12.5.07

Comércio justo sem intermediários

Céu Neves, in Diário de Notícias

Sem Terra. Produtor brasileiro está em Portugal para dizer como conseguem salário justo


Luiz Sales, natural do Paraná, Brasil, 39 anos, casado, dois filhos, pertence ao Movimento Sem Terra (MST) e ocupou um terreno (18 hectares), como toda a sua família (pais e seis irmãos). Está em Portugal para participar no Fórum de Comércio Justo, iniciado ontem e que irá decorrer até domingo no Jardim da Estrela, em Lisboa. O lema dos organiza-dores é: "Pagar o real valor dos produtos e sem intermediários."

"A vida dos brasileiros é muito difícil. O MST tem 13 mil famílias "assentadas" [os sem-terra que ocuparam terrenos] no Paraná e mais oito mil famílias acampadas que ainda não foram beneficiadas pela reforma agrária. Retiramos as pessoas da exploração do latifundiário para que consigam viver numa sociedade melhor, dando-lhes melhores condições, educação, saúde e formação. O comércio justo faz parte da ideologia do movimento", explica Luiz Sales, responsável pela produção de chá de erva-mate da Cooperativa Central da Reforma Agrária do Paraná (CCA).

A CCA presta acompanhamento técnico e comercializa os produtos dos "assentados" e dos pequenos agricultores. "As pessoas sabem que não são exploradas. Podem conseguir um rendimento mensal de mil reais (cerca de 360 euros), o que é três vezes mais do que ganhariam como empregados", diz Luiz Sales.

O MST foi criado em 1984 e tem 300 mil famílias colocadas e mais 600 mil à espera. Há uma taxa de 10% de desistências, sobretudo urbanos que não se adaptam à vida do campo.

O Fórum é organizado pela Cores do Globo e é o culminar do projecto "Consumo responsável em Portugal, escolha ética para um futuro sustentável". A associação tem uma loja de comércio justo em Lisboa (há 11 em Portugal). Um local onde tudo se vende, já que não estão preocupados com o tipo de artigos, mas com a forma como são adquiridos. Sandra Oliveira, voluntária, garante que os artigos não são mais caros e que os da agricultura biológica até são mais baratos que nas lojas da especialidade. O consumidor português é que ainda não aderiu.