António Marujo, in Jornal Público
Meia centena de misericórdias irá investir na criação de mais um milhar de camas da Rede de Cuidados Continuados, disse ontem ao PÚBLICO o presidente da União das Misericórdias Portuguesas (UMP), Manuel de Lemos. Com este crescimento, a rede nacional passará a contar com cerca de 2500 camas. Do total, quase 1800 serão das misericórdias. Hoje, inicia-se em Braga o VIII Congresso Nacional das Misericórdias.
Manuel de Lemos insiste na ideia de que os cuidados continuados não são apenas as camas. "Inclui-se também o apoio domiciliário, que tem de ser pensado de outra forma, a alimentação e a saúde." A entrada de mais 50 misericórdias na rede - actualmente são 28, com cerca de 800 camas - significa que os serviços prestados terão de "manter a mesma capacidade e qualidade", diz o presidente da UMP.
"As misericórdias são instituições com 500 anos no sector social, mas têm capacidade de se modernizar", assegura Manuel de Lemos. "O que vamos fazer é dizer à sociedade e ao Estado que somos úteis ao país, não vamos exigir nada." Nem mesmo a actualização dos valores de comparticipação do Estado? Lemos diz que o congresso não é o lugar para tal. "Os valores são objecto de negociação, não são para falar no congresso."
Mesmo assim, o presidente da UMP diz que não há conflito, sobre a questão, entre as misericórdias e o executivo. "Temos tido um diálogo aberto com o Governo."
Na relação com as câmaras municipais, outro dos temas do congresso, o presidente da UMP diz que as misericórdias estão atentas à questão das transferências de competências para as autarquias. Conta que, recentemente, o ministro da Saúde deu o exemplo do hospital de Valongo como um dos que poderiam ser geridos pela autarquia.
"Porque não transferi-lo para a proprietária, que é a Misericórdia? As misericórdias já gerem 20 hospitais e há outros 30 propriedade das misericórdias e que ainda estão no Serviço Nacional de Saúde. E as autarquias nunca geriram hospitais", contesta Manuel de Lemos. Dá como exemplo o de Santo António, no Porto, e o de São Marcos, em Braga, que são das misericórdias locais mas estão integrados no SNS. "Antes que haja transferência, estamos a marcar terreno."
O congresso decorre até sábado e debaterá ainda a organização interna destas instituições sociais. As 400 misericórdias do país dão emprego directo a cerca de 50 mil pessoas.