5.1.11

Luxuosamente sobrevivendo à situação económica

in Jornal Público

Marcas como a Porsche e a Dior parecem indiferentes ao apertar do cinto e estão a aumentar as vendas. Os hotéis de luxo também têm mais hóspedes e lançam produtos exclusivos para clientes de topo

Enquanto se discute os impactos da crise nos bolsos dos portugueses, há empresas que continuam a facturar no mercado nacional, indiferentes ao clima de contenção. O número de automóveis vendidos pela Porsche subiu 88,4 por cento, as dormidas nos hotéis de cinco estrelas estão a crescer a três dígitos e marcas como a Dior e a Chaumet prevêem aumentos de praticamente dez por cento nas vendas.

Regra geral, os produtos de luxo resistem melhor às flutuações de mercado, mas a verdade é que, em 2010, um ano difícil para o orçamento dos portugueses, algumas marcas registaram resultados surpreendentes. No ramo automóvel, a Porsche foi responsável por um recorde de vendas. No ano passado, comercializou 469 veículos em Portugal -praticamente o dobro do que tem conseguido alcançar nos últimos anos.

A marca alemã topo de gama foi ajudada pela realização de muitos eventos ao longo de 2010 (40) e pelo lançamento de novos modelos mais familiares, explicou ao PÚBLICO Nuno Costa, porta-voz da Porsche Ibérica.

No luxo versão automóvel, a marca alemã não foi a única a apresentar crescimentos. A Mercedes subiu 31,3 por cento em relação a 2009 e a Lamborghini vendeu seis viaturas em 2010, mais do que alguma vez tinha conseguido, pelo menos, desde 2002. Porém, a tendência não é a mesma para todas as marcas topo de gama. A Ferrari e a Aston Martin, por exemplo, tiveram quedas de 25,8 e 19,2 por cento.

Também na hotelaria têm surgido indicadores que contrariam a ideia de aperto financeiro, com as unidades de cinco estrelas a bater recordes nas dormidas. Os últimos dados disponíveis, relativos a Outubro, apontam para um aumento homólogo de 31,4 por cento no número de estadias - a maior subida de um sector que teve um crescimento global de 8,5 por cento.

No espaço de um mês, os cinco estrelas registaram praticamente 350 mil dormidas, mais 84 mil do que em 2009. Apesar de só representarem 10,3 por cento do sector nacional da hotelaria, têm mostrado, ao longo deste ano, capacidade para atrair cada vez mais hóspedes, apesar de praticarem os preços mais elevados do mercado.

O mesmo não tem acontecido, por exemplo, com os motéis e as pensões, que, em Outubro, registaram quebras nas estadias de 27,3 e 12,3 por cento, respectivamente. Há quem defenda que o aumento das dormidas nos hotéis de luxo está relacionado com uma descida dos preços, mas os indicadores do Instituto Nacional de Estatística (INE) mostram que o rendimento médio por quarto nestes estabelecimentos tem vindo a crescer acima do mercado.

No segmento do vestuário e dos acessórios de luxo, também há dados surpreendentes. António Moura, que representa em Portugal a Chaumet, a Dior e a H. Stern, disse ao PÚBLICO que espera um crescimento "próximo dos dez por cento" nas vendas de 2010, mas acrescenta que essa subida só foi alcançada com "um aumento dos gastos, em tempo e em recursos", para planear estratégias que cativassem os clientes.

Preços mantiveram-se

"Os preços não foram reduzidos", garante António Moura, explicando que a solução para melhorar os resultados passou por "olhar mais para o ponto de venda, gerir a forma como as marcas são apresentadas, dar mais formação de vendas e fazer campanhas associadas aos produtos". Ainda assim, nota que, apesar de continuarem a comprar jóias caras, os consumidores "têm procurado peças de valores mais equilibrados", comprando "mais por menos".

Também a Fashion Clinic, detida por Paula Amorim, filha do empresário Américo Amorim, está em contraciclo com a crise.

A empresa, que representa em Portugal 80 marcas de vestuário e acessórios de luxo, como a Gucci e a Prada, deverá ter fechado 2010 com receitas de nove milhões de euros, mais cinco por cento do que no ano anterior, noticiou há dois dias o Diário Económico. Há seis anos, a Fashion Clinic facturava 2,9 milhões de euros, o que significa que, apesar da crise, conseguiu triplicar o volume de negócios.

No mundo das experiências, também tem havido uma aposta no segmento topo de gama. A Smartbox, que vende vouchers para actividades variadas, lançou recentemente uma marca só para o segmento premium, com preços entre 300 e 400 euros.

O nome Euphorie foi escolhido para dar vida ao novo negócio, que, de acordo com informações dadas ao Sol, terá sido responsável por uma facturação de meio milhão de euros. Inês Sequeira e Raquel Almeida Correia