 de abril um relatório sobre o tema. Em entrevista, a responsável pelo relatório, Maria Arena (S&D, Bélgica), destacou causas da pobreza feminina e apresentou diferentes medidas para garantir a igualdade de oportunidades para todos.

Existe um problema específico de pobreza feminina na União Europeia? Em que se distingue da pobreza masculina ou da pobreza em geral?

Há mais mulheres do que homens a viver na pobreza. Neste momento, mais de 65 milhões de mulheres vivem em pobreza na Europa, face a 57 milhões de homens. As causas da pobreza também são diferentes entre mulheres e homens. Existem mais mães solteiras a sustentar as crianças depois de uma separação. Para além disso, existe a questão da discriminação no mercado de trabalho. Os programas de austeridade, depois da crise, tiveram um impacto mais negativo nas mulheres. As mulheres usam mais os serviços públicos e muitas trabalham no setor público. Os cortes nos serviços públicos também afetam mais as mulheres.

Que grupos são mais afetados?

Existe a situação das mulheres que vivem sozinhas com os seus filhos. Ao lidarmos com o problema estamos não só a tentar resolver o problema da pobreza entre as mulheres mas também a pobreza infantil. Em segundo lugar, a precariedade do trabalho. As mulheres têm mais probabilidade de terem um trabalho precário, ou um trabalho a tempo parcial, por exemplo. Há quem diga que são as mulheres que escolhem ter um emprego a tempo parcial, não estou convencida de que assim seja. Um trabalho precário não é uma escolha. O terceiro ponto é o papel tradicional como é vista a mulher. A discriminação passa também por não se conseguir um trabalho porque se tem um bebé ou se vai ter um bebé. Felizmente existe uma pensão para mulheres a partir dos 65 anos de idade e em situações de pobreza. Durante as suas vidas foram confrontadas com colapsos salariais, carreiras congeladas e não têm segurança social para as suas pensões. Toda a vida de uma mulher é feita de discriminação - na educação, nos trabalhos, nos cuidados das crianças, nos cuidados com a família, e tudo isto coloca a mulher na pobreza.

No relatório faz referência a uma "feminização da pobreza" e à influência de estereótipos. As razões da pobreza das mulheres também se encontram na nossa sociedade?

Costumamos dizer que a "economia" é para os homens e o "social" para as mulheres. A economia é trabalho e o social é a família. O que pedimos é uma abordagem legislativa para que as licenças parentais concedam as mesmas oportunidades aos homens e às mulheres face aos seus filhos, e o mesmo face às questões laborais. Tal como acontece nos países escandinavos, é possível manter igualdade entre o homem e a mulher. De outra forma, é impossível combater a pobreza feminina.

O que deveriam fazer a UE e os Estados-Membros para combater a pobreza feminina?

Penso que, em primeiro lugar, temos de compreender exatamente o que é a pobreza feminina na Europa. Precisamos de mais dados estatísticos e de outros indicadores. Precisamos de ter um sistema de garantia infantil para lutar contra a pobreza infantil, incluindo o acesso a cuidados de saúde, educação, cultura e nutrição adequados. Depois é preciso garantir uma abordagem de género para a Garantia para a Juventude que previna a pobreza feminina. Por último, é necessário lutar pela [igualdade] parental, por exemplo, nas licenças de maternidade e paternidade, para que as mulheres não sejam discriminadas na maternidade.