João Manuel Rocha e Sérgio Aníbal, in Jornal Público
A aceleração da actividade económica no primeiro trimestre deste ano não evitou uma nova subida da taxa de desemprego, que atinge já os 8,4 por cento.
A situação mais grave é a que se regista nos jovens
Depois de no início da semana ter dado a conhecer que a economia portuguesa acelerou no primeiro trimestre para um valor acima dos dois por cento, ontem, o Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgou os números de desemprego referentes aos primeiros três meses de 2007: o número de desempregados voltou a aumentar e para encontrar um valor superior ao anunciado ontem é preciso recuar 21 anos, mais precisamente, até ao segundo trimestre de 1986.
Os números mostram, assim, que Portugal tinha 469.900 desempregados no final do primeiro trimestre deste ano, número que representa uma taxa de desemprego de 8,4 por cento, mais 0,7 pontos percentuais do que no mesmo período do ano passado e mais 0,2 pontos acima do último trimestre de 2006. Mas as estatísticas divulgadas mostram também que o actual ritmo de crescimento económico, apesar de estar em aceleração, não é ainda suficiente para alimentar uma descida do desemprego.
Desagregando os números ontem divulgados, verifica-se, por outro lado, que o desemprego não afecta todos de igual forma e a situação mais grave é a que se verifica na população entre os 15 e os 24 anos, com uma taxa de desemprego de 18,1 por cento, um valor que representa um aumento face aos 15,7 por cento registados no período homólogo e aos 17,9 por cento do final de 2006.
A subida do desemprego anunciada ontem explica-se mais por um fenómeno de incapacidade de arranjar emprego do que perdas de postos de trabalho. A análise dos fluxos do mercado de trabalho mostra que das cerca de 165 mil pessoas que entraram na vida activa, apenas 65 mil conseguiram emprego. As outras cerca de cem mil engrossaram o lote de desempregados.
Como varia o desemprego
De acordo com o INE, o aumento de desemprego face ao trimestre anterior resulta do efeito conjugado do aumento da população desempregada (2,5 por cento, abrangendo 11.300 pessoas), acompanhado por um decréscimo da população empregada (0,1 por cento, abrangendo 7100 pessoas).
A variação do desemprego entre os primeiros trimestres de 2006 e 2007 é explicada essencialmente pelo aumento do desemprego nalguns grupos bem identificados: mulheres, indivíduos com idade entre os 25 e os 34 anos, pessoas com habilitações que não vão além do 9.º ano de escolaridade, os que estão à procura de novo emprego - sobretudo oriundos das áreas da indústria, construção, energia e água -, e os que procuram novo trabalho há seis meses ou menos. Em números absolutos, no caso das mulheres deu-se um aumento de 23.500 desempregadas (contra 16.600 homens), entre os mais jovens o número de desempregados aumentou 20.400.
No primeiro trimestre deste ano, as taxas de desemprego mais elevadas foram registadas nas regiões Norte e Alentejo (9,5 por cento em ambos os casos) e Lisboa (8,8 por cento). Os valores mais baixos foram verificados nos Açores (4,7 por cento) e no Centro (6,7 por cento). Face ao trimestre homólogo, nota-se um acréscimo em todas as regiões, excepto no Alentejo, onde se registou uma descida de 0,3 pontos percentuais. A maior subida aconteceu na Madeira (2,3 pontos percentuais que empurraram a taxa para 6,9 por cento).
Numa reacção aos indicadores ontem divulgados, o ministro do Trabalho, Vieira da Silva, disse à Lusa que há dados que contrariam a tendência de aumento do desemprego mostrada pelo INE e que, a manter-se a aceleração do crescimento económico, Portugal está em condições de conter e começar a reduzir o desemprego. Este problema é "uma preocupação da sociedade e do Governo", mas há "dados recentemente divulgados que mostram um sentido contrário" aos elementos do INE e que apontam para "alguma recuperação", acrescentou.