Novos créditos indexados à Euribor ficam mais caros do que os empréstimos a taxas fixas. Reembolsos antecipados totais atingem peso recorde na carteira
Os portugueses estavam, em junho, a conseguir pedir novos empréstimos à habitação apenas a uma taxa média de 4,25%, o que representa um agravamento face aos 4,16% que se registava um mês antes. É uma das subidas mensais mais tímidas dos últimos anos, mas a taxa é a mais elevada desde 2012.
Os números estão no destaque publicado pelo Banco de Portugal esta quarta-feira, 2 de agosto: “a taxa de juro média dos novos empréstimos à habitação subiu de 4,16% em maio para 4,25% em junho, atingindo o valor mais alto desde fevereiro de 2012”.
Também segundo o Banco de Portugal, a média da taxa de juro na zona euro comparável fixou-se em 3,75%, um aumento face aos 3,64% de maio, cifrando-se no nono mês consecutivo em que ir a um banco português solicitar um crédito à habitação é mais caro do que pedir a outro país do euro (sendo que Portugal é uma das economias mais fracas da região).
Aliás, é preciso recuar também a 2012, altura em que Portugal se destacava no euro por estar sob assistência financeira internacional (a par da Grécia e da Irlanda), para encontrar um diferencial entre a taxa portuguesa e a taxa média do euro tão significativo.
Segundo os dados do BCE (ainda que com diferenças marginais face aos que o Banco de Portugal divulgou), os créditos em Portugal foram os quintos mais caros do euro, abaixo dos três bálticos e de Chipre.
A subida abrupta da taxa de juro do Banco Central Europeu (que condiciona a fixação da taxa Euribor, indexada nos créditos à habitação) tem vindo a tornar mais caro pedir um crédito, o que faz com que haja uma quebra da procura, como é aliás objetivo da política monetária liderada por Christine Lagarde, para arrefecer a economia, e assim baixar a inflação.
“Em junho, as novas operações de empréstimos aos particulares totalizaram 2165 milhões de euros, menos 126 milhões do que em maio. Verificaram-se quedas nas finalidades de habitação e de consumo (de 101 e 31 milhões de euros, respetivamente). Em sentido inverso, as novas operações de empréstimos para outros fins aumentaram 6 milhões de euros”, revela o Banco de Portugal.
Se créditos em Portugal custam mais, os depósitos rendem menos: é nestes dados do Banco de Portugal que é possível perceber que o juro dos depósitos continua muito abaixo da zona euro e também da remuneração dos certificados de aforro.
TAXA FIXA ALARGA DISTÂNCIA FACE A VARIÁVEL
O que também alargou a distância foi o custo dos novos créditos a taxas fixas, em que fica logo definido o custo para toda a vida do empréstimo, e os empréstimos a taxas variáveis, com indexação às Euribor.
Em maio, contrariando a evolução histórica, a taxa variável tinha superado a fixa (4,2% e 4,19%, respetivamente), e em junho a diferença cresceu: “A taxa de juro média dos novos empréstimos à habitação contratados a taxa variável aumentou para 4,37% em junho, ultrapassando a taxa de juro média dos novos empréstimos a taxa fixa (4,16%)”. A procura por taxa fixa tem crescido, tendo em conta o disparo nos créditos indexados às Euribor.
REEMBOLSOS GANHAM PESO
Tendo em conta as novas Euribor, também a carteira de crédito já concedido está a encarecer e, aliado ao incentivo que o Governo deu (eliminação da comissão bancária), os portugueses têm procurado amortizar antecipadamente o crédito. O peso de reembolsos antecipados totais atingiu o seu recorde em junho (0,7% da carteira total).
“Os reembolsos antecipados de crédito à habitação própria permanente voltaram a aumentar em junho, passando de 0,81% para 0,86% do stock de empréstimos. Esta evolução verificou-se nos reembolsos antecipados totais (0,66% para 0,70% do stock), ao passo que o peso dos reembolsos antecipados parciais não se alterou (0,15% do stock)”, segundo o Banco de Portugal.
JUROS DE EMPRESAS SOBEM
No que diz respeito a empresas, acrescenta ainda o supervisor bancário, “a taxa de juro média dos novos empréstimos às empresas aumentou de 5,45% em maio para 5,50% em junho”, o que não limitou a procura: “o montante de novos empréstimos concedidos pelos bancos às empresas foi de 2004 milhões de euros, mais 227 milhões do que no mês anterior”.