por Luís Reis Ribeiro, in Diário de Notícias
Entrevistas serão feitas por telefone. Mudança inviabiliza comparação de indicadores.
Durante 2011 não vai ser possível comparar os indicadores clássicos do mercado de emprego em Portugal (taxas de desemprego, ritmos de criação ou destruição de postos de trabalho, entre muitos outros) com a situação existente em 2010 ou em anos anteriores.
O Instituto Nacional de Estatística (INE) decidiu mudar, em pleno ano de crise económica e social, o método de entrevista através da qual recolhe os dados do Inquérito ao Emprego. "Deixarão de ser viáveis as comparações directas com as estimativas provenientes da série de dados anterior, em vigor desde o primeiro trimestre de 1998 até ao quarto trimestre de 2010", adverte o INE numa nota. Vários peritos reconhecem que, apesar da melhoria prevista na qualidade dos dados, o momen- to escolhido é muito sensível. A maioria das previsões aponta para um agravamento da taxa de desemprego ao longo deste ano, devendo a economia cair de novo em recessão. O DN enviou várias questões ao INE sobre estas mudanças, mas não obteve resposta.
Segundo o instituto, "a divulgação dos primeiros resultados associados ao novo modo de recolha vai ocorrer com a publicação das Estatísticas do Emprego - 1.º trimestre de 2011", a 18 de Maio.
A alteração ao modo de recolha dos dados estava a ser estudada desde Abril de 2008, já a crise tinha começado, quando o INE "deu início formal à execução do 'Projecto para o planeamento, concepção, preparação e implementação da entrevista telefónica no Inquérito ao Emprego', cujos trabalhos decorreram desde então com grande intensidade, estando agora reunidas condições para se passar à fase da sua implementação".
Até agora, as entrevistas do Inquérito ao Emprego eram presenciais. No entanto, justifica o INE, começaram a existir "algumas dificuldades" na colaboração por parte das famílias na resposta aos inquéritos presenciais. Assim, as entrevistas vão passar a ser feitas por telefone. O INE considera que é mais "seguro" e melhora a qualidade da informação obtida.
Para José Reis, professor de Economia na Universidade de Coimbra, "é evidente que melhorar a qualidade das estatísticas faz sentido", mas "é preciso ter em conta o momento extraordinário que o mercado de trabalho vive actualmente". Para o economista, "as estatísticas são um tipo de informação muito sensível e útil para quem deseje compreender melhor o que está a acontecer". "A qualidade dessa informação é importante, mas a utilidade das estatísticas é igualmente crucial." Para José Reis, "o problema que aqui temos, que é que o timing desta alteração enfraquece a utilidade do Inquérito ao Emprego, que é fazer comparações inter-anuais ou homólogas".
No entender de Pedro Adão e Silva, investigador de temas sociais, "academicamente falando não vai ser tão seguro fazer comparações com os novos dados, mas do ponto de vista político e jornalístico não vai haver grandes problemas". "Fazendo as devidas ressalvas técnicas e complementando as análises com os dados do IEFP, podemos continuar a retirar conclusões relativamente seguras", acrescenta o politólogo.