22.1.16

Velhos e pobres, tudo na mesma

In "Público"

Os políticos usam os velhos, mas esquecem-se logo deles.

Não há cidadãos mais expostos do que os velhos nas campanhas eleitorais. Então nesta corrida presidencial tem sido um entra-e-sai de candidatos pelos lares de Portugal. Maria de Belém, de resto, concebeu grande parte do seu périplo mediático percorrendo salas onde os velhinhos estão invariavelmente sentados à espera da comitiva que por algumas horas lhes alterou a rotina. Os responsáveis das várias instituições que os abrigam sujeitam-nos ao voyeurismo despudorado dos políticos, provavelmente na mira do subsídio ou da ajuda que dali pode vir, mas nada compensa esta intrusão, que no mínimo devia ser sujeita à autorização dos próprios e das suas famílias. Aliás, estas visitas deviam ser sempre privadas. Só assim seria garantida a privacidade dos próprios e mais credível o real interesse por parte de quem disputa um cargo político.

No dia em que os velhos forem capazes de se organizar a sério, ninguém os vai usar como troféu de campanha e muito menos alguém ousará passar por eles sem realmente os ver. Porque é esse o significado das pensões que mais de um milhão de portugueses recebe depois de anos e anos de trabalho. Atribuir valores entre 201 e 262 euros à sua sobrevivência é não olhar para eles com o afecto e o respeito pela dignidade que merecem. Soube-se em Dezembro que este Governo vai aumentar em 0,4% as pensões até 628 euros, uma medida que abrange 2,1 milhões de pensionistas e que fica bem abaixo da inflação estimada pelo Banco de Portugal (1,1%). Para muitos, a subida não chegará a um euro. Agora, PSD e CDS vêm propor que apenas as pensões mínimas, sociais e rurais, sejam actualizadas de acordo com a evolução dos preços, ou seja, aumentos entre 3,02 e 3,93 euros. Ou seja, a esquerda aumenta menos para mais gente e estende as subidas a outras prestações sociais, como RSI, abonos, etc; a direita quer subir mais, mas reduz esse aumento ao universo das pensões menores. Tudo espremido, as diferenças são tão irrisórias que não vale fazer disto um caso. Sobra a desesperança de milhões.