Erika Nunes e João Paulo Madeira, in Jornal de Notícias
Um impacto de miséria. Assim qualificou Rita Jeremias as consequências dos aumentos de preços nas carteiras dos portugueses neste novo ano. Rita Jeremias, reformada, sente na pele as dificuldades da baixa reforma e apresenta reivindicações
"O Estado fala tanto na solidariedade, por que não comparticipa as contas de água, luz e gás? Se a PT ou os transportes dão descontos a reformados, por que é que o Estado não o faz também?", acusa a portuense, questionando ainda se é "com vinho que vão aquecer-se os velhos no Inverno".
Também Josefina Silva, 63 anos, cujo orçamento familiar tem de ser gerido com 250 euros de reforma do marido e 380 euros que recebe do fundo de desemprego, considera serem "aumentos a mais para o nível de rendimentos dos portugueses". Ainda "obrigada" a ajudar os netos, diz que não sabe "como fará a juventude para viver", pois, "se não fosse a renda de casa ser antiga, era impossível sobreviver".
Dificuldades sentidas por Alessandra Nascimento, brasileira, 32 anos, há seis em Portugal, cujo rendimento do fundo de desemprego (290 euros) mal dá para pagar o passe, o quarto na residência universitária e as propinas, que também vão aumentar. "Pagava 225 euros, quatro vezes por ano. Se vai aumentar, será ainda mais difícil", desabafa.
Roldão Matos, que ontem, pela primeira vez desde a passagem de ano, foi a um supermercado, no centro de Lisboa, não verificou se os poucos produtos que adquiriu aumentaram de preço. Mas, ressalva, está consciente de que muitas subidas terão impacto no orçamento doméstico "Como tenho uma família grande, vai ser mais difícil", admite, lembrando que, com duas filhas ainda a estudar, as despesas fixas com seguros, empréstimos e alimentação farão mossa na carteira. "Os produtos de primeira necessidade deviam ser subsidiados, para que os aumentos não fossem tão elevados", diz.
"É horrível"
Ana Maria Cortinhal aproveitou uma pausa no trabalho para ir fazer compras e teve a noção de que pagou mais. "É horrível. Tudo somado, ao final do mês, vai dar um aumento muito exagerado", disse.
Também Rui Oliveira, na fila à espera para comprar o passe de metropolitano, considera injustos os aumentos "Os salários não aumentaram tanto como alguns produtos de primeira necessidade".