14.6.16

Aumentam os crimes de violência xenófoba

Rita Salcedas, in "Jornal de Notícias"

Em dois anos, de 2013 a 2015, os crimes de ódio alastraram por toda a Alemanha. A escalada de violência tem motivos racistas e coincide com o aumento do fluxo migratório para a Europa. As falhas nas respostas das autoridades alemãs ao fenómeno expõem a necessidade de reforçar a proteção das vítimas e de abrir inquéritos independentes a possíveis preconceitos existentes nas agências de segurança, alerta a Amnistia internacional (AI), em relatório publicado ontem.

A investigação, intitulada "Viver na insegurança: a Alemanha está a falhar em relação às vítimas de violência racista", relata ainda o fracasso das investigações à vaga de homicídios cometidos pelo grupo de extrema-direita Nationalsozialistischer Untergrund (NSU).

No ano passado, houve 16 vezes mais crimes contra centros de acolhimento do que em 2013, num aumento de 63 para 1031. Os crimes racistas violentos contra minorias étnicas, raciais e religiosas subiram 87%, de 693 registados há três anos para 1295 em 2015.

AI, muitas vítimas afirmaram que vivem imersas no medo e que já não se sentem seguras na Alemanha. Ciwan é curdo e foi atacado em Dresden em setembro de 2015.
"Todos os meus amigos ficaram com medo depois de eu ter sido atacado. Fugi da guerra na Síria e não preciso de ter de enfrentar esta tensão na Alemanha. Só gostava de poder trabalhar, ter uma vida boa, como tinha antes da guerra." Combate ao racismo institucional Mas o fracasso das autoridades alemãs na investigação e condenação dos crimes raciais não é de agora.

antecedendo a chegada de cerca de um milhão de refugiados ao país em 2015. "Muitas deficiências judiciais foram expostas nas investigações aos homicídios cometidos, de 2000 a 2007, pelo NSU", diz a AI.

Segundo o relatório, três membros do NSU terão assassinado dez pessoas em seis regiões. Nove vítimas eram de descendência turca e grega e a outra um agente da Polícia. Além de vários assaltos, o mesmo grupo terá sido o responsável por dois ataques bombistas em Colónia, em 2001 e 2004.

Mais recente é o caso de Abdurrahman. Agredido por nove homens em 2013, quando fechava a sua loja de kebabs, o turco contaria, depois, que os agentes que acorreram ao local entregaram aos atacantes uma das provas usadas na agressão, uma bomba de ar.

Em ambos os casos, as investigações não resultaram na identificação de motivação racista dos ataques, nem prosseguiram na análise de pistas que apontavam nesse sentido. Em simultâneo, familiares das vítimas reportaram sentiremse pressionados pela polícia.

"Ao longo de todos estes anos.
nunca nos trataram como vítimas.
Fomos sempre tratados como suspeitos, pela Polícia ou pelos políticos, como se escondêssemos algo. Ninguém nos pediu a opinião, nem nos ouviu", recordou Yvonne Boulgarides, viúva de um serralheiro que foi assassinado por membros do NSU, na sua loja em Munique, em 2005.