Paulo Miguel Madeira, in Jornal Público
INE muda inquérito ao emprego e inviabiliza comparações históricas
O Instituto Nacional de Estatística (INE) está a introduzir alterações no seu inquérito ao emprego que implicam uma ruptura da série de dados, inviabilizando comparações directas por exemplo da taxa desemprego, sem saber qual o efeito estatístico que isso terá.
As alterações vão fazer-se sentir já nos dados relativos ao primeiro trimestre de 2011 e envolvem a inquirição por telefone, quando até agora era exclusivamente presencial, e também uma "racionalização do conteúdo" do questionário, que inclui a "adopção integral das orientações entretanto emanadas nos regulamentos comunitários".
Estas alterações "não inviabilizam", no entanto, a leitura das grandes tendências de médio e de longo prazo, explicou ontem a presidente do Conselho Directivo do INE, Alda Caetano Carvalho, numa conferência de imprensa. Reconhecendo que o tratamento da quebra de série é "importante e necessário", a mesma responsável disse que não sabe quando haverá ideia do efeito estatístico que ela implica, o qual será calculado à medida que foram saindo os novos dados.
A inviabilização de comparações directas implica que quando saírem os dados do desemprego relativos ao primeiro trimestre deste ano eles não poderão ser comparados com os do primeiro trimestre do ano anterior, nem com os do último trimestre de 2010 (que deverão ser conhecidos em Fevereiro). No limite, poderá não se perceber se o desemprego aumenta ou diminui de um trimestre para o outro. Os dados do segundo trimestre deste ano já poderão ser comparados com os do primeiro; e os do primeiro trimestre de 2012 com os deste ano.
Alda Carvalho enfatizou ainda que a decisão, que produz efeitos quando o desemprego está num máximo histórico, decorre de trabalhos iniciados em 2006 e que é apenas "técnica", tendo recordado o estatuto de independência do INE face ao Governo, e independente da conjuntura.
A mesma responsável justificou que não se conduza em simultâneo inquéritos com o método antigo e com o novo, que permitiria avaliar de imediato o efeito estatístico da quebra de série, com os custos que isso implicaria, os quais não quantificou. Explicou, no entanto, que o inquérito ao emprego é feito por agregados familiares, os quais permanecem na amostra durante seis trimestres. Mesmo com o novo método, o primeiro contacto será presencial, com entrevistador do INE, e só os seguintes por telefone (incluindo a opção por telemóvel).