5.1.11

200 famílias na miséria a viver em casas ilegais

Sandra Brazinha, in Jornal de Notícias

No Bairro do Chegadinho os esgotos correm a céu aberto

Moradores reinvidicam casas com mais dignidade

Casas sem as mínimas condições de habitabilidade, corredores escuros, ruas lamacentas, esgoto a céu aberto e estendais improvisados são o espelho da miséria em que vivem cerca de 200 famílias na Quinta do Chegadinho Velho, no Feijó, Almada.

"A gente não tem condições. Vivemos numa miséria", admite Tomázia da Veiga, de 66 anos, que reside com o marido e dois netos já adultos numa casa minúscula com dois quartos, uma cozinha e uma casa de banho, que tem a sanita partida.

Para chegar à sua casa é preciso percorrer o corredor, sem luz, onde guarda o roupeiro, a arca congeladora e a máquina de lavar roupa, porque no espaço que habita desde 1981 não cabe mais nada. "Gosto de arrumar as minhas coisas, mas não tenho espaço. O tecto está sempre com humidade, às vezes pinga água. Vou passando tinta para esconder, mas não adianta. Está tudo partido", queixa-se a cabo-verdiana, enquanto acrescenta água à cachoupa que tem ao lume.

A porta de casa está aberta. É sempre assim quando o fogão está ligado, porque a cozinha, que não tem janelas, acumula humidade com facilidade. "Deviam arranjar-me uma casa em condições", pede, garantindo estar inscrita na divisão de habitação da Câmara de Almada.

A falta de condições não afecta apenas Tomázia da Veiga, que paga 16 euros de renda por mês. A maioria das vivendas da Quinta do Chegadinho Velho tem anexos onde moram três ou mais famílias, muitas com mais de cinco elementos. Há telhados forrados a plástico, seguro por tábuas, para que a chuva não passe para dentro, e até um quintal por onde corre o esgoto. As mensalidades, essas, chegam a atingir os 250 euros.

"Passo muito mal aqui. Ando sempre constipado", confessa António Borges, de 68 anos, ao abrir a porta ao JN para mostrar o estado da residência que lhe custa 12,50 euros por mês. As paredes estão totalmente cobertas de bolor e a casa de banho tem apenas uma sanita e o alguidar a que recorre para fazer a higiene pessoal.

Perigoso

"A casa fica em cima de uma vara de água. É perigoso", diz o cabo-verdiano com título de residência permanente, que aguarda a passagem à reforma e que há 15 anos mora naquele anexo com três divisões. "Não presta. Deviam arranjar-me uma casa melhor", apela, lamentando não ter janelas nem lava-loiça. É na rua, em cima de uma mesa, que lava os talheres, pratos e panelas que suja.

"Já viu as condições em que estas pessoas vivem", questiona Adelaide Leite, assistente social do projecto Agir, que presta apoio às famílias deste bairro e está já a preparar um diagnóstico para definir o número de residentes.

"Condições não têm. Está tudo degradado", alerta, apontando para uma casa que tem o tecto a cair e onde mora, mesmo assim, um idoso. "Há casas em que vivem três famílias e algumas com cinco e seis membros", frisa, lembrando que as poucas vivendas bem arranjadas são habitadas pelos proprietários.