26.6.18

Envelhecer com dignidade

Sofia Canha, in Dnotícias

O processo de envelhecimento começa quando nascemos. A qualidade desse processo depende não só da nossa genética, mas também, das condições proporcionadas por nós próprios e por toda a estrutura familiar e social.
Com a progressiva melhoria das condições de vida e de saúde dos portugueses, ganhou-se longevidade, mas não se garantiu a todos as condições para uma vida e um envelhecimento com dignidade. Ou seja, o sistema não se preparou para as mudanças que ele próprio promoveu.

O quadro familiar mudou radicalmente. A família antes era a garantia de suporte para a idade avançada. Entretanto, as famílias foram ficando menos numerosas e cada elemento passou a fazer o seu percurso pessoal e profissional, quantas vezes geograficamente distante. A matriz familiar mudou e as famílias deixaram de ter capacidade para ser inclusivas. Discute-se, na Assembleia da República, neste momento, o Estatuto do Cuidador Informal. Há escassez de respostas formais e poucos apoios aos cuidadores. O cuidador informal típico é mulher, familiar da pessoa cuidada e tem entre os 45 e os 75 anos. Este trabalho, essencialmente feminino, não é reconhecido formalmente e não é remunerado, com custos para quem o faz. Os impactos são económicos, físicos e psicológicos: maior risco de pobreza, abandono do emprego, isolamento, rutura de relações e da vida social, depressões, exaustão e stress.

As respostas dever ser diversificadas e direcionadas para os idosos, preferencialmente, e para os seus familiares e cuidadores que se estima em número de 800.000 em Portugal. Todas as respostas devem ter por base uma premissa: a dignidade da pessoa. Na Madeira, há cerca de 1000 pessoas com mais de 85 anos a morar sozinhas. Em dezembro de 2017, existiam 955 pessoas idosas em lista de espera para internamento. Há idosos autónomos institucionalizados e pessoas idosas dependentes em casa, muitas vezes a serem cuidadas por outro idoso.

É necessário, pois, um conjunto de respostas que vão desde a satisfação de necessidades básicas para a permanência da pessoa idosa na sua residência, até à sua institucionalização, se for considerada a melhor opção, no respeito pela dignidade humana.