Carlos Rui Abreu, in Jornal de Notícias
Guimarães continua na dianteira no número de desempregados inscritos no Centro de Emprego. Apesar de um decréscimo, na ponta final do ano, a Associação Industrial e Comercial local diz não haver saídas para tantas pessoas sem qualificação.
A afluência ao Centro de Emprego de Guimarães, que abrange este concelho e também o de Vizela, é enorme e nos últimos dados conhecidos em 2010 o número absoluto de desempregados era de 12195 e referiam-se ao mês de Novembro.
O número reflecte uma inflexão na curva e demonstra que em relação ao mês anterior houve um decréscimo de 417 desempregados. Estes dados continuam a preocupar a Associação Comercial e Industrial de Guimarães (ACIG) já que significam cerca de 18% da população activa do concelho.
"Esta situação regista-se porque não há saídas profissionais para as pessoas com poucas qualificações que saíram do sector têxtil e de confecção de vestuário e calçado", explicou Carlos Teixeira.
Este cenário de dizimação da indústria de confecções tem dado sinais de inversão e, segundo o líder da ACIG, "a cidade parece estar a querer dar a volta", notando-se uma retoma, a bom ritmo, da actividade na indústria têxtil de valor acrescentado como têxteis lar e tecidos de qualidade. "Há cerca de meio ano que Guimarães está a dar uma volta positiva e há um acréscimo de encomendas nesse sector", adiantou Carlos Teixeira.
A sustentar esta ideia estão as informações que o presidente da ACIG tem recolhido e que dão conta do regresso dos grandes clientes americanos e europeus a Portugal, em busca da qualidade e da credibilidade a vários níveis que não existe no Leste da Europa, para onde tinha dispersado.
"O mercado dá razão a quem aposta na qualidade e em Guimarães já se nota. No futuro ainda há-de melhorar com a aposta nas indústrias ligadas às novas tecnologias e à criatividade", vaticinou Carlos Teixeira, apontando o Ave Park e o futuro CampUrbis a ser criado no âmbito da CEC 2012 como bons exemplos.
No que concerne à mão-de-obra pouco qualificada "as Novas Oportunidades vão criar estímulos para que criem a sua própria actividade e se tornem empreendedores", confia quem conhece bem esta realidade e percebe o entusiasmo de uma faixa etária que vai dos 30 aos 50 anos.
A dar os primeiros passos à porta do Centro de Emprego de Guimarães estava, ontem, Avelino Silva. Este desempregado, de 37 anos, cumpriu o primeiro dia nessa condição.
"Estou apreensivo quanto ao futuro. Sou solteiro e não equaciono, para já, constituir uma família porque o futuro é incerto", afirmou. Em Dezembro foi despedido das funções que desempenhava num escritório de uma mediadora de seguros onde esteve durante seis anos. Antes tinha trabalhado na construção civil e numa fábrica de bordados, numa vida activa que começou aos 16 anos. "Enquanto trabalhava completei o 12º ano à noite e gostava de continuar a trabalhar na área de escritório", disse.
Avelino Silva
Olhando para a realidade do país, não concorda com os queixumes dos funcionários públicos que considera "uma classe privilegiada", e aponta a falta de seriedade da banca e do governo como principais factores para a crise. "Continuamos a ver que ninguém tira ilações do que faz de mal porque a situação mantém-se", concluiu.
Bernardino Sousa, 57 anos, está há dois na condição de desempregado, depois de uma vida dedicada à afinação de máquinas na indústria têxtil.
A empresa onde laborava, em São Martinho do Campo, fechou lançando também para o desemprego a sua esposa, com a mesma idade. Após 42 anos de trabalho consecutivo a paragem brusca mexeu com a saúde de Bernardino que, volvidos três meses, teve um AVC. "Andar a pedir emprego e levar negas constantemente acabou comigo", confessou. A mulher, também em casa e sem perspectiva de ver a situação melhorar, caiu em depressão e está a ser acompanhada por um psiquiatra. "Com a nossa idade andar a pedir emprego é mendigar, porque ninguém nos quer dar trabalho", desabafa Bernardino Sousa.
Bernardino Sousa e a sua mulher
Actualmente está de baixa médica e até nem sabe se os resquícios do AVC lhe permitirão voltar a trabalhar, mas vontade de regressar ao activo não lhe falta. "Vou-me segurando com medicamentos mas se pudesse gostava de voltar a trabalhar e depois logo se via se dava para continuar".