27.12.11

"Exportamos bolachas para importar dinheiro"

por Carlos Diogo Santos, in Jornal de Notícias

O negócio começou numa pequena confeitaria, em Famalicão. Em 1990 chegaram ao Japão e hoje exportam bolachas e rebuçados para 40 países.

António Vieira de Castro foi o fundador da marca Vieira de Castro em 1943. O negócio começou com uma pequena confeitaria de Famalicão, que se tornou pequena demais quando a concorrência começou a crescer. Foi nesse momento que o responsável decidiu começar uma nova etapa na sua vida: a actividade industrial.

No entanto, a lei do condicionamento industrial vigente na altura trocou-lhe as voltas e para ter a sua fábrica em Famalicão teve de comprar uma outra em Lisboa, desactivá-la e transferi-la então para o local pretendido - Gavião.

Tudo correu melhor que o esperado e em 1990, já com a empresa a cargo dos seus herdeiros, as bolachas Vieira de Castro chegaram ao mercado japonês. "Para nós este primeiro passo foi muito importante. Tínhamos noção de que se tudo corresse bem ali, num mercado tão conservador, poderíamos entrar em qualquer outro", disse ao DN Raquel Vieira de Castro, neta do fundador.

E o futuro confirmou-o. Hoje estão já presentes em cerca de 40 países e em Portugal têm uma distribuição nacional. Logo depois do mercado português é o angolano que mais consome os produtos desta empresa de Vila Nova de Famalicão. Mas os responsáveis estimam que, no próximo ano, o Brasil passe a ser o mercado mais consumidor.

O sucesso desta PME portuguesa está sobretudo no respeito pelo consumidor. "Deixámos o paradigma de apresentar o que nós queremos, e há 10 anos que o nosso objectivo é produzir o que o consumidor procura", disse a responsável, concluindo que "é isto que torna a Vieira de Castro distinta das restantes empresas."

A estratégia é muito simples e passa, sobretudo, pela aposta em três áreas: diversificação de produtos, de clientes e de mercados. Segundo Raquel Vieira de Castro, só com esta atitude é possível atingir o êxito: "As empresas pequenas não se podem dar a luxos em países tão pequenos como o nosso." E é por isso que a internacionalização da marca continua a ser um dos principais focos, ainda que Portugal continue a ser o mercado prioritário. Ainda que das cerca de 12 mil toneladas produzidas durante este ano - entre bolachas, rebuçados e amêndoas - 55% já se destinar ao mercado externo, a Vieira de Castro quer exportar mais.

"Costumo dizer que nós seguimos os passos dos nossos antepassados, porque estamos a explorar locais onde os portugueses ainda não haviam chegado. E o mais importante disso, sobretudo no contexto actual, é o facto de nós exportarmos bolachas para importar dinheiro", disse a responsável, esboçando um sorriso.

Com duas unidades biscoiteiras e uma confeitaria (onde são feitos os rebuçados Flocos de Neve e as amêndoas) em Vila Nova de Famalicão, a Vieira de Castro não põem de parte a hipótese de abrir um novo complexo industrial num outro país: "Quando falo em internacionalizar a marca, falo em fortalecer a nossa posição a nível mundial e, com a nossa capacidade de investimento, não podemos rejeitar nunca o cenário de vir a produzir num outro país", lembrou.

Consciente de que a internacionalização não retira o apreço que a sua família tem por Portugal, esta neta do fundador garantiu ao DN que todos se esforçam por dar uma boa imagem do País: "Esforçamo-nos por levar, todos os dias, os melhores produtos para o estrangeiro. O reconhecimento deste trabalho tem chegado, anualmente, através de distinções como a PME excelência ou PME inovação." Mas não é só. A Vieira de Castro é agora uma das poucas marcas protegidas da cadeia de supermercados brasileira Pão de Açúcar. "Já nos pediram para que não haja quebras de stock nos nossos produtos, porque os seus clientes consideram que temos muita qualidade", concluiu.