4.1.11

À frente do desemprego

Carlos Rui Abreu, in Jornal de Notícias

Guimarães continua na dianteira no número de desempregados inscritos no Centro de Emprego. Apesar de um decréscimo, na ponta final do ano, a Associação Industrial e Comercial local diz não haver saídas para tantas pessoas sem qualificação.

A afluência ao Centro de Emprego de Guimarães, que abrange este concelho e também o de Vizela, é enorme e nos últimos dados conhecidos em 2010 o número absoluto de desempregados era de 12195 e referiam-se ao mês de Novembro.

O número reflecte uma inflexão na curva e demonstra que em relação ao mês anterior houve um decréscimo de 417 desempregados. Estes dados continuam a preocupar a Associação Comercial e Industrial de Guimarães (ACIG) já que significam cerca de 18% da população activa do concelho.

"Esta situação regista-se porque não há saídas profissionais para as pessoas com poucas qualificações que saíram do sector têxtil e de confecção de vestuário e calçado", explicou Carlos Teixeira.
Este cenário de dizimação da indústria de confecções tem dado sinais de inversão e, segundo o líder da ACIG, "a cidade parece estar a querer dar a volta", notando-se uma retoma, a bom ritmo, da actividade na indústria têxtil de valor acrescentado como têxteis lar e tecidos de qualidade. "Há cerca de meio ano que Guimarães está a dar uma volta positiva e há um acréscimo de encomendas nesse sector", adiantou Carlos Teixeira.

A sustentar esta ideia estão as informações que o presidente da ACIG tem recolhido e que dão conta do regresso dos grandes clientes americanos e europeus a Portugal, em busca da qualidade e da credibilidade a vários níveis que não existe no Leste da Europa, para onde tinha dispersado.

"O mercado dá razão a quem aposta na qualidade e em Guimarães já se nota. No futuro ainda há-de melhorar com a aposta nas indústrias ligadas às novas tecnologias e à criatividade", vaticinou Carlos Teixeira, apontando o Ave Park e o futuro CampUrbis a ser criado no âmbito da CEC 2012 como bons exemplos.

No que concerne à mão-de-obra pouco qualificada "as Novas Oportunidades vão criar estímulos para que criem a sua própria actividade e se tornem empreendedores", confia quem conhece bem esta realidade e percebe o entusiasmo de uma faixa etária que vai dos 30 aos 50 anos.

A dar os primeiros passos à porta do Centro de Emprego de Guimarães estava, ontem, Avelino Silva. Este desempregado, de 37 anos, cumpriu o primeiro dia nessa condição.

"Estou apreensivo quanto ao futuro. Sou solteiro e não equaciono, para já, constituir uma família porque o futuro é incerto", afirmou. Em Dezembro foi despedido das funções que desempenhava num escritório de uma mediadora de seguros onde esteve durante seis anos. Antes tinha trabalhado na construção civil e numa fábrica de bordados, numa vida activa que começou aos 16 anos. "Enquanto trabalhava completei o 12º ano à noite e gostava de continuar a trabalhar na área de escritório", disse.

Avelino Silva

Olhando para a realidade do país, não concorda com os queixumes dos funcionários públicos que considera "uma classe privilegiada", e aponta a falta de seriedade da banca e do governo como principais factores para a crise. "Continuamos a ver que ninguém tira ilações do que faz de mal porque a situação mantém-se", concluiu.

Bernardino Sousa, 57 anos, está há dois na condição de desempregado, depois de uma vida dedicada à afinação de máquinas na indústria têxtil.

A empresa onde laborava, em São Martinho do Campo, fechou lançando também para o desemprego a sua esposa, com a mesma idade. Após 42 anos de trabalho consecutivo a paragem brusca mexeu com a saúde de Bernardino que, volvidos três meses, teve um AVC. "Andar a pedir emprego e levar negas constantemente acabou comigo", confessou. A mulher, também em casa e sem perspectiva de ver a situação melhorar, caiu em depressão e está a ser acompanhada por um psiquiatra. "Com a nossa idade andar a pedir emprego é mendigar, porque ninguém nos quer dar trabalho", desabafa Bernardino Sousa.

Bernardino Sousa e a sua mulher

Actualmente está de baixa médica e até nem sabe se os resquícios do AVC lhe permitirão voltar a trabalhar, mas vontade de regressar ao activo não lhe falta. "Vou-me segurando com medicamentos mas se pudesse gostava de voltar a trabalhar e depois logo se via se dava para continuar".