20.12.11

Portugal precisa de mais apoio da Europa do que o previsto

in Jornal de Notícias

O economista José Silva Lopes defendeu, esta terça-feira, a necessidade de aumentar em mais do que o previsto o apoio financeiro avançado pela troika a Portugal, já que a situação piorou desde que o acordo de ajuda foi assinado.

Silva Lopes referiu que "com o estado actual da Europa, as coisas para Portugal já são muito piores do que eram quando se assinou o acordo com a troika".

"Na altura estávamos convencidos que as exportações iam crescer muito, mas com a crise que também existe noutros países, já vão crescer muito menos. E se crescer muito menos, não compensam os efeitos recessivos dos cortes nas despesas públicas e particulares", explicou o economista.

A necessidade de apoio continuado a Portugal foi também defendida, na passada segunda-feira, pelo vice-director geral do FMI, que sublinhou ser preciso "perseverança e determinação", "reformas estruturais" e um "apoio europeu continuado" para que Portugal seja bem sucedido.

No comunicado difundido, na passada segunda-feira à noite, o vice-director geral do FMI sublinhou ser preciso "perseverança e determinação", "reformas estruturais" e um "apoio europeu continuado" para que Portugal seja bem sucedido.

Segundo David Lipton, "até agora, foram alcançados bons progressos na adopção de políticas mas, dados os ventos fortes de deterioração do ambiente externo, é necessária perseverança e determinação para adoptar o programa orçamental ambicioso" e que, "essenciais, as reformas estruturais vão ser críticas, juntamente com o apoio europeu continuado".

"Quanto ao apoio europeu continuado não posso estar mais de acordo", sublinhou Silva Lopes, admitindo que "a necessidade de ajustamento pode ser inexequível".

Em relação às reformas estruturais necessárias, o economista julga que Portugal não se está a sair tão bem como o FMI esperava. "O Fundo quer que se façam reformas que estão no acordo com a troika, mas o Governo tem vindo a arrastar os pés nisso", comentou, acrescentando que "algumas das reformas são necessárias e ajustadas mas há muitas oposições e interesses".

Ainda assim, reconheceu Silva Lopes, "alguma coisa se está a fazer", alertando que é preciso saber "o que vai sair da reunião do Governo no domingo".

Para este economista, uma das reformas mais difíceis mas mais necessárias é a criação de "um sistema de controlo das Finanças Públicas que não permita mais desvios e buracos".

Outra das reformas defendidas por Silva Lopes é a da legislação laboral. "Eu aí não sou muito liberal, como o FMI pretende mas, por exemplo, os despedimentos individuais têm um sistema muito mais restritivo do que a média do resto da Europa e, portanto, é natural que nos aproximemos da Europa".

Mesmo assim, avisa o economista, as reformas estruturais demoram muito tempo a apresentar resultados. Por isso, "se não conseguirmos que nos dêem mais apoio e que as exportações cresçam, o nosso futuro ainda é mais negro do que era", concluiu.

O FMI terminou, na passada segunda-feira, a segunda revisão do desempenho de Portugal face às medidas acordadas com a troika (FMI, Banco Central Europeu e Comissão Europeia), o que permite o "pagamento imediato" de cerca de 2900 milhões de euros.