1.4.07

Álcool afecta 20 por cento da população do distrito

João Paulo Costa, in Jornal de Notícias

Dois em cada 10 residentes do distrito de Aveiro têm problemas com o álcool, revela um estudo efectuado por Aires Gameiro e Augusto Pinto, do Centro Regional de Alcoologia do Centro. São os mais recentes dados do distrito, adiantou, ao JN, o coordenador médico de Aveiro dos Problemas Ligados ao Álcool (PLA), José Bonifácio.

Segundo este cálculo, há 80 390 bebedores excessivos e 59 760 doentes alcoólicos no distrito. Um total superior a 140 mil homens e mulheres, o que equivale a cerca de 20% da população residente do distrito (713 575, revelam os Censos de 2001).

José Bonifácio concorda tratar-se de um número impressionante, mas que não surpreende os que trabalham nesta área, "a média do distrito de Aveiro não é muito inferior à do pais, os últimos estudos apontam para uma estimativa de 750 mil portugueses com síndroma de abuso do álcool e 600 mil doentes alcoólicos".

Um bebedor excessivo, do ponto de vista académico, "é aquele que bebe mais de dois copos de vinho por dia", explica José Bonifácio. Um alcoólico "é aquele que depende do álcool para ter um comportamento 'normal", ou seja, se não consumir apresenta distúrbios do ponto de vista físico, mental e social", refere o coordenador.

Os homens continuam a ser os maiores consumidores, mas as mulheres e os jovens bebem cada vez mais. O coordenador distrital dos PLA recorda que o último Inquérito Nacional de Saúde (1999) revela que 35% dos jovens dos 15 aos 17 anos, em Portugal Continental, declararam consumos.

No distrito de Aveiro, em 2005, surgiram 425 novos consumidores excessivos, refere Bonifácio. O grupo etário mais afectado pela doença situa-se entre os 41 e os 50 anos, com 161 casos (129 homens e 32 mulheres), seguindo-se os que têm mais de 51 anos (121 casos - 100 homens e 21 mulheres) e os 31-40 anos (120 - 96 homens e 24 mulheres). Dados provenientes das consultas de alcoologia existentes em 15 dos 19 municípios do distrito. Em 2005, este serviço médico não existia nos Centros de Saúde de Castelo de Paiva (abriu este ano), Estarreja, Oliveira do Bairro e S. João da Madeira. Um quadro que se mantém, mas que poderá mudar, em 2007, em S. João da Madeira e Oliveira do Bairro, adianta José Bonifácio.

Exemplo de recuperação

Em 2003, cada português consumia em média, por ano, 42 litros de vinho, 58,7 litros de cerveja e 1,4 litros de bebidas espirituosas. Guilherme, 48 anos, residente em Albergaria, durante anos consumiu muito acima da média. "Bebia um litro de vinho ao almoço, outro litro ao jantar e, ao longo do dia, bebia, pelo menos, meia dúzia de cervejas", lembra ao JN.

Este empregado fabril não se lembra ao certo quando começou a beber. Mas sabe que a partir dos 30 anos começou a fazê-lo de forma mais excessiva. Diz que o álcool nunca lhe trouxe problemas sociais, "não me divorciei por causa da bebida, nem nunca entrei em confusões graves", mas apercebeu-se que "aquilo não era vida", nem um exemplo para o filho, hoje com 22 anos, emigrante em Inglaterra.

Em Outubro de 2001 decidiu curar-se. Foi ao médico de família, passando a ser tratado por José Bonifácio. "Há mais de cinco anos que não bebo uma gota de álcool", diz com orgulho. Guilherme sabe que um alcoólico nunca está tratado. Agora vai à consulta uma vez por ano. "Um momento de fraqueza, um copo e estrago tudo", admite.

A vida de Guilherme mudou. Em cinco anos tirei a carta, comprei um carro e uma casa, tudo isto com o dinheiro que eu gastava no álcool, era ganha e gasta, uma tristeza", reconhece.