10.1.11

Subida dos preços alarma Banco Central Europeu

Por Ana Rita Faria, in Jornal Público

O Banco Central Europeu (BCE) já se comprometeu inúmeras vezes com a intenção de manter baixas as taxas de juro - uma das suas principais responsabilidades. Mas a escalada dos preços das matérias-primas alimentares pode vir a trocar-lhe as voltas e obrigá-lo a mexer nas suas taxas de referência para conter a inflação.

O primeiro sinal de alarme surgiu ainda no final do ano passado. O gabinete de estatísticas europeu - o Eurostat - prevê que a inflação na zona euro tenha aumentado 2,2 por cento em Dezembro, puxada em grande medida pelo aumento dos preços alimentares. Este valor é, não só, maior do que se previa, como fica acima do limiar de dois por cento que o BCE quer conservar para assegurar a estabilidade dos preços. A manter-se esta tendência, o BCE enfrenta um dilema: se subir as taxas de juro para conter o aumento dos preços vai tornar a vida mais difícil para os países com problemas de dívida, como Portugal.

Se bastasse olhar para a história para saber que rumo o banco central vai tomar, a resposta seria fácil. Na sequência da crise alimentar de 2007-2008, o BCE aumentou as taxas de juro para tentar travar a escalada dos preços, uma medida que foi fortemente criticada por parte de alguns países europeus.

A resposta asiática

Na sexta-feira, o presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, voltou a dizer que não vê qualquer perigo de inflação na zona euro. Neste momento, aumentar as taxas de juro poderia estrangular a recuperação económica, que é ainda frágil em vários países da zona euro, e enfraquecer a capacidade de financiamento de alguns estados europeus com problemas de dívida pública, como Portugal, Espanha, a Grécia ou a Irlanda.

Enquanto o BCE decide o que fazer com este problema, outros países, sobretudo do continente asiático, estão já a tomar medidas para conter a inflação.

Na Índia, onde os preços dos alimentos dispararam mais de 18 por cento no passado, o banco central deverá anunciar um aumento das taxas de juro ainda este mês. Na China, a braços com aumentos de 11,7 por cento nos alimentos, o Governo procedeu à venda de grandes quantidades de milho, trigo, soja, açúcar e arroz, que faziam partes das suas reservas, de modo a arrefecer os preços. Já o Governo da Indonésia apelou às famílias para que plantem alimentos, de modo a conter a inflação.