in Jornal de Notícias
O fim-de-semana permitiu um recuo na violência que, desde 27 de Dezembro, tem marcado o dia-a-dia no Quénia. Desde as controversas eleições gerais - apenas as segundas desde a independência em relação ao Reino Unido, em 1963 - já morreram mais de 300 pessoas e 250 mil estão desalojadas devido à violência.Ontem, as hostilidades pontuais inter-étnicas não passaram ao lado de nova intervenção das forças da ordem, que dispararam gás lacrimogéneo na cidade histórica de Mombaça.
Nesta cidade os problemas registados relacionaram-se directamente com um primeiro comboio de ajuda humanitária do Programa Alimentar Mundial (PAM) que deixou, sob escolta, o porto local rumo a Eldoret e a Nairobi. De acordo com um comunicado daquela agência das Nações Unidas, os 20 camiões utilizados transportam 670 toneladas de alimentos que deverão suprir as necessidades a cerca de 70 mil pessoas durante duas semanas. Onze dos veículos deslocam-se para Eldoret, cidade com cerca de 700 mil habitantes que acolhe, neste momento, 50 mil desalojados. Os restantes movimentam-se para Nairobi.
Noutros locais do país, a distribuição de bens de primeira necessidade por parte da Cruz Vermelha Internacional ficou marcada pelas habituais situações caóticas de quem tudo perdeu e nada tem sequer para matar a fome. O drama não poupa ninguém.
Entretanto, o líder da Oposição queniana, Raila Odinga, diz que está pronto a partilhar o poder com o seu rival Mwai Kibaki, desde que o actual presidente da República reconheça que perdeu as eleições. Ao longo do dia de ontem prosseguiram as negociações mediadas por Jendayi Frazer, emissário da secretária de Estado norte-americana Condoleezza Rice, que deverá manter-se na capital queniana até ao princípio da noite de hoje, e Odinga garantiu estar aberto ao diálogo com Kibaki. Horas depois, em entrevista à BBC, o líder do Movimento Democrático Laranja foi mais longe "Não tenho problema com uma partilha de poder. Creio que o problema é a designação do vencedor destas eleições". O líder da oposição saudou ainda a anunciada deslocação ao país, prevista para amanhã, do presidente da União Africana e chefe de Estado do Gana, John Kufuor.