31.7.23

A guerra da fome

Andreia Sanchez ,opinião, in Público

Mais de 345 milhões de pessoas enfrentam altos níveis de insegurança alimentar, um número sem precedentes. O fim do acordo dos cereais é um desafio. Mas há outros.


Apesar de o mundo estar a viver a “maior crise alimentar da história”, o Programa Alimentar Mundial (PAM) enfrenta uma falta de financiamento “paralisante”. Pelo menos 38 países já viram, ou verão em breve, os seus programas de assistência alimentar reduzidos. A ideia é esta: para tentar salvar quem está literalmente a morrer de fome, é preciso cortar no apoio a comunidades onde a situação não é ainda de “fome catastrófica”. Para lá caminharão, mas não há outra forma.

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Mais de 345 milhões de pessoas enfrentam altos níveis de insegurança alimentar, o que representa um aumento de quase 200 milhões desde o início de 2020. A suspensão, há dias, por parte da Rússia, do acordo para a exportação através do mar Negro de cereais da Ucrânia, o “celeiro do mundo”, representa o colapso de um mecanismo fundamental para mitigar o impacto da escalada dos preços dos alimentos.


Mesmo com a guerra, a Ucrânia continuou a ser, graças a esse acordo, o maior fornecedor de trigo da ONU em 2022. Ainda assim, o PAM viu os custos de aquisição dos alimentos que distribui aumentarem 39% face a 2019.
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Sejamos claros: é uma obrigação moral travar o ciclo da fome. É também uma questão estratégica, à escala global: a fome agrava a instabilidade e os conflitos, provoca migrações em larga escala, compromete o futuro de gerações inteiras, com ondas de choque que vão muito além dos países onde grassa.

Há um problema para resolver agora, já: o que fazer sem acordo de cereais. Há outro, de fundo: reconhecer que uma forte mobilização financeira vai ter de se manter, ou aumentar. Porque, ao contrário da guerra na Europa, que há-de ter um fim, a crise climática não terá. As alterações climáticas são há muito responsáveis pela escassez de alimentos em várias regiões do planeta, da Somália a Madagáscar, que pouco contribuíram para elas. A guerra agravou a situação. Mas os extremos climáticos deste Verão mostram que pode ser ainda pior.

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