Por Ana Rita Faria, in Jornal Público
Dois países vizinhos, duas formas diferentes de reagir à crise. Se, durante anos, Portugal e Espanha mantiveram taxas de poupança relativamente próximas, o fosso começou a aumentar quando rebentou a crise, no final de 2007. E hoje é cada vez maior.
De acordo com os dados da Comissão Europeia, a taxa de poupança no sector privado espanhol (que inclui famílias e empresas) era de 24,1 por cento em 2009, enquanto a portuguesa rondava os 15,8 por cento, a maior diferença desde, pelo menos, 2001.
A Comissão Europeia prevê que, em 2010, a distância se tenha manti- do, embora os valores tenham descido ligeiramente, situando-se em 22 por cento (Espanha) e 14,8 por cento (Portugal).
Para o antigo ministro das Finanças, Silva Lopes, os portugueses deviam estar a seguir o exemplo dos es- panhóis, aumentando os níveis de poupança. "A taxa de poupança total em Portugal, incluindo famílias, Estado e empresas, é uma das mais baixas da União Europeia, só comparável com a da Grécia", salienta.
Mas não é só ao nível da poupança que há diferenças entre os dois países. Apesar de, em Espanha, o consu- mo privado também estar a abrandar, a desaceleração é menor e não se registou ainda nenhuma queda. Segundo dados do Banco de Espanha, as famílias espanholas aumentaram em 2,2 por cento o seu consumo no segundo trimestre face ao ano anterior. A partir de Julho, porém, este só já cresceu 1,4 por cento. Não há ainda dados relativos ao último trimestre.
Apesar de o consumo estar a cres- cer mais do que em Portugal, o comportamento do sector automóvel em Espanha não foi tão brilhante como por cá. De acordo com dados divulgados esta semana pela Associação de Fabricantes Automóveis, as vendas de carros novos em Espanha aumentaram só 3,1 por cento em relação a 2009. No total, foram vendidos 982.015 veículos num ano que se caracterizou por dois períodos bem diferenciados. No primeiro semestre de 2010, o mercado recuperou significativamente da crise do ano anterior, mas a partir de Julho começou a travar, devido ao fim de um programa governamental para a troca de veículos antigos.
O Governo espanhol, liderado por Zapatero, está confiante de que a economia espanhola vai recuperar este ano e travar a escalada do desemprego. Dados divulgados ontem pelo ministério do Trabalho mostram que, em Dezembro de 2010, o número de pessoas inscritas nos centros de emprego recuou pela primeira vez em cinco meses. Mas a nova onda de austeridade, a partir deste ano, pode comprometer os resultados. O Orçamento do Estado de 2011 é o mais austero dos últimos anos e, além de congelar os salários da função pública, vai cortar significativamente nas despesas do Estado, reduzir as contratações na esfera pública e aumentar o IRS sobre os detentores de rendimentos mais elevados.