6.1.11

UE critica projecto de muro na Grécia para travar imigração que entra pela Turquia

Por Maria João Guimarães, in Jornal Público

Atenas diz que o fluxo de entrada de imigrantes ilegais, africanos e asiáticos vindos da Turquia, se tornou insustentável e quer travar este fluxo com uma barreira

A Grécia anunciou a construção de um muro em parte da sua fronteira com a Turquia para impedir a passagem de imigrantes ilegais, uma medida que a União Europeia recebeu com frieza e que críticos acusam de reforçar a imagem de um clube europeu elitista.

Mas Atenas queixa-se que o fluxo de entrada de migrantes no território se tornou "insustentável". "A sociedade grega ultrapassou o limite da sua capacidade de acomodar imigrantes ilegais", afirmou o ministro da Ordem Pública, Christos Papoutsis, lembrando que mais de 100 milpessoas entraram ilegalmente na Grécia no ano passado, 40 mil das quais no local onde pretende construir a barreira. Segundo a agência que controla as fronteiras da UE, a Frontex, o número de entradas ilegais na fronteira Norte da Grécia aumentou 369 por cento até Setembro de 2010 comparando com o mesmo período no ano anterior.

Para além do muro de três metros de altura e uma extensão de 12,8 quilómetros, a Grécia anunciou ainda um reforço das patrulhas marítimas na sua longa extensão costeira.

A Frontex estima ainda que actualmente, depois do reforço do patrulhamento em Itália e Espanha e dos acordos recentes de repatriamento feitos por estes países, 90 por cento dos imigrantes ilegais que chegam ao espaço Schengen o façam através da Grécia.

A UE deslocou 175 guardas fronteiriços armados em Novembro para ajudar a Grécia a lidar com esta entrada de imigrantes e afirmou há duas semanas que iria estender a presença da missão até Março.

Em relação ao anúncio do muro, a Comissão Europeia diz, no entanto, que barreiras físicas são "medidas de curto prazo que não permitem atacar a imigração ilegal de um modo estrutural", segundo um porta-voz, Michele Cercone, citado pela emissora britânica BBC. "Dissemos claramente à Grécia que o país precisa de reformas estruturais e medidas para gerir melhor a sua fronteira, para lidar melhor com os desafios dos fluxos migratórios."

A questão da imigração ilegal tem sido um espinho atravessado entre Bruxelas e Atenas: a Grécia queixa-se de ter pouco apoio para gerir a entrada de imigrantes ilegais dos Vinte e Sete, enquanto a Comissão já criticou o panorama dos centros de acolhimento, cujas condições são arrasadas em relatórios de organizações de defesa dos direitos humanos. A ONU classificou-os mesmo como "desumanos" e "degradantes" e alguns países, como o Reino Unido ou a Itália, já nem reenviam para território grego, pela falta de condições, imigrantes nos seus países que tenham entrado pela Grécia.

Outros críticos do muro notam que este pode ser visto como um símbolo da oposição de alguns países europeus à entrada da Turquia na UE. De facto, a imprensa turca reagiu criticando este aspecto: "É quase como se os países europeus que não querem a adesão da Turquia [...] estivessem desesperadamente a procurar mais medidas exclusionistas", diz um comentário num dos maiores diários turcos, Today"s Zaman. "Este muro simboliza uma coisa apenas - a declaração física de que a Turquia está fora da Europa."