12.1.11

BCE quer proteger Portugal do FMI até final de 2012

por Luís Reis Ribeiro, in Diário de Notícias

Banco de Portugal diz que tudo vai correr pelo pior: recessão, desemprego a subir e incerteza elevada no motor das exportações.

O Eurosistema, a rede formada pelo Banco Central Europeu (BCE) e os bancos centrais dos 17 países do euro, tem planos para apoiar os bancos nacionais e o Governo de Lisboa no acesso ao financiamento (dinheiro a preços mais razoáveis do que os do praticados no mercado) até final de 2012. Mas esta protecção pode não aguentar a pressão dos mercados, abrindo caminho ao fundo monetário europeu e ao FMI, soube o DN.

Isto é, o BCE tentará dar toda a protecção possível ao País, mas poderá acabar vencido pelos "mercados". Ontem, o Banco de Portugal revelou no boletim económico de Inverno que o País irá anular totalmente, este ano, os ganhos de riqueza reais obtidos em 2010, registando uma recessão de 1,3%. O produto interno bruto (PIB) deverá ter crescido 1,3% no ano passado. "É obra", disse ontem José Sócrates, que juntou esse último resultado à redução do défice para menos de 7,3% do PIB (ver texto na página seguinte).

Mas apesar dos "bons" sinais de 2010, o Banco de Portugal diz que "o recurso ao financiamento pelo Eurosistema permanecerá significativo até final do horizonte, num contexto de persistência de dificuldades de acesso dos bancos portugueses aos mercados de financiamento por grosso". Além deste tipo de intervenções (cedência ilimitada de liquidez aos bancos a preços relativamente acessíveis), fonte bem colocada refere que o BCE está também a dizer que continuará disponível para comprar dívida pública portuguesa, de modo a conseguir estancar a taxa de juro nos mercados, algo que tem feito até agora, e com algum êxito, mas que "pode não conseguir repetir até final de 2012". "Se tal acontecer e o País tiver mesmo de recorrer à ajuda conjunta do fundo europeu e do FMI, tudo o que o Banco de Portugal agora assume nas suas projecções cairá por terra", diz.

O banco central frisa que o seu principal objectivo agora é evitar uma ruptura no crédito às famílias e empresas, num contexto económico muito negativo, sobretudo quanto ao consumo e investimento. Nos últimos meses, o novo crédito concedido tem vindo a cair a um ritmo significativo.

As novas projecções do banco governado por Carlos Costa são tudo menos optimistas. São, aliás, as mais desfavoráveis que foram publicadas até agora pela Comissão Europeia, pelo FMI, pela OCDE e pelo Governo. A recessão será de -1,3% em 2011, e o Banco de Portugal sublinha que a probabilidade deste cenário ser ainda pior é muito grande, rondando os 60%: "A actual projecção apresenta riscos fortemente descendentes para a actividade económica, decorrentes tanto de uma eventual fragilidade da recuperação da economia mundial, como da necessidade de se realizar um ajustamento mais forte dos balanços dos agentes económicos, públicos e privados." A materialização destes riscos "implicaria uma contracção ainda mais pronunciada".