5.1.11

Cantinas vão dar lanches e pequenos-almoços

por Amadeu Araújo, in Diário de Notícias

Os municípios vão reforçar o papel das cantinas escolares, que vão estar abertas mais vezes para combater as situações de carência económica. Depois da abertura durante os fins-de-semana e as férias, o próximo passo é o reforço da distribuição de lanches e pequenos- -almoços para combater a fome entre a população escolar, em que muitos alunos têm na escola a única refeição do dia.

No concelho de São João da Madeira, 450 alunos alimentaram-se nas cantinas escolares durante as férias do Natal. O município foi um dos que manteve as cantinas abertas em período de férias e assumiu que muitos dos alunos que usam os refeitórios escolares "são oriundos de famílias carenciadas". Num concelho que tem elevados níveis de desemprego, a medida não foi inovadora. "Desde há muitos anos que mantemos abertas as cantinas em época de férias", contou Paulo Bragança, da autarquia.

O exemplo foi seguido de norte a sul do País e, segundo o vice-presidente da Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP), responsável pela educação, "as autarquias estão atentas e todas reforçaram os orçamentos da acção social escolar para ajudar a minorar as situações de carência económica. Há muitas famílias de bolsos vazios e crianças com quase nada no estômago e é preciso ajudar". António Ganhão garantiu que "nenhuma câmara deixará de ajudar as pessoas, seja com as cantinas das escolas abertas ou de outras formas, apesar de o Governo ter cortado nas verbas disponíveis para os municípios".

O autarca adiantou que o número de alunos que fez as refeições nas cantinas escolares durante as férias "ainda não está contabilizado", mas garantiu que a medida "é para continuar porque há cada vez mais alunos em situação de carência e que têm na escola, em muitos casos, a única refeição do dia".

Em Gaia foram 5000 os alunos que se serviram das cantinas escolares para as refeições e o concelho vai mesmo avançar para a distribuição de pequenos-almoços e lanches. "É um projecto-piloto para criar hábitos de educação alimentar, mas que vai permitir dar uma ajuda às crianças em dificuldades, e são muitas", disse o presidente da Confederação Nacional de Pais (Confap), que é parceira da autarquia na iniciativa.

Albino Almeida contou que "os alunos do escalão de rendimentos mais baixo não pagam enquanto os dos outros escalões pagarão um montante que não irá além dos 10 euros mês". Um exemplo que o dirigente espera ver "seguido noutros concelhos porque há famílias, com a perda dos abonos, a gastar apenas um euro por dia e por pessoa em alimentação, o que faz com que muitas crianças apenas comam nas escolas. Se as câmaras estão disponíveis para ajudar tanto melhor, porque é um drama cada vez mais recorrente", concluiu.

Os professores confirmam que "estão a aumentar o número de situações em que as crianças chegam à escola com fome", revelou a Fenprof. Francisco Almeida frisou que "há cada vez mais relatos dos professores a alertar para situações de subnutrição das crianças". Para "minorar" esses casos, "que derivam da profunda crise porque passa o País", António Ganhão garantiu que os municípios "vão reforçar o papel das cantinas escolares, que passarão a estar abertas mais vezes, no combate às situações de carência económica para que nenhum aluno passe fome".