Sérgio Aníbal, in Jornal Público
Nunca, durante os últimos dez anos, tinham as famílias portuguesas revelado tão pouca disponibilidade para realizar novas poupanças
A avaliação que os portugueses fazem da situação financeira da sua família nos últimos doze meses é actualmente a mais negativa desde Outubro de 2003, altura em que a economia portuguesa se encontrava na fase mais baixa do ciclo económico e em nítida recessão.
Os dados de Dezembro do inquérito de conjuntura publicados ontem pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) revelam a continuação de uma quebra da confiança dos consumidores que se prolonga desde Novembro de 2006. Este indicador voltou a baixar a barreira dos -40 pontos, o que o coloca ao nível mais baixo desde o início de 2006.
No entanto, em algumas das questões feitas para medir a confiança dos consumidores portugueses, as respostas revelaram um pessimismo que apenas tem paralelo no auge do ciclo económico negativo dos últimos anos. Uma delas é a relativa à situação financeira dos últimos doze meses que, em Dezembro, caiu para -26,9 pontos (diferença entre as respostas extremas positivas e negativas), acentuando uma tendência que já vem desde Outubro de 2006.
Outra das perguntas feitas pelo INE está relacionada com as poupanças que os portugueses acham que podem actualmente fazer. Neste caso, limitados pelo endividamento, desemprego e crescimento lento do salário, as famílias responderam com um pessimismo recorde. A oportunidade de realização de poupança revelada em Dezembro pelos portugueses situa-se nos -73,9 pontos, o valor mais baixo desde que esta questão começou a ser colocada em 1997 e que revela que são muitos mais aqueles que não podem realizar poupanças do que os que podem.
Nas empresas, o optimismo é maior, mas ainda assim o indicador de clima económico, que agrega as expectativas dos consumidores, da indústria, do comércio a retalho, dos serviços e da construção, voltou a cair, registando em Dezembro uma variação de 1,1 por cento face ao período homólogo do ano anterior. Em Novembro este valor estava em 1,2 por cento e, em Outubro, em 1,3 por cento.
Este recuo no clima económico nos últimos meses do ano, que se verifica também na generalidade dos outros países europeus, constitui um indício negativo relativamente à evolução da conjuntura em 2008. O Governo está à espera da continuação da retoma económica registada este ano (com a economia a crescer a uma taxa de pelo menos 1,8 por cento), de tal forma que a variação do PIB possa superar novamente a barreira dos dois por cento.
No entanto, com a confiança dos consumidores outra vez perto dos mínimos e com o mercado externo a abrandar, as ameaças a este cenário positivo parecem cada vez mais fortes.