25.11.14

"Basta que me batas uma vez", mas ainda há quem aguente 50 anos

in Diário de Notícias

Associação de apoio à vítima lança ação de sensibilização pela eliminação da violência contra as mulheres. Em média, elas ficam seis anos em relações violentas.

Foram precisos mais de 50 anos numa relação de violência física e psicológica para uma mulher dizer basta. Aos 84 anos, "pediu ajuda a um polícia e foi para uma casa--abrigo", conta Daniel Cotrim, da APAV (Associação Portuguesa de Apoio à Vítima). Este é um caso extremo, mas que espelha a dificuldade que as mulheres têm muitas vezes em sair de uma relação de violência. Apesar de a média ter descido, elas ainda resistem seis a oito anos numa relação em que são vítimas dos seus companheiros (até 2012, a média era de 15 anos).

No Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres, que se assinala hoje, a APAV lembra que "a violência doméstica não acontece só quando há uma repetição dos atos". Por isso, lançou a ação de sensibilização "Basta que me batas uma vez", que passa pela partilha de selfies (fotografias tiradas a si mesmo) no Instagram com o mote na legenda e a hashtag #25novembro. "É preciso lembrar que a violência atinge mulheres de todas as idades e de todos os estratos sociais. E neste caso com a ação nas redes sociais pretendemos chegar a um público jovem e lembrá-lo que basta que me batas, me humilhes ou ameaces uma vez. A violência não é uma questão de repetição", explica o técnico da direção da APAV Daniel Cotrim.

Num ano em já morreram 31 mulheres às mãos dos companheiros, atuais ou anteriores, a associação aconselha as mulheres a porem um ponto final nas relações logo ao primeiro sinal de violência. Até há dois anos, "o tempo em que elas permaneciam na relação era de 15 anos, mas de há dois anos para cá desceu para os seis/oito anos", aponta Daniel Cotrim. Um sinal positivo, que ainda assim é insuficiente.