6.1.11

Crise aumenta pedidos em bibliotecas

por Júlio Almeida, Diário de Notícias

A necessidade de poupar no orçamento familiar está a levar a um aumento da procura das bibliotecas públicas. Responsáveis das bibliotecas de Aveiro, Feira e Espinho constatam o aumento de procura nas leituras escolares obrigatórias (clássicos), livros técnicos habitualmente mais caros (especialmente para universitários), mas também de autores mais populares.

Na região de Aveiro - que tinha no final do ano o quinto maior número de desempregados oficiais, cerca de 37 500 pessoas - a indicação chega por via do atendimento feito aos leitores no momento das requisições, mas já tem reflexo nas estatísticas fornecidas pelos programas de gestão dos fundos documentais. "Sempre fica mais barato e não perdemos o gosto da leitura." Uma professora e a filha de 15 anos - que preferem manter o anonimato - passaram a integrar, desde há um ano, a lista dos mais fiéis da biblioteca pública de Aveiro, contribuindo assim para aumentar os empréstimos registados naquele período.

Aos preços correntes, o hábito familiar estava a tornar-se "demasiado caro", mesmo recorrendo às compras nas grandes superfícies, o que levou a tomar decisões.

"Todos gostamos de ter as estantes de casa bem compostas, mas não se perde tudo", contou a docente, que encontra na biblioteca municipal a "alternativa" para os "muitos pedidos" de livros que a filha continua a fazer.

Quando o prazo de entrega acaba, renovam o empréstimo facilmente, pela Internet. Acabaram também os gastos com livros comprados que ficam por ler até ao fim. E agora existe a possibilidade de andar à descoberta de novos autores sem outra desilusão que não seja devolver à procedência na próxima visita à biblioteca.

As condicionantes próprias do serviço de leitura pública, nomeadamente prazos obrigatórios de devoluções curtos e escassez de exemplares, sobretudo dos títulos mais procurados, motivam dores de cabeça, tanto aos que procuram como a quem empresta.

"Os tempos são difíceis e notámos, durante 2010, que influenciou o crescimento do empréstimo, porque o orçamento familiar já não comporta os hábitos de ler, ver filmes ou ouvir música", assumiu a directora da Biblioteca Municipal de Santa Maria da Feira, que foi pioneira na certificação de qualidade em 2006.

Com 27 mil utilizadores, a biblioteca feirense fechou 2010 a fazer dez mil empréstimos por mês, número atingido sempre a crescer. A "grande procura" de livros técnicos pode significar que os pretendentes não encontram respostas, por exemplo, nas universidades, onde há um grade desinvestimento na disponibilização de fundos.

Quando Andreia Magalhães faz atendimento no espaço provisório onde funciona a leitura pública em Espinho, o salão nobre da piscina Atlântico, também já não estranha ouvir queixas de leitores, muitos estudantes, que ali recorrem "porque não têm dinheiro".

Todas as áreas associadas ao Plano Nacional de Leitura e aos livros dos planos curriculares surgem sempre em alta entre as necessidades das muitas famílias que recorrem às bibliotecas.