David Dinis e Alexandra Marques, in Jornal de Notícias
Fechada a presidência portuguesa, acabaram-se as razões para o silêncio. Se a oposição anuncia tempos de forte contestação, o ano político que se avizinha é visto em Belém como muito diferente do que acabou de passar.
Hoje, dia 1 de Janeiro, Cavaco Silva volta a dirigir ao país uma mensagem importante. Com expectativa reforçada, não só porque Cavaco pediu "resultados" a José Sócrates em três áreas de governação precisamente há um ano, mas também porque o mesmo Sócrates, apenas há oito dias, deixou na tradicional mensagem de Natal a garantia de que esses resultados existem - e por força das políticas do Governo.
Porém, o optimismo do chefe de Executivo é visto com reticências entre os mais próximos do presidente. Cavaco Silva tem feito questão de se deslocar a várias zonas do país, para aferir o estado de espírito das populações. E o ânimo do país, acreditam em Belém, não está de forma a mensagens excessivamente positivas.
Assim sendo, Cavaco promete prestar redobrada atenção a temas sociais, durante o ano que virá. O tema do desemprego, por exemplo, estará por fim entre os eleitos do presidente - não como objecto de um roteiro, para evitar uma afronta ao Governo que o chefe de Estado quer evitar a todo o custo, mas entre visitas pelo país, procurando valorizar instituições que ofereçam caminhos a quem não tem emprego (do voluntariado a acções de reciclagem profissional, etc).
É que, se Cavaco promete manter ao máximo os esforços de cooperação institucional, também não estará disposto a passar para o país uma mensagem de optimismo que, pecando por excesso, pode acabar desacreditada aos olhos dos portugueses.
Janeiro será, aliás, visto de Belém, um mês, em muito, decisivo. A decisão sobre a localização do novo aeroporto de Lisboa, a convocação ou não de um referendo para ratificar o Tratado europeu serão seguidos com muita atenção pelos assessores do presidente. Depois disso, os olhos ficarão postos não só na evolução económica e social, como nas eventuais contestações ao Governo, sejam elas locais (em temas como o fecho de serviços na saúde, etc) ou nacionais (por problemas como o desemprego).
Há, claro, outros temas sob olhar atento no palácio de Belém. Até que ponto o primeiro-ministro evitará uma remodelação é um deles. Mas nesse campo, nem uma frase se consegue arrancar dos mais próximos conselheiros do presidente da República. Nem sobre isso, nem - claro - sobre se os resultados que pediu a Sócrates foram atingidos este ano. Resta (também a Sócrates) esperar pelo discurso de hoje.